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Caneca de Letras

07.09.23

 

Sinto um calafrio sem espinhas, ou será na espinha?

numa busca itinerante pelo que não sei,

como as letras de Pessoa, as palavras de Neruda,

entre as saudades do que se perdeu ou as lágrimas do que ainda não chegou,

mas na incerta certeza do que tenho,

insisto em buscar esse verso amar que se esconde só de leve,

no bater do sonho remelado,

no embranquecer da neve.

 

Sinto que será possível ser feliz;

num intervalo de tempo,

se o tempo tiver intervalo,

como um jogo de futebol,

sem árbitro, sem juiz, nem raiz,

num desconcerto acertado,

que se impõe interpelado,

como um simples beija-flor.

 

Sinto que o destino está descrito;

num escrito bem sucinto,

por entre sorrisos amassados,

amores entrelaçados, num divã antiquado,

aguardando a sua vez,

de nos resgatar do singelo vazio.

 

Sinto querer esse bem querer,

passe a redundância,

o merecer estremecer,

que nos chega à barriga, como borboletas a esvoaçar,

num melancólico entardecer,

num entardecer melancólico.

 

Sinto nada e tudo;

a imensidão e a escuridão,

o mesmo e o seu contrário,

cada caminhar ausente,

da chuva presente,

num raiar escaldante,

desse inferno de Dante...

 

Sinto...

mas não sei o quê!

 

 

17.05.21

 

 

 

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A velha estrada;

Sempre a velha estrada,

Carregando pedaços de nada,

Traços e pinceladas,

De memórias passadas,

Imagens empoeiradas,

Que insistem em regressar...

 

A velha estrada;

Desfiladeiro de Deus,

Ousando a caminhada,

De um breve aDeus,

Indecifrável destino,

De "Zeus"...

 

A velha estrada;

Onde se escondem,

Amores e desamores,

Palavras e letras,

Rimas soltas e versos imprecisos,

Num rebuliço tão terno,

Como a brisa de um sorriso,

Que se estende de mão em mão,

Por entre o infinito...

 

A velha estrada;

A melodiosa vida,

Estrada inacabada,

De velhas feridas,

Cantadas em poemas,

Soletrados dilemas,

Que se perderão...

 

Em cada alma,

Em cada passagem,

Por essa estrada...

 

Estrada de Deus.

 

 

 

 

 

15.05.21

 

 

 

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Sei lá para onde caminho, nesse campo estreitinho, reduzida forma de reluzir a desesperança que se abeira do ninho, da estrada, despida empoleirada na beira do Ganges. Pouco ou nada sobra desse recital de piano, teclas e mais teclas em contraponto com o vento que se assoma, soma e subtrai no vaguear de almas prestes a chegar. Queira Deus que a orquestra tenha a vitalidade de um sopro, que o destino se desencontre com as nuvens, que as lágrimas se apressem a secar e o amor... ai o amor que reluz e contorce, que se disfarça e abraça, amassa e amarra, confunde e separa. Tantas palavras numa mistura de certezas, questões impertinentes que ameaçam a pertinência, num segundo continência, noutro incontinência como um compulsivo chorrilho de ideias, incontinentes ideias que arrogam o tupete de existir. Já não tocam os poetas, já não choram as marionetas, já não se prantam as inquietas querenças da antiguidade. Para onde foram os heróis? Onde se escondem os inexpugnáveis? Para onde foram as prometidas Odes à tamanha vontade de sonhar? Nada faz sentido, tudo é sentido, nada é imutável, tudo se dilui, assim caminha o tempo na infindável e indiscutível crueldade do seu compasso, deslizando silenciosamente como nada fosse, por entre... nós, pequenos pedaços de coisa alguma. Pouco importa a sorridente esperança, somente importa a louca vontade de amar. Pois o amor é a única coisa que nos liga ao divino.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

 

19.12.20

 

 

 

Sinto-me desprotegido;

Em cada esquina, um inimigo,

Em cada pessoa, um perigo,

A cada dia, sem abrigo,

A cada noite, menos um amigo...

 

Sinto-me desamparado;

Em cada imagem, assustado,

A cada grito, desesperado,

A cada tiro, desanimado,

Na minha casa, enjaulado...

 

Sinto-me a esmorecer;

Sem saber para onde correr,

Todos os dias a reviver,

Esses pesadelos, que queria esquecer,

Mas que insistem em aparecer...

 

E por entre dedicatórias;

Anotadas nesta história,

Feita de mortes, sem glória,

Para sempre na memória,

Desta terra,

Vitória!

 

 

27.08.20

 

Pé ante pé,

vou escavando a imensidão de sentimentos,

pequenos pedaços de fé,

cravados em tantos momentos,

submersos em mim...

 

Sussurrando soletradamente,

as surpreendentes angústias desgarradas,

pedaços de  estrelas cadentes,

que partem desamparadas...

 

E em cada retrato ao luar,

dessas partes esquecidas de nós,

vou repetindo sem parar,

esse adeus tão só...

 

Só e pestilento,

como só a crua tristeza sabe impor,

esse triste arrepio,

esse estranho torpor,

entorpecendo sombrio...

 

Pé  ante pé;

vou cantando bem baixinho,

cada letra do esquecido poeta

transformando água em vinho.

 

Pé ante pé...

 

até ao derradeiro entorpecer do querer.

 

 

 

 

 

20.08.20

 

 

 

Quando me sento para escrever;

para desabafar...

 

Tento escutar as entranhas minhas;

as vozes de poetas que sussurram ao longe,

palavras essas que se alvoroçam,

desbravadamente se inquietam na dimensão obliqua do desmedido prazer.

 

Mudei-me, assim, para bem longe;

numa intrínseca latitude que não consigo descrever,

Imbuído desse medo que se agiganta,

nestes tempos que se apresentam,

num desabitado palco.

 

Por entre fugas;

vai escapando esse querer maior,

sobrando a temerária incerteza,

de que não será a última vez...

 

E mesmo que o seja;

essa última vez descrita na melodia,

trauteada na voz trémula de uma poesia,

sobrevive a crença de que resistirá o sonho,

nesse pedaço de amar esperado, 

desenhado na desesperada vontade de um solitário amor.

 

E se assim for;

que seja eterno,

nas soletradas palavras que importa escrever.

 

 

 

 

 

 

23.04.20

 

Tanto amor, desamor, tantas viagens, caladas, tantas vontades silenciosas, por entre ruídos, tamanhas provações, em sonhos humedecidos, sorrisos entravados, com medo de voar, pedaços de sentir, escondidos em burkas, palavras mansas, perdão soltas, estúpidas celebrações, de coisas que não fazem sentido, estranhos contextos, desconexos textos, sapos e letras, palavras e tretas, cansado que estou...

Nada me faz querer, perdido se encontra, a razão de amar, soletrada descontracção, mergulho no mar, na cama da perdição, entrelaçado olhar, observando na escuridão, o braseiro aceso, tão quente de paixão, vai e volta, vai e volta, vai e volta...

Os cheiros que sobram ao longe, tão longe que parece perto, tão míope o olhar, queira DEUS, num adeus pedido, programado e fodido, choram as lágrimas no horizonte, escalopes de bisonte, ao longe...

Um dia...

Um dia volta a esperança, esse desejo que balança, desejo de ser Pai, de ser Mãe, de ser teu e meu ao mesmo tempo, de ser gigante e pequeno, ao sereno, de ser desmedido e comprido, tão vesgo e ferido que possa passar desapercebido, como a folha que cai de uma árvore nos primeiros pingos do outono.

Um dia serei Neptuno e Sereia, serei mão cheia de nada, diamantes e rubis, serei o respirar e vislumbre de querença, serei o bater desse coração que ama sem parar...

Em cada instante, por cada asfixiante segundo que se perde por entre a eternidade de nossas vidas.

Será demais dizer?

Amo-te!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

18.04.20

 

Tenho saudades...

Saudades dos meus, daqueles que me fazem falta, nesse grito maior que um telefonema não pode bastar.

Palavras que ganham desmedidamente valor, tentando descrever esse calor que falta, esse abraço que não chega, esse sorriso que se perde, por entre, as imagens do Watshaap ou do House Party.

Sei bem os tempos que vivemos e as medidas que temos de cumprir, no entanto, não será demais libertar essa "raiva" escondida em mim...

E aqueles que se encontram trancados sozinhos, sem ninguém com quem partilhar pelo menos o desabafo, o resmungar, o inevitável desespero que chega?

Distantes dos que mais queremos, de alguns dos que mais queremos, parece que este sentimento, a saudade, cresce, aumenta, desassossega o sentir maior.

Por vezes, no quotidiano, não damos valor aos pequenos momentos que se tornam hábito, aquele encontro diário com pessoas que se tornam "normalidade", até os vizinhos do prédio, da rua, encontros fortuitos se assemelham agora a "família", rostos do dia a dia que se tornaram pertença, aquele assemelhar de realidade perdida, perdida vontade de resgatar algo que sabemos perdido.

Um rosto sem máscara, um olhar desbravado de preocupações, por entre, vozes e silêncios.

Tenho saudades dos meus...

De mim.

Fecho os olhos buscando esse sentido meio entrelaçado à nostalgia que me assalta, nestas linhas ressaltada sem receios ou vergonhas, pois em cada gota de chuva que vai caindo do lado de fora da janela, busca a alma minha esse lavar de esperança, no nascer de novo, no querer desnorteado, na trémula escrita que se pretende firme e crente.

Tenho saudades...

Saudades de não ter saudades.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

03.03.20

 

Subi montanhas, inimagináveis montanhas, presas aos sonhos inacabados de outrora, aos arrependimentos de agora, às promessas caídas, hesitantes e feridas, a tantos desvelos, em incertos novelos, transbordando de querer...

Subi montanhas, essas tamanhas, onde se escondem tacanhas, as amarguras de uma vida.

Montanhas...

Montanhas agrestes, epidemias e pestes, marcando as vestes de um singelo abandonado.

Já não sobram as marcas, das arranhadelas tortuosas, lágrimas salgadas, palavras sinuosas, de enganos e reparos, esquecidos ao vento, pesado arrependimento, que jamais se repara.

O tempo passa, as escolhas precisas, as mágoas se escapam, por entre, armadilhas vazias, nessa imensidão de esperança que cede lugar ao entediante percurso marcado no trilho de Deus.

Olho para trás...

Bem ao longe...

Buscando as silhuetas de mim, dos meus, dos outros...

Olho para trás...

Para a frente...

Nessa presença, presente, que insiste em se fazer sentir.

Subi montanhas...

Subo montanhas...

Esperando no cimo de todas elas, encontrar esse almejado paraíso que tantas vezes sonhei e encontradamente desencontrar as incertas certezas que temerosamente, por vezes, me invadem.

Subi montanhas...

Para te reencontrar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

24.02.20

 

Palavras para quê?

Silêncios e comentários...

Vozes e nada...

Quebras quebradas de uma asa tornada expressão maior de tamanhos anseios.

Um trautear do vento, uma inquieta brisa desfeita, um abrasador tornear dessa corrente de ar que se impõe.

Tão vazio como a ventania solar, tão intenso como as palavras no mar, tão repleto como a maresia ao longe, despida de tudo, carregada de tanto, desnudada de si.

A longínqua esperança que aquece e avança, que esmaga e seduz, num momento reluz e noutro se cala desesperançadamente.

Silêncios e comentários...

Palavras para quê?

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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