01.10.19
Ainda sangra ou já estancou o pedaço de ferida que teimava em se fazer sentir?
Nesse caminhar constante, vulgo destino, tantas foram as vezes que desassombradamente a vida chega e nos derruba, nos amarra nessa tristeza que parece ficar para sempre.
O nascer do dia chega mas a noite escura parece reinar, tenebrosamente presente, ameaçando, nessa escuridão, os coloridos sonhos de outrora.
Já não existe brisa ou maresia, riso ou contentamento, esse leve sentimento desnudado e esquecido, entrelaçado sofrimento, amargurado e ferido.
O escorrer do sangue, como lágrima que não se esconde, intensifica a espécie de ardor que marca e esventra, num desmedido querer silencioso, grito calado que ensurdece o pobre coração...
Ainda sangra?
Ainda vociferas pedaço de ferida na alma?
Alma?
O olhar meio perdido que abraça a realidade vai ditando o caminho, trilhando o destino ensurdecedor, trauteando palavras e frases, descontraídas formas de choro que se confundem com a ausente poesia numa folha em branco...
A despida contradição num cumprimento que se perdeu.
Nem sei como soletrar esta contraditória melodia que num momento se degladia, num outro irradia, e em todos eles se desvanece numa alucinante montanha russa de lembranças, amarguradas desesperanças que outrora pulsavam, antigamente se soltavam, por entre, a saudosa esperança que tudo transformava.
O sol partiu, discretamente se despediu, devagarinho, de mansinho, num aceno que pareceu timidamente discreto, incertamente nostálgico.
Sem saber se num novo dia voltará a irromper por entre os céus...
Num repetido quadro intemporal.
Filipe Vaz Correia