Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Caneca de Letras

30.05.22

 

Adormeci sonhando que outrora voltaria a ser agora, que margens dos rios se fundiam no mar e que na volta de um dia a noite se despiria sem pudor...

Sem pudor de se desnudar e entrelaçar num beijo repleto de ondas e borbulhas, refrescantes cheiros de maresia e algas, de uma amálgama sem passado, inebriante esperança de sentir.

Por entre o sonho, pude sentir cada toque e arrepio, cada pedaço de desvario que se entrelaçou no cenário, mistura de tesão e amor, quase, tentador de um derradeiro aceno.

Quero-te e odeio-te...

Desejo e repulsa, tudo na mesma frase, na mesma alma, na mesma cama.

Fará sentido que uma despedida possa ser quadro e tela, cavalo e cela, lábios e boca?

Quem, em tanto e pouco, sente esse sabor louco de uma noite de prazer?

Adeus...

Na despedida definitiva sobra cada peça de um puzzle, cada satisfação insatisfeita de uma aguarela inacabada, caminhando solitária, por entre, soluços de desapego, numa travagem sem freio que ameaçará regressar enquanto existir memória.

Desperto lentamente...

Nada sobra, nada resta, nada do que se prometeu ficou, perdidamente se esfumando num ténue sorriso do que sabemos não nos pertencerá outra vez.

Até sempre...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

24.05.22


Tenho medo de voar, do rosmaninho e da salsa, dos coentros e dos espargos, da generalidade dos receios.

Tenho vontades e saudades, contradições de sobra, demasia repleta de preto, orvalho que antecipa trovoada.

Tenho soletradas canções em noites de luar, perpetuando a musicalidade escondida em teus abraços.

Prosas e poesias de encantar, nesses beijos em forma de toque, em cada partícula de teu sabor perdido em mim, perdido no meu.

Quero, quero muito, nesse querer que se entrelaça na tua pele, nesse adeus que insistimos em manter...

Volta o tic tac do relógio, o desespero plasmado em teu rosto, ou será no meu?, as voltas empedernidas do quotidiano.

Soletro cada parte de ti na memória, esperando que se guarde a nossa história num bonito livro de cabeceira.

E se um dia sonhares, tentando recordar o que fomos, que pinceles numa tela em branco o pulsar do nosso amor...

Ou o cantar de um trovador.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

24.02.21

 

 

 

76D46040-443B-49A4-8725-52DAC1789416.jpeg

 

 

Boa noite...

Palavras ao vento nesse tormento que me persegue, que amiúde busca essa inquietude própria dos mortais, mortais almas que na inquietude se reencontram.

Se nas entrelinhas da História podemos amarrar partes da essência perdida, será nos teus olhos, desencontrados olhos que se reescreve a verdadeira certeza, de uma absoluta incerteza, de um amor.

É crua a natureza Humana, cruel o desapegado amor que infinitamente brilhará, na despedida certeira, na partida imposta.

Todos nós estamos entregues a esse mistério que nos permite colorir o dia, essa repetida existência que nos cobre, que nos alimenta, que nos ensombra.

Seremos nós a repetição de tamanhos destinos?

Viajaremos nós por entre as nuvens e o sol numa incompleta dança de almas e expectativas?

Quantos reencontros...

Voltas e desencontros marcarão os nossos destinos?

Serei eu uma repetição de mim mesmo?

Seremos nós uma pequena partícula de algo maior?

E as nossas almas...

Viajarão sem regresso a esse intemporal regressar para os braços daqueles que por entre séculos nos pertenceram?

Fará sentido?

Angústias terrenas em dilemas existenciais, pedaços de contradições numa tela maior, de um quadro abrangente que nos completa...

Regresso sempre a Cazuza, sempre ele, um dos que me pertenceram através de suas palavras, dos seus poemas, de sua voz, meio loucura meio ternura.

Se o tempo não pára, a vida louca, louca, percorrendo os blues da piedade, nesse Brasil, mundo, que se torna parte do "seu" show...

"Cazuza dixit"

Se tudo isto fizer sentido e nos reencontrarmos sem senão, se sim ou não, porventura faltará razão à dita razão que nos espartilha e amarra, por entre, dogmas e escrituras.

Receios e anseios, em partituras de uma canção, livre e liberta, desamarrada expressão uma oitava acima.

Anseio os reencontros perdidos, receio os perdidos reencontros, numa tela de Leonardo, num rascunho de Camões, na voz de Vinícius...

Tudo e nada, numa aguarela gigante à beira de um rio.

Por que morrer não dói, como escreveu Cazuza...

Mas amar, por entre séculos, dói imensamente.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

05.02.21

 

 

 

O lado poético da minha alma ou a inenarrável vontade de poetizar, as imensas coisas que vejo...

As coisas que imensamente sinto.

Adoro escrever, é algo que faço de forma compulsiva, que está inerente a mim mesmo, no entanto, nada me faz mais feliz do que desabafar em verso, aproveitando o tempo para me perder por entre rimas, indecifráveis interrogações que ganham vida no papel, no computador, na infinita memória.

A poesia, esse gosto herdado de minha Mãe, também ela uma escrevinhadora compulsiva, que insistentemente desabafava no papel, alegrias e tristezas, memórias e esquecimentos, desgostos e amargas contradições de uma vida...

A sua vida.

Sempre de maneira poética, rima após rima, verso atrás de verso, como se tudo ficasse mais belo em cada poesia, por força da expressão harmoniosamente poética, deste mistério que é a vida.

Por vezes sinto, de olhos bem fechados, que as palavras se formam descontraidamente, num gigantesco mundo, ruidoso momento libertário, conjugando ideias, buscando trilhos para as imagens que se querem abraçar, numa construção de emoções, de medos e anseios, reflexos ou desejos, explanados disfarçadamente...

Delicadamente.

Para mim, um poema é essencialmente a entrega absoluta da alma, da nossa ou daqueles que através da nossa imaginação, parecemos saber descodificar...

Em cada poesia, através de cada uma, parece num instante que a tristeza pode ser bela, a dor adormecida, a mágoa entrelaçada, e a magia...

A magia de unir todas as pontas de uma canção, numa folha de papel, em quadra, em verso, em descompassados instantes de um coração.

Viva a poesia.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

22.10.19

 

Ando pelas ruas, sem poiso, sem lugar aonde pertencer, numa frenética busca de algo que jamais ousei alcançar.

Perdi-me por entre rostos, cansados desgostos que oiço repetitivamente, numa desamparada correria entrelaçadamente alucinada.

Voltas e mais voltas nas pedras da calçada, dormindo aqui e acolá, fazendo de cada esquina, casa, em cada fria noite que me abraça, despedaçadamente solitária, desnudadamente sem retorno.

Já partiram todos os que importavam, mesmo persistindo nos erros que sobravam, assinaladamente desesperadores, sempre regressando ao mesmo tempo, momento onde se desamarraram as águas, se perderam as lágrimas, se soltaram as questões.

Estou cansado...

Tão cansado que já me esqueci desse cansaço, pequeno pedaço de mim, amargura sem fim, por entre, as soluçantes vozes de outrora.

Os que amei...

Os que esqueci...

Os que não importando se impuseram, como fantasmas regressando, vezes sem conta, para me atormentar.

Às vezes a penumbra, o trémulo vislumbrar do que ficou perdido no tempo, lá atrás, onde fui feliz...

Será que fui feliz?

Será possível?

Mais uma noite que chega, mais um dia que finda, nesta desventurada aventura denominada de destino...

Fecho os olhos, oiço o barulho dos carros, as vozes e passos daqueles que passam a meu lado no passeio, de tanto e tão pouco.

De tanto e tantos que partilham este mundo comigo e de tão pouco que me sobrou...

Para além desta tristonha solidão que me alimenta.

Alimentando cada pedaço de palavra que soletradamente salta de mim para o papel, do papel para as estrelas, das estrelas para um desencontrado reencontro com aqueles que um dia me pertenceram, que um dia partiram...

Até já.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

13.08.19

 

Se as letras pudessem se misturar, sem regras, que palavras nasceriam?

Que pedaços de sentir se formariam?

Quantos significados brotariam desse papel para fazer nascer um outro olhar, um outro buscar na imensidão de um texto?

Palavras que inundariam a imaginação, nesse espaço estelar que cobriria toda a galáxia de uma qualquer Caneca de Letras, repleta de sonhos e atrevimentos.

Vírgulas e pontos destituídos de controlar essas letras, palavras que se despiam de medos e anseios, livremente voando pela folha em branco, como se fossem, somente, as donas de cada nota ou apontamento, de cada poema ou prosa, de cada declaração de amor.

As letras...

Sempre elas aparecendo na minha mente, pejando a minha imaginação dessa lata construção de palavras que repetidamente me invadem, sem calar, invadindo cada pedaço desta ousada forma de querer, esta sedutora querença que me amarra.

Letras e mais Letras despejadas nesta Caneca, numa partilha desgarrada, compulsiva, desse mundo que em mim habita.

Letras e mais letras...

Nesse mundo de imaginação que desde sempre me deslumbrou.

Letras...

Somente Letras...

Sempre, desnudadamente, letras.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

12.08.19

 

Tenho medo do escuro, dessa escuridão que se intromete pelos sonhos e nos cerca, nos aprisiona, asfixiante, desmedidamente extasiante.

Não saberia desenhar, por traços ou rabiscos, as estranhas interrogações que permanecem escondidas na brisa da manhã, de cada manhã, nesse despertar que se repete, longe de ti.

Mas o que importa o sentir, se nesse despedir, desnudar ou despir, do tamanho destino, se empurram os dias, se entrelaçam as noites e continuam por conhecer os recantos da alma...

Dessa alma, que meio inebriada, se antecipa ao amanhecer, partindo incógnita, discreta, envergonhada.

Sem viver?

Sem ousar esse reencontrado encontro, para sempre perdido, por entre a desilusão maior de um arrependimento?

Tenho medo do escuro, meio sussurro, vento que chega e ousa partir, assobiando ao longe as amarguras presas a gente distante, em recantos perdidos deste mundo.

Esses gritos que voam pelos oceanos, resgatados pelo vento que cobre as terras da minha aldeia, da minha terra, dos meus destinos...

Esse vento que chega à noitinha, pela calada, sem se fazer notar, invadindo de ansiedade a minha triste saudade, esse desnorte que se confunde com o desesperante bater do olhar, o desprendido olhar que se encerra nesse mundo interior desprotegido.

Tenho medo do escuro e desse amanhecer que não chega...

Tenho medo do escuro.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

31.07.19

 

Escrever no Caneca é uma espécie de busca pela minha interioridade, essa constância de sabores impregnados na alma, esse entrelaçar misterioso de pessoas e sentimentos.

Muitas vezes esta Caneca serve para, involuntariamente, viajar por entre memórias tão minhas, outras vezes por recordações que desconhecia me pertencerem, no entanto, sempre caminho nesta viagem Canequiana com a presente impressão de um percurso interior.

Evidentemente que opino e soletro, por entre, essa espuma dos dias, a actualidade que marca e fica, intensifica e sobressai mas são as letras soltas de uma poesia, de uma prosa desconcertada, que mais retratam a alma que em mim habita, as vozes que em mim sobrevivem, os retratos que dentro do meu coração se tornam telas pintadas, de histórias imaginadas, de amarras passadas.

Vivo liberto como Vinicius, inquieto como Pessoa, amarguradamente incerto como Cazuza, solitariamente desperto como Camões...

Será?

Enfim vivo como escrevo, nuns dias com tinta, noutros com lágrimas, nuns dias com alma, noutros vazio, numa espécie de desvario que se apodera da pena.

Nesta Caneca, vivo sem pontos ou vírgulas, acentos ou parêntesis, num mundo de letras que se completam em cada comentário desse outro lado, em cada abraço de quem se mostra Canequiano.

E porque ser Canequiano nada mais é do que um sentir constante, por vezes asfixiante, num misturado querer que se solta em busca de expressar o que, segredadamente, sussurra a desmedida alma.

Obrigado a todos os Canequianos.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

22.06.19

 

O som do piano vai continuando a percorrer os corredores da casa, como se ainda nele tocassem, como se ainda a luz invadisse aquelas paredes, como se ainda aqueles cortinados fossem descerrados, como se ainda vida por ali existisse.

Nada mais do que o silêncio sobrevive ao tempo, àquele tempo que decorreu entre os radiosos anos que se extinguiram.

O som do piano, agora corcomido e velho, parece ganhar a batalha da eternidade, da solitária eternidade por entre aquelas bafientas paredes, onde só o pó parece reinar.

Nem mãe nem pai, muito menos avós ou amigos, filhos ou netos, jantares ou almoços, risos ou lágrimas...

Escuridão, arrebatadora escuridão, que se impõe esvoaçando entre o relógio de pé, parado nas horas, no tempo, sem asa ou momento, altivamente acompanhado pelos frescos no tecto, meio pálidos escondendo as vivas cores que outrora marcavam cada recanto daquele lugar.

Vidas e sonhos ali perdidos, desencontrados, naqueles cantos agora tristonhos, pouco risonhos, meio medonhos, como se aquele quadro não tivesse ali espaço, desabitado regaço de um destino.

Portas trancadas, janelas cerradas, palavras fechadas a todo o custo, encerradas a sete chaves nesse secreto lugar da memória...

Tudo ali tem história, secretamente entrelaçada em outra vida, talvez perdida, numa espécie de despedida eterna, sem fim.

O som do piano vai continuando a ecoar...

Ecoando como se nada mais tivesse importância, como se ainda os bailes ali tivessem lugar, como se ainda eu ali permanecesse.

O barulho das máquinas a chegar, o ruído da manhã a ecoar, as vozes de homens acelerando o epílogo de tantas noites e dias, pequenas melodias que prometiam não findar.

O piano calou-se...

As máquinas começaram a trabalhar e a cada instante insistentemente a derrubar cada parede de minha casa...

Naqueles escombros, por entre aqueles retratos se desvanece a minha empoeirada alma.

Já não toca o piano...

O meu piano deixou de tocar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

21.06.19

 

 

 

Palavras ao vento, num singelo momento, entrelaçando num instante esse perder constante que se assemelha na verdade com essa saudade, esquecida querença esvaída esperança, somando estranhezas, por entre as confundidas certezas, de mansinho soletradas, explicando as emoções sussurradas de uma vida. Palavras ao vento marcando um tempo, secreto segredo, disfarçando o medo que reluz no horizonte para lá de um monte, onde se esconde o sonho, outrora risonho e que agora... Agora permanece irrequietamente provocador, sem macula, sem dor, insistindo através do olhar nesse sentido amar descrito nos livros. Palavras ao vento, misto de arrependimento, sincera vontade de um tristonho sentimento, por entre perdido sentir, ameaçando fugir nesse breve abraçar que nos esmaga. Palavras ao vento, sempre elas, contando sem receio cada partícula segredada de um imenso querer. Como te quero? Quanto te quero?

Palavras ao vento celebrando este amor.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub