29.11.17
Recordo-me de tantos rostos, de tantas vozes...
Revejo em mim tanta gente, pessoas que encontrei neste destino sem fim, que percorreram por um momento o mesmo caminho que eu, que a minha alma.
A noite cai...
Chega...
Despudorada.
Sentado na janela da minha sala, sala de estar, observo as estrelas ausentes, o brilho que se esconde por entre as nuvens que teimam em cobrir esse céu.
Uma e outra luz que se acendem, brilham nas janelas, como deveriam as estrelas brilhar nos céus...
São vidas em caixas, cubículos compartimentados, impregnados de sorrisos e lágrimas, de gentes e pensamentos, alegrias e desgostos.
Tantas e tantas vidas percorrendo os seus destinos, pais e filhos, avós e netos, jovens ou velhos...
A noite cai...
O dia finda.
E continua a correr o tempo, continua a soltar-se o infinito, por entre os que morrendo desaparecem, os que nascem irrompendo, os que permanecem...
Permanecendo.
Revejo em mim tantos rostos, tantas vozes...
Tantas vidas passadas, reencontradas nesta, somente nesta, certeza única.
A noite teima em cair...
O radio continua a tocar, a janela aberta continua deixando o frio entrar, enquanto observo o céu, buscando imperfeitamente as razões para que o meu coração continue a bater descompassadamente.
A vida continua...
E vida após vida, buscarei reencontrar-te.
Filipe Vaz Correia