Velha "Alma"...
Chuva molhada que cai melodiosa, numa esplendorosa forma de poesia...
Mas o velho chora.
Enquanto cai e torna a cair, essa chuva abençoada parece transformar-se nas lágrimas poéticas, de um qualquer "divino" Deus...
Mas continua o velho a chorar.
Do lado de dentro da janela parece bela a pequena miragem, qual aguarela em forma de canção, tendo os pingos da chuva como o batuque de um tambor...
E só o velho chora.
Os trovões e raios chegam de soslaio, encantando o céu, amarrando sem véu a esperança de um poeta.
Porque, tanto, chora o velho?
De encontro à janela, onde se escondem os curiosos olhos, teus, desaparecem os pedaços de água que atrevidamente despencam desse céu, calado, envergonhado, desesperadamente desesperado por dar lógica a tamanhas interrogações...
Quem sois?
Quem foste tu, triste velho?
Continua a chover, talvez sem saber que molhado fica aquele rosto, marcado, enrugado, enregelado, estremecido por tantas memórias, contidas histórias, traços e feridas de um tempo.
Esse tempo correu...
Findou.
Mas com ele regressou um singelo vento, apressando o presente rumo ao futuro, tornando ausente esse mesmo presente, agora passado.
Esse velho ficou lá atrás...
Perdido nas linhas e traços de textos que outrora foram vida, que se foram embora sem esperar.
Esse velho sou eu...
Ou o que sobrou, do que outrora fui.
Filipe Vaz Correia