07.09.23
Sinto um calafrio sem espinhas, ou será na espinha?
numa busca itinerante pelo que não sei,
como as letras de Pessoa, as palavras de Neruda,
entre as saudades do que se perdeu ou as lágrimas do que ainda não chegou,
mas na incerta certeza do que tenho,
insisto em buscar esse verso amar que se esconde só de leve,
no bater do sonho remelado,
no embranquecer da neve.
Sinto que será possível ser feliz;
num intervalo de tempo,
se o tempo tiver intervalo,
como um jogo de futebol,
sem árbitro, sem juiz, nem raiz,
num desconcerto acertado,
que se impõe interpelado,
como um simples beija-flor.
Sinto que o destino está descrito;
num escrito bem sucinto,
por entre sorrisos amassados,
amores entrelaçados, num divã antiquado,
aguardando a sua vez,
de nos resgatar do singelo vazio.
Sinto querer esse bem querer,
passe a redundância,
o merecer estremecer,
que nos chega à barriga, como borboletas a esvoaçar,
num melancólico entardecer,
num entardecer melancólico.
Sinto nada e tudo;
a imensidão e a escuridão,
o mesmo e o seu contrário,
cada caminhar ausente,
da chuva presente,
num raiar escaldante,
desse inferno de Dante...
Sinto...
mas não sei o quê!