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Caneca de Letras

30.12.18

 

Por vezes parece fácil viver, esquecendo todo o medo que sobrevoa a vida Humana, desde que nascemos, desde que começamos, levemente, a morrer.

Esse fim, marcado, submerso nessa correria do quotidiano que nos impele a adormecer essa desdita imperiosa.

Por vezes é despertada em nós, essa noção de fim, através de uma despedida, sempre que alguém parte, sempre que algo se parte dentro da nossa alma.

Por vezes num pesadelo ao adormecer, um arrepio ao acordar ou singelamente amarrado ao horizonte, numa memória perdida de algo que não conseguimos explicar...

Mas como explicar o que não tem explicação?

No meio de tamanhas reflexões, inquietações Humanas, sobram os dias e anos, os passageiros momentos que nos permitem suspirar, respirar, enquanto o corpo envelhece e a alma se engrandece, bebendo um pedaço dessa sabedoria que a Natureza nos oferece.

Por vezes parecemos imortais, pensamos nessa imortalidade que a juventude nos convence, mas por fim...

Seremos, somente,  uma ténue recordação do que um dia fomos, para permitir que novos sonhos de imortalidade se deparem com o eterno "sentido da vida".

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

20.02.18

 

Uma viagem pelo mundo, o mundo inteiro...

Nem um seu recanto esquecido, nem um ponto perdido, nessa vontade de viver que se extinguiu.

Giovane de Sena Brisotto morreu...

E eu nem sabia quem ele era.

Ao ler a noticia, as reacções ao desaparecimento do protagonista do documentário de " O Sentido Da Vida ", volto a dar-me conta de como tudo isto é efémero, de como é passageiro este nosso destino.

Giovane tinha 31 anos e sofria da "Doença dos Pezinhos", uma doença sem cura, destrutivamente incapacitante.

Ao ler os relatos desta partida, recordei-me da Professora de Introdução ao Direito, no meu 10º Ano, que acabou por morrer da mesma maneira.

Parece estranho, como por momentos, veio à minha memória o seu rosto, o seu olhar, a expressão maior de um eterno desafio, que parecia enfrentar, sempre que entrava naquela sala de aula...

Com duas muletas, os pés inchadíssimos, o rosto meio desfigurado.

No caso da minha Professora, a sua irmã sofria da mesma doença, acamada no seu quarto, aos cuidados da Mãe que tratava das duas filhas sozinha...

A minha Professora esforçava-se para manter as rotinas, não ceder ao anunciado fim, ao vaticinado e efémero adeus.

De certa maneira, esta era a sua volta ao mundo.

Morava em Almada e vinha de táxi para o colégio que ficava no centro de Lisboa, num desmesurado querer que nos impressionava, arrepiava.

Recordo-me que quando a sua situação se tornou impossível de manter e o fim se aproximava, todos nós, alunos da minha turma, resolvemos visita-la em sua casa, já a morte da sua Irmã a tinha despedaçado, despedaçado a grande alma que era a sua...

Recordo-me bem...

Da sua casa, do seu quarto, onde estava a sua cama e do olhar sofrido daquela Mãe.

Mas com o tempo fui esquecendo, com o tempo fui apagando de mim tais momentos, aquele misto de sofrimento e grandeza presas à intensa memória.

Esta história que apenas agora tomei conhecimento, trouxe-me este pedaço de destino, novamente ao coração, àquele coração dos meus 16 anos...

O tempo passa, mas infelizmente as histórias muitas vezes se repetem e com elas um pedaço de coragem, entrelaçado com a desesperança do mesmo fim.

Resta-nos aproveitar...

Desenhar, sem medo, aquele amor que se perdeu, sem nunca o desperdiçar, mesmo que por um instante o coração compreenda, que não valerá a pena...

Sonhar com aquele abraço, um dia perdido.

Querer aquela parte de nós, que parece ter fugido.

Tudo valerá a pena...

Apenas não tentar, não dizer, não querer viver ou sonhar...

Apenas essa espécie de medo, não vale a pena, não valerá a pena.

Até sempre Giovane...

Até sempre Professora Maria do Carmo.

 

 

Filipe vaz Correia

 

 

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