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Caneca de Letras

04.03.19

 

 

 

Rostos e mais rostos;

Nesse mar de gente,

Deambulando pela rua,

Multidão ausente,

Na solidão crua,

Tornada crescente,

A ausência tua,

Que em mim flutua...

 

Rostos e mais rostos;

Despidos de significado,

Pedaços de desgosto,

Num rosto desamparado...

 

Rostos e mais rostos;

Num entrelaçado silêncio,

Buscando arrepiados,

O que se escapou...

 

Rostos e mais rostos;

Nesse desenho rasurado,

Assinalando a despedida,

Meio ferida,

De um tempo.

 

 

 

 

16.08.18

 

É tudo horrível...

Um tenebroso sentir quando aquelas imagens invadem a televisão e amordaçam a nossa voz, sufocam o nosso olhar, aprisionam o nosso coração.

Aquela tragédia em Génova, capta medos e desesperos, traz tristeza e solidariedade, recorda a cada instante o quão pequenos somos.

Uma ponte que colapsa num segundo e nesse segundo transforma a vida em nada, vidas em nadas, como se esse nada a que me refiro, fosse o fim de um tudo que até àquele instante fazia sentido...

Somente fazia sentido, sentindo que aquelas vidas tão novas e tão velhas, de filhos e pais, maridos e mulheres, amigos e conhecidos, almas solitárias...

Somente fazia sentido nesse desesperante instante em que tudo deixou de o fazer.

No fim de todo este horror, começam a dar nomes e rostos às vitimas, àqueles que morreram na tragédia de Génova e é aí que se apercebe a distante alma da desmedida tragédia.

Vendo os rostos daqueles que partiram, vendo o olhar dos que cá ficando perderam um pedaço de si mesmos, da dor transformada em gente, no rosto de um sem numero de pessoas.

Quando se dá nomes e rostos aos números, tudo parece ser ainda mais cruel, mais horrível, mais destruidor, mais intimidante...

Simplesmente porque os rostos da tragédia são precisamente iguais a qualquer um de nós.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

12.01.18

 

Corre o tempo sem parar, sem deixar sons e silêncios suspensos através dos dias e noites amontoados em cada rosto, por cada alma, em cada pedaço de gente.

Nessa mistura de histórias, de contos, amarrados às linhas de um destino, encontram-se mágoas e risos soletrados pacientemente, impacientemente  desencontrados com tantos outros momentos segredados apenas ao coração...

Vejo gentes nas esquinas, atravessando ruas, saltitando por entre as poças de chuva que teimam  em se esconder nas pedras da calçada, almas apressadas em viver, esta vida, sem freio.

Uma agitação constante, corrupio desalmado que absorve a parte de nós que se esquece que um dia, o pôr do sol se extinguirá, a noite chegará eternamente...

Num sombrio amanhã, que se repetirá silencioso.

E o amor?

Onde se esconderá esse desbravado sentimento, explanado em tantas linhas de Shakespeare, em tantos poemas de Vinicius, em tantas canções de Caetano, na voz de Nat...

Onde se esconde esse sentimento, intenso, maior, sufocantemente abrasador?

Nos rostos dessas gentes, apressadamente correndo para mais um dia, para mais uma obrigação, se dilui no olhar o bater do coração...

Essa pressa de viver tudo intensamente, em cada beijo, em cada abraço, a cada cheiro, por inteiro, sem arrependimento.

Só existe tempo para num piscar de olhos, deixar a vida passar, passando com ela, um imenso mar de sentimentos, perdidos por entre o frenesim sem fim...

De tantos destinos.

Poetizando em prosa, sobre os rostos que passam por mim na rua, pergunto-me, se ao receber de volta aqueles olhares que insistentemente questiono, não serei eu também alvo, das mesmas questões que me assolam.

Neste cruzamento de vidas, destinadamente desencontradas, vidas passadas e presentes, misturadas em nós, busco reencontrar, aquele desencontro que há muito desencontrei...

Ou perder-me eternamente por entre estas linhas.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

09.02.17

 

Rostos carregados de sal;

Olhares, meio fugidos,

Almas que afinal,

Haviam desistido,

De ter esperança...

 

Rostos escondidos do tempo;

Esquecidos desse passado,

Onde talvez, por um momento,

Possam ter acreditado,

Que era possível ser feliz...

 

Rostos gretados;

Mostrando as marcas da dor,

Desse caminho iniciado,

Fugindo de um horror,

Que não consegue ser contado...

 

Rostos aprisionados;

Em imagens, fotografias,

Muitas vezes emoldurados,

Em exposições, romarias,

Mas nunca libertados,

Dessas noites e dias,

Que os perseguem...

 

E no fim de tantos rostos;

De tantas histórias por contar,

De tantos dramas e desgostos,

Eles continuam a marchar,

Esquecidos por entre as linhas,

Dos seus destinos!

 

 

 

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