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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Dicionário Do Amor

Filipe Vaz Correia, 29.07.19

 

Amor...

Essa palavra, conjunto de letras inusitado, que parece simplista e desenhada, por vezes dormente ou silenciada, muitas vezes inquietantemente solitária num canto do quadro, num pequeno espaço da folha.

Tanta tinta escrita em seu motivo, gravada em lágrimas ou gargalhadas, em afagos ou desabafos, em sorrisos ou tristonhos retratos imprecisos.

Amor...

Esse sentir que por vezes magoa, destoa, amarra e abraça, outras vezes apenas se apresenta com aquela inevitabilidade própria dos momentos únicos que se impõem ao tempo, pelo tempo, através do tempo.

Como se pode explicar o tamanho sentimento que representa a pequena palavra?

Como soletrar para o papel cada espaço desta palavra, cada sentir de cada uma das letras que a compõem?

Questões soltas, tão desmedidamente soltas como amarradas à confusa tradução deste estranho sentir.

Respirar...

Respirar bem fundo, como se esse fundo não tivesse fim, como se o beijo, esse beijo, não se extinguisse no tocar dos lábios, no entrelaçar da saliva, no bater do coração.

Cada pedaço de amor, desse amor encadernado na imaginação dos poetas, escondido na virgindade das donzelas, no ardor corajoso dos valentes cavaleiros...

Cada pedaço desse amor arde infinitamente, soluça atrevidamente, sonha intemporalmente, como se jamais chegasse esse futuro que ameaça o imediatismo dos amantes, o querer romântico da prosa, o inquietante impulso da alma.

Amor!

Exclamação que nos define, indefinidamente nos completa, sem receio de gritar o que parece somente uma palavra, um pedaço desconexo de uma frase.

O Amor...

Ou simplesmente aquilo que mais importa.

Somente o que mais importará.

Que o tem nem sempre o reconhece e quem o perdeu...

Disfarçadamente sabe que dificilmente o voltará a sentir.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

No Caneca Com... A Minha Sobrinha Matilde!

Filipe Vaz Correia, 07.03.19

 

Sou uma planta bonita e delicada, mediana em altura mas fina.

As minhas pétalas são brancas, mais brancas do que a neve...

Cheiro bem, como se fosse perfume mas cheiro mal quando me arrancam do meu lar.

Lar doce lar, onde vivem as minhas amigas, a Margarida, a Girassol e a minha melhor amiga...

Uma Rosa encarnada, a mais bela de todas elas, assim como, eu sou a mais bela das Rosas brancas.

Muitas amigas minhas já foram arrancadas do seu lar, à força, até perderem as raízes...

Com sorte, ainda não fui eu.

Mas só ouvi-las a gritar, a pedirem ajuda e a murcharem, já é uma tortura.

Há dois dias arrancaram a minha Irmã, a Rosinha, que só tinha 10 anos...

Coitada!

E existem criaturas perigosas que rastejam pelo chão, comendo pétalas e folhas, chamadas Lagartas.

Agora já sabem como é a vida de uma planta.

 

Matilde Bessa

9 Anos

 

 

O Mundo de Cavaco!

Filipe Vaz Correia, 17.02.17

 

O Prof. Anibal Cavaco Silva, fez parte da minha vida, quase desde que me lembro de mim mesmo, para o bem e para o mal, nesse destino que se tornou, o destino deste país que somos nós.

Ao publicar o seu livro, muitos o vieram aplaudir e outros tantos atacar, pelo conteúdo do que alguns chamam de testemunho e outros uma vingança contra o anterior Primeiro-Ministro, José Sócrates...

Antes de mais julgo que Cavaco Silva tem o direito, de publicar a sua opinião sobre factos que viveu em Belém e que considerou serem importantes para o julgamento da sua Presidência, mesmo que possa ficar uma sensação de vendetta, em alguns momentos.

Cavaco nunca foi um homem consensual, apesar de ser um dos políticos que mais eleições venceu, cinco, quatro delas com maioria absoluta:

Duas vezes como Primeiro-ministro e duas vezes para a Presidência da República.

Cavaco para mim, representa duas palavras:

Encantamento e desilusão.

Na minha perdida juventude, eu era aquilo que se poderia chamar de cavaquista, ou seja, acreditava piamente que o seu trabalho em prol do país era fundamental para o nosso desenvolvimento e que a sua capacidade de liderança, nos dois governos maioritários, iria mudar para sempre o rumo de Portugal...

Vendo agora, continuo a achar que foi um bom Primeiro-Ministro, com erros que antes não era capaz de perceber, mas na realidade, escrever a história décadas depois de ela ocorrer, é injusto e pouco sério.

Tive pena quando chegou ao fim aquela década cavaquista e apressei-me a votar naquelas que foram as minhas primeiras eleições como cidadão...

Cavaco perdeu para Sampaio e desgostosamente enfrentei essa primeira derrota, de alguém que julgava invencível.

Os anos passaram e chegámos então às eleições de 2006 e a essa nova candidatura de Cavaco Silva, e uma vez mais, acreditei que através das suas qualidades, poderia ajudar o país a crescer e melhorar através da sua influência, resgatando talvez, a memória que guardava dessa minha adolescência.

E é neste período que encontro a chamada desilusão, pois as qualidades que encontrei durante aqueles anos, reformistas e de mudança, de estabilidade e seriedade, davam agora lugar, na minha opinião a um desgastante, amorfo e penoso caminho de inabilidades.

Cavaco perdeu-se assim como o país, em gaffes e ficções, em ausências e penosos discursos desconexos, em erros de cálculo e batalhas inadequadas...

Foi para mim, com a da sua falta de empatia e equivoco verbal, uma desilusão, observando o seu afundar colado a políticas que não creio, estivessem na sua matriz de centro direita.

Julgo que se afundou amarrado ao establishment do ultra liberal PSD e quado a geringonça lhe apareceu pela frente, com aquele truque parlamentar, deveria ter compreendido como ele mesmo, com os seus silêncios, ajudou a unir o que jamais se unira, a convergir aqueles que até então, apenas divergiam...

O PS e os partidos mais radicais da esquerda parlamentar.

Foi esse extremar de posições e a sua inabilidade para criar dentro do panorama político português as pontes necessárias, que acabaram por juntar esses partidos, numa coligação anti-natura.

Esta desilusão Presidencial, afastou-me desse passado, desse cavaquismo, desse legado que não renego mas vejo de maneira menos apaixonada e distante.

Assim neste dia, acredito que através do seu testemunho, poderemos conhecer melhor o seu ponto de vista, sobre alguns dos factos que decorreram durante os anos que nos guiaram até à Troika e mais tarde até à geringonça, mas não creio que consiga reverter a imagem titubeante e desastrada com que terminou os seus mandatos.

Para mim fica este dúbio sentimento...

De respeito por esse passado e por esse percurso de tantas décadas de vida pública mas também a tristeza e desilusão pela inaptidão e constrangedora falta de empatia com o país real, que certamente ficarão na história por mais que Cavaco Silva não o consiga aceitar.

 

Obrigado Prof. Cavaco Silva e que venha o segundo volume.

 

 

 Filipe Vaz Correia

António Guterres: O Político Humanista...

Filipe Vaz Correia, 13.12.16

 

António Guterres foi hoje, oficialmente empossado, como Secretário Geral das Nações Unidas, iniciando assim uma caminhada que se antevê repleta de dificuldades.

Ao acompanhar esta tarde a cerimónia de tomada de posse, pensei no mundo que hoje se depara diante de todos nós e nos desafios que inevitavelmente se depararão a este Secretário Geral da ONU...

As guerras na Síria, Ucrânia, Líbia, Iraque entre outras, as Alterações Climáticas, negadas pelo Senhor Trump, o papel da Mulher no mundo Islâmico, o crescimento dos Radicalismos, sejam eles quais forem, Religiosos, de Raça, de Género.

Guterres terá de lidar com políticos cada vez mais inflexíveis, menos tolerantes que prometem encerrar o mundo em redor dos seus nacionalismos e com o desespero aprisionado a uma economia global, enquistada pelo desemprego e a estagnação que continua a sufocar as sociedades actuais.

Terá ainda de lidar com a expectativa de uma nova ONU, regenerada e reformada através das promessas de um conceito de novas relações entre as Instituições e as Populações.

Na minha opinião, António Guterres, tem no seu humanismo, nessa faceta tão presente nele, o seu maior trunfo, como tantas vezes ficou comprovado enquanto Alto Representante para os Refugiados...

O seu olhar tocante, a sua maneira próxima de chegar aos outros, partilhando o sofrimento, mantendo mesmo em situações limite, aquela capacidade de ouvir os outros, transformando as pessoas em questão, parte importante da solução desses dramas, muitas vezes quase insolúveis.

Estas capacidades fazem dele um homem singular, com caracteristicas singulares, únicas.

Será possível resolver através desse dialogo, que tanto gosta de referir, tantos problemas que se escondem por esse mundo fora?

E aqueles que surgirão inevitavelmente no futuro?

Não o sei...

Mas sei que o mundo, terá neste Secretário Geral, alguém que não esconderá o seu coração diante desses problemas, não deixará de estender a sua mão quando encontrar alguém caído, não deixará de ver as feridas que esventram, muitos locais, espalhados pelo Planeta.

Assim tenho esperança no Ser Humano, António Guterres, nas suas emoções e nos valores que se espelham nos seus olhos.

Não resolverá todas as tragédias do mundo, não será nem o Super-Homem, nem o Homem Aranha, mas poderá ser aquilo que hoje em dia, escasseia, no panorama político mundial:

Uma boa pessoa, que se preocupa genuinamente com os outros...

Para os dias de hoje, já não estará mal.

E para o cargo concreto em questão, Secretário Geral Da ONU, parece-me perfeito.

 

Boa Sorte Senhor António Guterres, pois o seu sucesso, será o de todos nós.

 

Filipe Vaz Correia