01.04.21
As luzes do palco ligadas...
A sala cheia, repleta de gente, olhares, sussurros quase murros desnudando a solitária alma de um artista.
E o sorriso, o meu, como escudo da terna e frágil criança, que se esconde temendo a tamanha voracidade, desse desconhecido desconhecer.
As luzes ligadas, a sala repleta de pessoas e eu...
Caminhando de um lado para o outro desse palco, contando os momentos, cada momento, em que o sofredor sentimento pudesse se libertar, numa mistura de batimentos que aceleram o coração.
Cada passo, entrelaçado, vai fazendo disparar o raciocínio, que sendo meu se agiganta, ultrapassa o sonho e se imortaliza num gigantesco abraço com a recordação...
Mesmo se perdendo, desvanecendo, desaparecendo, sem retorno.
Já não existem "papões" escondidos debaixo da cama, nem buracos negros no tecto, apenas desencantamento no olhar, num desencantar que melodiosamente permanece, se entranha, se amarra.
As luzes do palco...
Apagaram as luzes do palco...
Sobrando o silêncio, o vazio, aquele abraçar que só a imaginação te pode dar.
Ninguém como companhia, e o sorriso de partida, como capa despida, mostrando no escuro a leve ferida que perdura.
Sem luzes, sem gente, adormece a dormente esperança de um poema declamado, de um beijo salgado, de um futuro já passado, de tudo o que um dia imaginei...
Ou que imaginava, imaginar.
Filipe Vaz Correia