30.05.22
Adormeci sonhando que outrora voltaria a ser agora, que margens dos rios se fundiam no mar e que na volta de um dia a noite se despiria sem pudor...
Sem pudor de se desnudar e entrelaçar num beijo repleto de ondas e borbulhas, refrescantes cheiros de maresia e algas, de uma amálgama sem passado, inebriante esperança de sentir.
Por entre o sonho, pude sentir cada toque e arrepio, cada pedaço de desvario que se entrelaçou no cenário, mistura de tesão e amor, quase, tentador de um derradeiro aceno.
Quero-te e odeio-te...
Desejo e repulsa, tudo na mesma frase, na mesma alma, na mesma cama.
Fará sentido que uma despedida possa ser quadro e tela, cavalo e cela, lábios e boca?
Quem, em tanto e pouco, sente esse sabor louco de uma noite de prazer?
Adeus...
Na despedida definitiva sobra cada peça de um puzzle, cada satisfação insatisfeita de uma aguarela inacabada, caminhando solitária, por entre, soluços de desapego, numa travagem sem freio que ameaçará regressar enquanto existir memória.
Desperto lentamente...
Nada sobra, nada resta, nada do que se prometeu ficou, perdidamente se esfumando num ténue sorriso do que sabemos não nos pertencerá outra vez.
Até sempre...
Filipe Vaz Correia