Diz-me o que vês, sem medo de sentir, sem receio de querer, sem nada a temer, como se nada importasse ou nenhum vislumbre de temor ganhasse cor, por entre, o céu azul despido que se impõe no horizonte.
Diz-me...
Palavras que ganham força na expressão ensaiada, sem barreiras, artimanhas, arte e manhas, contradição constante que se aprisiona no fundo do sentir inquieto, desse inquietante sentir que amolga e esventra, grita e ensurdece, se perde e se esquece.
Nas entrelinhas, entre copos, vão ganhando vida as pinceladas de cada passo, pegadas, marcadas na caminhada, por essa entrelaçada estrada sem sentido...
Tamanhos sentidos num vai e vem que confunde mas amarra, descobre e aperta, seduz e apega.
Beijos em nuvens, sorrisos em ondas, vagas de abraços no meio de sonhos, peças perdidas que se atrevem a contar pequenas partes não vividas, pedaços de mim que não esqueci, não sabendo que já vivera.
Sabes lá...
Na expressão maior de um conto, vão escorrendo pelo rosto lágrimas que não sabia me pertencerem, mágoas despidas que não sabia feridas, amarguras de inéditas aventuras que julgava pertencerem a outro olhar, num outro lugar, sem medo de amar, sem receio de voltar, de voltar a mergulhar nesse mar...
Que afinal também me pertence.
Ruas e ruelas, estranhas vielas, doces encontros com sabor a canela que marcam eternamente a solitária pena que vos escreve.
Diz-me só mais uma vez, onde se perdeu cada vírgula desta história que regressa a mim, em mim, de ti.
Diz-me se será amor esta espécie de odor que me invade em cada sonho, a cada desgosto medonho que sorri do outro lado do querer.
Tantas coisas para dizer, por dizer, que querendo dizer permanecerão nessas entrelinhas que se tornaram sua casa...
Pedaço de asa onde, por vezes, se atreve a voar.
Diz-me então se sabes voar, pequeno, retrato de outrora.
Filipe Vaz Correia