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Caneca de Letras

22.10.19

 

Ando pelas ruas, sem poiso, sem lugar aonde pertencer, numa frenética busca de algo que jamais ousei alcançar.

Perdi-me por entre rostos, cansados desgostos que oiço repetitivamente, numa desamparada correria entrelaçadamente alucinada.

Voltas e mais voltas nas pedras da calçada, dormindo aqui e acolá, fazendo de cada esquina, casa, em cada fria noite que me abraça, despedaçadamente solitária, desnudadamente sem retorno.

Já partiram todos os que importavam, mesmo persistindo nos erros que sobravam, assinaladamente desesperadores, sempre regressando ao mesmo tempo, momento onde se desamarraram as águas, se perderam as lágrimas, se soltaram as questões.

Estou cansado...

Tão cansado que já me esqueci desse cansaço, pequeno pedaço de mim, amargura sem fim, por entre, as soluçantes vozes de outrora.

Os que amei...

Os que esqueci...

Os que não importando se impuseram, como fantasmas regressando, vezes sem conta, para me atormentar.

Às vezes a penumbra, o trémulo vislumbrar do que ficou perdido no tempo, lá atrás, onde fui feliz...

Será que fui feliz?

Será possível?

Mais uma noite que chega, mais um dia que finda, nesta desventurada aventura denominada de destino...

Fecho os olhos, oiço o barulho dos carros, as vozes e passos daqueles que passam a meu lado no passeio, de tanto e tão pouco.

De tanto e tantos que partilham este mundo comigo e de tão pouco que me sobrou...

Para além desta tristonha solidão que me alimenta.

Alimentando cada pedaço de palavra que soletradamente salta de mim para o papel, do papel para as estrelas, das estrelas para um desencontrado reencontro com aqueles que um dia me pertenceram, que um dia partiram...

Até já.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

31.05.19

 

Escrevo, escrevinho a duras penas, buscando dentro de mim caminhos por desbravar, sentires esquecidos, palavras e cores sem tradução.

Escrevinhar constantemente desde que me recordo de recordar, numa entrelaçada curiosidade entre papel e caneta, mágicas letras completadas na grandiosidade do que juntas representavam.

Sentidos sentimentos na ponta da pena, por vezes com pena, pincelando a cena que se constituía em minha mente...

Silêncios compassados por batuques descompassados navegando por entre os loucos e medonhos receios da insana distância pueril.

Monstros e mestres, lobos campestres, desastres terrestres, tamanhas agruras...

Escrevo, escrevinho, escrevinhando a duras penas, sentindo apenas que vale convictamente essa brisa serena que levemente ecoa em mim.

Será a tua voz minha mãe, será o teu beijo meu amor ou serei somente eu num sonho distante trazido pelo bico de um pássaro...

Escrevo sem mais parar.

 

 

16.04.19

 

 

 

Vales e montes encantados, bosques escondidos e entrelaçados, campos floridos e desencontrados, florestas de pedra, gélida pedra por derreter.

Caminhos e estradas, construções renegadas, por entre, letras sofridas de querença, de uma esperançada querença que se atreve a gritar.

Sonhos que se repetem, vozes que se agigantam, gentes e rostos que se amarram no olhar de quem habita na alma...

Na soletrada alma de um texto, numa prosa construída nas entrelinhas da imaginação, na desgarrada acentuação, como um desenhar geométrico, compassadamente descompassado, perigosamente desenhado.

Ventos e montes encantados...

Tantas e tantos momentos para escrever, formas de escrever, pinceladamente encobertas pelo, silencioso, silêncio de uma eternidade de papel.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

12.02.19

 

Perco-me no olhar, no mesmo olhar, de cada vez, de uma vez, como se fosse primeira, mesmo não o sendo, sempre inteira, despida de contradições, de dúvidas, de hesitações.

Perco-me sempre, por entre, o suspenso olhar que traduz palavras, secretamente adivinhando o fundo da alma...

Pois é a tua alma funda, esse pedaço de recanto que mais ninguém vislumbra, que consigo descodificar, abraçar.

Nesse instante, pequeno ou gigante, indiferente ao tempo, nada muda, nada permanece, simplesmente silenciando qualquer ruído, qualquer intervalo.

Nesse olhar que é amor, aquele amor que se impõe na terna saudade de te voltar a ter...

Pois tendo, se receia perder, perdendo, se receia a eternidade e que não se reencontre o tempo, que se tornou passado, ousando se tornar irrepetível.

E é nesses momentos que o singelo olhar, sem mágoas e carregado de esperança, enternece, cumprindo o seu destino...

Quebrando barreiras, indo buscar aquele bater da alma que poucos sonham existir.

Nada mais do que esse olhar, nada mais do que esse doce olhar,  tão frágil como uma folha caída na calçada, mas, ao mesmo tempo, tão forte como a beleza dessa imagem, repousada na intemporalidade de um poema.

É assim para sempre, secretamente, que se imortaliza o sonho, o desejo, os ternos ensejos de um gigantesco querer...

De uma História de Amor.

Como te quero pela intemporalidade de tantos e tantos destinos, cumpridos num só olhar...

Num só, eterno, olhar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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