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Caneca de Letras

09.09.21

 

 

 

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Corro e corro sem parar;

como se o fôlego não tivesse fim

e continuo a caminhar

a caminhar em busca de mim.

 

Corro como se estivesse numa maratona;

numa estrada infinita

por entre miragens e delírios

rosas e lírios.

 

Corro sem esperança;

há muito perdida nos versos de Caetano ou Cazuza,

ao mesmo tempo que o meu coração balança

balançando por entre os versos de uma abstracta poesia.

 

Corro...

sem fim à vista.

 

 

06.05.21

 

 

 

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A lareira acesa...

A noite que cairia e eu ali sentado, no mesmo sitio de sempre, por entre, o infinito vazio.

Esse vazio que respira e se faz sentir, nesta casa outrora repleta de gritos e movimentos, de calor humano e alegria.

Ainda aqui estou...

Só.

A velha manta ao meu colo, repleta de buracos de cinza ardida, destes cigarros que continuam a ser o laço que me une a esse passado.

O copo de Whisky a meu lado...

A luz do candeeiro, o rádio ligado enquanto as mãos me tremem, tremendo cada vez mais.

Como passou tão depressa...

Como passou?

Oiço as mesmas canções, melodias que significaram tanto, tamanho querer que desvaneceu.

Os meus olhos cansados já não conseguem discernir as letras do jornal sem a ajuda de uma lupa, para me manter informado das novas que o mundo tem para contar, esse mundo que tanto mudou, se transformou, radicalmente se transmutou.

Faltam-me as forças, aquelas que antigamente me sobravam, num entrelaçado enigma em que se pincelou a minha vida.

Foram ficando para trás todos os momentos, rostos e pensamentos, até sobrar este nada que tanto significa, tanto abrange, tanto me sufoca.

É a ele, este nada, que me agarro com todas as forças para viver, num desconexo, incompreensível e inexplicável querer.

O meu coração já não pulsa, somente soluça, aqui e acolá enganado por uma ou outra pastilha receitada pelo Senhor Doutor...

Doutor?

Agora são todos “Doutores”...

Desde a empregada doméstica até ao moço dos jornais.

Não percebo nada deste mundo...

Aqui estou rodeado de retratos e rostos, feridas abertas em meu peito, dores e aflições que chegam e partem silenciosamente.

Já vos perdi, sem nunca me ter apercebido de vos ter tido...

Era tudo tão corrido, mesmo os jantares, mesas repletas, nessa azáfama que desassombradamente me escapou.

A lareira acesa...

Tenho tanto frio, tanto sono, tanto medo.

Já não sei escrever nem decorar o saber, perdido que me encontro neste labirinto de emoções que me persegue.

Para onde foram os amigos?

Os filhos?

E tu meu amor...

Para onde foste?

Todos partiram para esse lugar incerto, tantas vezes explanado na fé, essa que me foi abandonando à medida que só me encontrava, nesse desabitado coração meu...

Estou solitariamente entregue a este refúgio, nesta sala, neste museu de relíquias minhas, empoeiradas e amordaçadamente sombrias.

Estou só...

À espera de partir, de finalmente sentir esse encontro prometido na infinita sabedoria de Deus.

Deus?

Só espero que também Tu, não me tenhas abandonado...

Deus Meu.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

29.04.21

 

 

 

O mundo visto a cores ou as cores que se transformam em preto, branco, nada...

Estava a tomar o pequeno almoço, tardio, quando chegou um grupo de três meninas e um cão.

Olhei enquanto escrevia uma ou outra palavra, num texto que acabaria por apagar...

E ali, num segundo, o meu maior medo, não sei se maior mas um dos mais antigos, se dispunha diante do meu olhar, num quadro transparente de um vazio assustador.

A cegueira!

Uma daquelas meninas, jovem senhora para ser exacto, era invisual, completamente amarrada a esse mundo que parecia não lhe toldar o caminho, impossibilitar o destino, prender o passar do tempo que lhe pertence.

Não consegui deixar de estar atento aos pormenores, numa espécie de atracção pelo absoluto medo que desde criança sempre me perseguiu.

O cão, um labrador preto, ali estava, deitado a seus pés, impecavelmente comportado, parecendo saber, antecipadamente, cada movimento...

O pé que balançava, a mão que amiúde o acarinhava ou até o preciso instante em que lhe dariam o tiro de partida.

Olhei para ela com esse misto de admiração e receio, admirando cada pedaço de normalidade traduzida em seu rosto, plasmada em cada palavra por si trauteada e ao mesmo tempo esse receio pelo medo que sempre senti...

Existe uma coragem naqueles gestos, uma ternura na extensão de um olhar amarrado àquele animal que se transforma no porto seguro do destino de alguém.

Não pude deixar de olhar, de sentir, de escrever...

Escrever sem parar, retratando aquele ardor triste, aquele corajoso cenário de uma beleza sem fim.

Neste entrelaçar que une aquelas duas vidas, Cão e Menina, resiste a mais bela conjugação de cores, desenhadas na imaginativa imaginação de um conto...

De uma vida.

Levantaram-se e partiram, de “mãos” dadas, enquanto o meu olhar os acompanhava nesse rumo infinito pelo Campo Pequeno, num quadro tão intenso como a imensidão desse mundo que só a eles pertencerá.

Tantas cores e sonhos que desconhecemos conhecer...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

24.02.21

 

 

 

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Boa noite...

Palavras ao vento nesse tormento que me persegue, que amiúde busca essa inquietude própria dos mortais, mortais almas que na inquietude se reencontram.

Se nas entrelinhas da História podemos amarrar partes da essência perdida, será nos teus olhos, desencontrados olhos que se reescreve a verdadeira certeza, de uma absoluta incerteza, de um amor.

É crua a natureza Humana, cruel o desapegado amor que infinitamente brilhará, na despedida certeira, na partida imposta.

Todos nós estamos entregues a esse mistério que nos permite colorir o dia, essa repetida existência que nos cobre, que nos alimenta, que nos ensombra.

Seremos nós a repetição de tamanhos destinos?

Viajaremos nós por entre as nuvens e o sol numa incompleta dança de almas e expectativas?

Quantos reencontros...

Voltas e desencontros marcarão os nossos destinos?

Serei eu uma repetição de mim mesmo?

Seremos nós uma pequena partícula de algo maior?

E as nossas almas...

Viajarão sem regresso a esse intemporal regressar para os braços daqueles que por entre séculos nos pertenceram?

Fará sentido?

Angústias terrenas em dilemas existenciais, pedaços de contradições numa tela maior, de um quadro abrangente que nos completa...

Regresso sempre a Cazuza, sempre ele, um dos que me pertenceram através de suas palavras, dos seus poemas, de sua voz, meio loucura meio ternura.

Se o tempo não pára, a vida louca, louca, percorrendo os blues da piedade, nesse Brasil, mundo, que se torna parte do "seu" show...

"Cazuza dixit"

Se tudo isto fizer sentido e nos reencontrarmos sem senão, se sim ou não, porventura faltará razão à dita razão que nos espartilha e amarra, por entre, dogmas e escrituras.

Receios e anseios, em partituras de uma canção, livre e liberta, desamarrada expressão uma oitava acima.

Anseio os reencontros perdidos, receio os perdidos reencontros, numa tela de Leonardo, num rascunho de Camões, na voz de Vinícius...

Tudo e nada, numa aguarela gigante à beira de um rio.

Por que morrer não dói, como escreveu Cazuza...

Mas amar, por entre séculos, dói imensamente.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

20.01.21

 

 

 

As palavras nesta carta;

Que te escrevo;

Escrevinhando com a alma,

A desdita de uma vida...

 

De um destinado destino,

Descrito de maneira indescritível,

Lágrima sem tino,

Desenho inexplicável...

 

Sincera forma de amar,

Perdida por entre segredos,

Amargura a guardar,

Os receios e medos...

 

Porque nesta estranha forma de dor;

Aprisionado doer,

Sobra tinta neste amor,

Nessa estranha forma de escrever...

 

E escrevinhando;

Sem parar,

Libertando,

Sem calar,

As letras pequenas em mim mesmo,

Me reinvento,

Reinventando,

Esta estranha forma de viver....

 

Que vive em mim.

 

 

 

16.10.20

 

 

 

Todas as noites na mesma rua;

Tantos homens nessa esquina

Numa vontade nua

De te ver...

 

De te querer, desejar;

De te terem por um momento

Esse dinheiro a pagar

Pelo teu sofrimento...

 

Tantas noites nesse lugar;

Onde te vendes, mulher,

Vendo a vida a passar

Ou o que dela te restou...

 

Envergonhada, esventrada, esquartejada;

Nesse corpo vazio

Porque essa alma abandonada

Já partiu, desistiu...

 

Assim despida, ferida;

Entregue ao seu destino

Ao som de uma palavra...

 

Puta.

 

 

15.10.20

 

 

 

Sempre tive medo de te perder;

Sempre tive medo de crescer

Sempre tive medo, esse ter...

 

De não saber caminhar;

De enfrentar esse sol a nascer

Esse rumo a escolher...

 

De me perder na encruzilhada;

Não conseguir encontrar essa estrada

Tive medo, do nada...

 

Sempre tive medo;

De enfrentar o mundo sem ti

De caminhar sozinho...

 

Porque o mundo é meu;

Mas o meu mundo...

 

És tu.

 

 

16.04.20

 

Não te escondas de mim futuro, entrelaçado medo que percorre minhas veias, numa escuridão tão imensa como o bater da alma, desnudada, perdida...

No meio destes corredores o pânico, ao mesmo tempo que se sente o querer de todos, de todos aqueles que lutam, desesperadamente lutam, por resgatar dos mortos, vidas, rostos, gente.

Nos olhos a pressa, essa corrida contra o tempo, num tempo desconhecido em terra de ninguém, onde alguém solitariamente olha em volta, sem volta, à volta.

Sento-me num pedaço de colchão num recanto de nada, porque neste caso um nada pode ser tudo, esse todo de um tudo que se transforma em vazio, num frio que percorre a espinha, num arrepio imenso, tão intenso como gélido.

Não consigo pedir, orar...

Não consigo rezar por entre as lágrimas de sangue amarradas a este filme.

Nada é profundamente Humano quando nos confrontamos com a morte, nada é Humanamente maior do que esse moribundo momento, no calafrio dos números, numerosos amontoados de horror.

Corredores e mais corredores, máscaras e máscaras, rostos tapados, vozes ao longe...

No que nos transformámos?

O que nos sobrou nesse inferno que nos chegou, por entre, dias e meses inverosímeis?

Somos gente...

Somos alma...

Somos nada.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

11.04.20

 

Passou tanto tempo;

Depressa,

Tão pouco tempo,

Com tanta pressa,

Tantos e tantos dias,

Num instante,

Como se nada fosse importante,

Tudo fosse relativo,

E esta vida, minha,

Nada significasse.

 

Tantas certezas;

Que agora não importam,

Tantos pensamentos,

Que desvaneceram,

Tantas caras e rostos,

Que desapareceram,

Assim...

 

Num ápice.

 

Já não tenho Pai nem Mãe,

Perdi Amor e Amigos,

Família e abraços,

Perdidos em antigos regaços,

Pincelados no esquecimento.

 

O que sobra?

 

O que sobra de mim?

Dos meus sonhos,

Das minhas desassombradas vontades,

Agora submersas nesta demência que me persegue...

 

Sobrou ar e pó;

Sorrisos e lágrimas,

Um estranho nó,

Que acentua a solidão.

 

Passou tanto tempo;

Tão pouco tempo,

E em cada momento,

Me esqueci de sorrir.

 

 

08.04.20

 

Ousam voar das entranhas da indecisão;

Mortos e mortos para a ribalta dos jornais,

Vociferando a impotência,

Nossa, enquanto, animais...

 

Somos pó e vento;

Pedaços de nada em forma de gente,

Num sopro o tormento,

Num instante que se sente...

 

Caminhamos parados,

Trancados em casa,

Perplexos, embasbacados,

Como um pássaro sem asa...

 

Volta, volta vida;

Do lugar para onde partiste,

Sara, sara ferida,

Cala a dor que ainda subsiste...

 

E do fim de tamanho terror;

Que consigamos alguma coisa aprender,

Que este medo não fique torpor,

E a morte não seja somente morrer.

 

 

 

 

 

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