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Caneca de Letras

23.09.21

 

 

 

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Nos retratos de um tempo;

vivem tantos que desconhecemos

que conhecendo guardavam segredos

novelas e enredos

que se perpetuam.

 

Nos retratos ao vento;

esvoaçando na correria

se soletram estrelas e firmamentos

de angustias e alegrias.

 

Olhos tristes e solarengos;

como tardes de verão

fantasmas e desamores

amarrados à velha canção.

 

E em todos os retratos;

se repetem as histórias

letras soltas na eternidade

de tamanhas memórias.

 

Retratos e mais retratos;

folhas de papel

segredando em lágrimas de tinta

o verdadeiro significado da palavra...

 

Saudade.

 

 

 

 

 

 

17.07.19

 

Diz-me o que vês, sem medo de sentir, sem receio de querer, sem nada a temer, como se nada importasse ou nenhum vislumbre de temor ganhasse cor, por entre, o céu azul despido que se impõe no horizonte.

Diz-me...

Palavras que ganham força na expressão ensaiada, sem barreiras, artimanhas, arte e manhas, contradição constante que se aprisiona no fundo do sentir inquieto, desse inquietante sentir que amolga e esventra, grita e ensurdece, se perde e se esquece.

Nas entrelinhas, entre copos, vão ganhando vida as pinceladas de cada passo, pegadas, marcadas na caminhada, por essa entrelaçada estrada sem sentido...

Tamanhos sentidos num vai e vem que confunde mas amarra, descobre e aperta, seduz e apega.

Beijos em nuvens, sorrisos em ondas, vagas de abraços no meio de sonhos, peças perdidas que se atrevem a contar pequenas partes não vividas, pedaços de mim que não esqueci, não sabendo que já vivera.

Sabes lá...

Na expressão maior de um conto, vão escorrendo pelo rosto lágrimas que não sabia me pertencerem, mágoas despidas que não sabia feridas, amarguras de inéditas aventuras que julgava pertencerem a outro olhar, num outro lugar, sem medo de amar, sem receio de voltar, de voltar a mergulhar nesse mar...

Que afinal também me pertence.

Ruas e ruelas, estranhas vielas, doces encontros com sabor a canela que marcam eternamente a solitária pena que vos escreve.

Diz-me só mais uma vez, onde se perdeu cada vírgula desta história que regressa a mim, em mim, de ti.

Diz-me se será amor esta espécie de odor que me invade em cada sonho, a cada  desgosto medonho que sorri do outro lado do querer.

Tantas coisas para dizer, por dizer, que querendo dizer permanecerão nessas entrelinhas que se tornaram sua casa...

Pedaço de asa onde, por vezes, se atreve a voar.

Diz-me então se sabes voar, pequeno, retrato de outrora.

 

 

Filipe Vaz Correia

15.03.19

 

Vinha eu caminhando por Lisboa, desde o Campo Pequeno até ao Corte Inglês, quando me apercebo de algo que me encanita de sobremaneira.

Desculpem lá mas eu até suporto os carros estacionados no passeio, as trotinetas e bicicletas que ameaçam me atropelar, vezes sem conta...

Até os desconcertantes paralelepípedos, fora do lugar, convidando a um entorse, me parecem coisa pequena, quando comparados com essa irritante alucinação em que se transformaram as selfies.

Em cada esquina, na beira do passeio ou no meio da estrada, lá se encontra alguma pessoa, alguém disposto a ser atropelado por uma bela imagem...

Seja uma selfie para o Instagram, Facebook ou WhatsApp.

Mas mesmo isto, eu conseguiria suportar, agora por favor não me incluam.

É que acima de tudo, se não queremos estar num porta retratos, de uma qualquer sala de estar da Suécia, Japão, China, França, Austrália ou mesmo no Cercal do Alentejo...

Então temos de parar, vezes sem conta, sorrindo ou rosnando, esperando que dispare a Selfie, para contentamento "orgasmático" da singela alma, diante de nós.

Haja paciência.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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