10.04.20
E vale a pena perguntar:
E os miseráveis?
Irrita-me, sempre me irritou, esse monopólio da solidariedade social da Esquerda ou Extrema Esquerda no discurso politiqueiro.
Durante estes tempos que vivemos, muitas vezes me questiono como estarão a viver os mais miseráveis de nós?
Aqueles que sem rede se encontram destapados, entregues à crueldade do dia a dia, desamparados neste turbilhão que nos envolve e machuca.
E esses?
Como estarão a "viver" estes tempos?
Estamos tão preocupados com a economia, não me excluo deste grupo, com a arquitectura da retoma que todos desejamos, que por vezes nos esquecemos daqueles que nada têm para retomar, reerguer, recuperar.
Esses que dormem nas ruas, se esqueceram dos sonhos, não se recordam dos afectos, não tiveram direito a abraços ou regaços e que agora estarão mais "despidos" do que nunca.
Que frieza de consciências, que desabafo calado e surdo que insiste em se manter, neste conforto tranquilo daqueles que se dão ao luxo de ter preocupações...
Triviais preocupações sobre a Humanidade, muitas vezes sem a consciência da ausência dessa mesma Humanidade.
Olho para alguns destes miseráveis que se abeiram na fila do Supermercado, na fila para a Padaria, e que amiúde finjo não ver, evito contactar, desejo esquecer...
Vou voltar para as minhas macro preocupações, aquelas que me mantêm entretido sobre o futuro da nossa economia, sobre o destino da nossa Sociedade em geral.
É mais confortável, menos áspero...
Para quem?
Para mim.
Somente para mim.
Filipe Vaz Correia