Abeiro-me à distância, escondido, envolvido pela neblina que se descerrou sobre o passado que um dia nos ligou...
Tão distante...
Tão nosso.
Vislumbro-te à distância nestas recordações, nos olhares presos ao coração que algures no tempo nos pertenceu...
Foi nosso.
Através daquelas árvores, daquelas pessoas, daquele constrangedor momento, recuo dezenas de anos, uma vida, até à encruzilhada maior que nos haveria de separar para sempre...
Tantas perguntas, me acometem, me perseguem, sem saber se a ti também...
Se também os medos, os desejos, te perseguem da mesma maneira?
Como permaneces bela, discretamente bela, depois de uma eternidade nos ter ultrapassado no tempo, nos ter transformado em resquícios do que um dia fomos, nesse momento que existiu em nós.
Caminhos diferentes prosseguimos, destinos diferentes percorremos, rumos diferentes tomamos, sem saber como isso mudaria tudo...
Os cabelos brancos que já não conseguem esconder, o tempo, a lentidão dos passos, que não conseguem disfarçar a idade, tudo aquilo, que para trás ficou.
E aqui permaneço, escondido, ao longe, secretamente sonhando com a realidade inexistente, com aquele beijo gravado na memória, entrelaçado às promessas que naquela noite trocámos, sem saber que seria a derradeira, mesmo tendo sido a primeira...
Como ainda tremo, em tua presença, com o receio de cruzar contigo o olhar e por um instante regressar, sem voltar verdadeiramente, àquele menino cheio de esperança na alma, de querença no coração, de vontade e determinação no querer.
E assim, volto as costas, parto outra vez, sem falar, sem me aproximar, sem saber se também um dia sonhaste com os destinos que ficaram por cumprir.
E devagar, devagarinho, procuro nas recordações, essa vida que me fugiu...
Que nos fugiu...
Sem nunca chegar.
Filipe Vaz Correia