04.03.18
No meio da estrada, caminhando intensamente, se escondia aquele receio que insistia em segredar, o mesmo medo segredado que voltava a amarrar a alma, pertencente a tal viajante.
Numa viagem infindável, sem fim, sem chegar, que desmedidamente se aproximava do céu...
O mesmo céu que nos cobre, nos envolve, nos completa, repleto de esperança e amargura, sonho e loucura, hesitação e desventura.
Essa mesma vontade de ser fiel, leal ao que se esconde no coração, ao que sente o pequeno pedaço de nós que se mantém desnudado de disfarces.
Nesse entretanto que é a vida, se vão perdendo momentos, se vão calando sentimentos, se vão desvanecendo abraços, perdidos eternamente por entre a maquilhagem imposta.
Nesse mesmo entretanto de tempo que não volta, vai escapando a vida, aquela que se torna presente, ausente passado que amarra a gigantesca forma de vida.
Quantas vidas me bastarão?
E quantas me bastaram?
Quanta vezes se amarrou o desejado reencontro?
E quantas vezes irá voltar a acontecer?
Talvez nada...
Talvez nunca.
Talvez se desvaneça esse encontro, reencontro desencontrado que nunca deveria ter acontecido mas que acontecendo numa espécie de adeus, se torna no definitivo desprendimento da amargurada alma, desapontadamente entregue.
E talvez seja chegada a hora de libertadamente esquecer, esquecendo finalmente o que há muito deveria ter sido esquecido, meio perdido por entre o inebriante olhar.
Pois ninguém escolhe quem ama...
Ninguém pede para amar, nesse cruzamento infindável de tamanhas memórias desabitadas, vazias.
Não valeu a pena...
Mas voltaria a tentar que valesse.
Pois só assim poderia saber que não tinha valido a pena.
Filipe Vaz Correia