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Caneca de Letras

02.05.20

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Antigamente...

Palavra crua, dura e sentida, meio perdida, inebriada, que reflecte o sentir pulsante do que ficou por viver ou sendo vivido se perdeu, esboroou, na penumbra do passar dos dias.

Não posso voltar atrás, não o posso fazer, nem reescrever cada pedaço de beijo entrelaçado, cada abraço embaraçado, cada olhar calado incapaz de soletrar esse amor esmagado por tanto, por tão pouco, por gigantes passos de outros...

Mesmo assim, escrevo silenciosamente as linhas mal escritas de um texto desgarrado, desgarradamente gritando à poesia a solidão de um destino desejado, emocionado, envergonhado, nebulosamente guardado nas melodias da velha canção.

Amar-te, sem reticências, foi mais do que um conto a meio da noite, um poema à beira-mar, uma bebedeira que surgiu na esquina de um sonho...

Amar-te é a palavra maior de um redesenhado desenho, um pincelar singelo, por entre, a solidão dessa imensa pintura no meio da multidão.

Tantas pessoas, tantos passos, tamanhas as palavras libertas no querer, nesse querer que se cala, esconde...

Mas sei que num recôndito lugar, distante, no horizonte de tantas vidas, ele sobreviverá, existirá sempre, longe de todos, perto de nós, mesmo que esse nós seja longínquamente difícil de decifrar.

Um dia...

Voltaremos a ser nós.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

11.03.20

 

Este Coronavirus além de perigoso é extremamente "chato"...

Da óptica de um hipocondríaco, este que vos escreve, esta malfadada epidemia incomoda em todos os quadrantes.

Não se pode tocar em portas ou objetos públicos, sem se lavar de imediato as mãos, não se pode cumprimentar as pessoas, nem beijinhos ou apertos de mão, temos de estar atentos a quem espirra ou tosse...

Além de hipocondríaco, este Canequiano é alguém que gosta do contacto com as pessoas, será uma contradição?, esse entrelaçado querer de ser educado com o outro, nesta viagem que todos cumprimos.

Apertar a mão ao senhor do café, um beijinho às meninas da padaria, a Srª Dª Maria e a Srª Dª Felicidade ou a saudação Leonina ao Sr. Fernando do Restaurante de sempre...

Nada disto é recomendável, nada disto se pode fazer, sem que o malfadado Coronavirus possa chegar e esventrar as nossas defesas.

Raios partam...

O meu lado hipocondríaco está alerta, mais do que nunca, imaginando espirros em cada esquina, perdigotos perdidos em cada lugar, mas o lado "bonacheirão" de alma sente o amarrar da preocupação que invade em cada notícia, se expressa em cada palavra.

Se até Marcelo Rebelo de Sousa, que sofre destes dois males que me caracterizam, já sucumbiu à quarentena, como poderá escapar este singelo Canequiano?

A primeira medida é adoptar o sentido Samurai da vida, esse nobre status de guerreiro, que através de leves vénias e singelos gestos demonstram a simplicidade da simpatia, o afecto discreto do ser...

Pois é assim que actualmente me comporto.

Uns metros de distância, um aceno ou vénia, esperando não encontrar ninguém a fungar ou a tossir.

Que este Coronavirus possa partir, esvoaçando pelo espaço para outra galáxia, deixando-nos novamente preocupados com aquilo que importa:

O planeta, a esquerda vs a direita, o futebol, a economia, o racismo, o amor, a poesia e afins.

Que saudades de banais discussões, entre o que importa e até algumas coisas que importam coisa alguma...

Mas de Coronavirus já estou, verdadeiramente, cansado.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

25.10.19

 

Estive a assistir à tomada de posse dos Deputados na Assembleia da República, assim como à eleição do Presidente da Assembleia da República...

Gabem-me a paciência, se faz favor!

No entanto, por entre, formalismos e conversa fiada, uma circunstância me chamou à atenção...

Os três novos partidos não puderam falar no hemiciclo, em contraponto com as restantes bancadas parlamentares, que usaram da palavra nesta abertura legislativa.

Um escândalo.

Dirão que faz parte do regimento, da ordem dos trabalhos, da tradição...

Mude-se!

Não faz sentido que na casa da Democracia, no dia em que tomam posse os eleitos da Nação, uns possam falar, discursar enquanto outros permanecem calados, silenciados por burocracias parlamentares.

O que mais me surpreendeu foi a aceitação deste facto por esses novos partidos que, tanto quanto pude me aperceber, nada fizeram para reclamar desta situação, desta estranha realidade.

Cadeiras?

Lugares?

Isto sim me parece uma questão pertinente para discutir, para debater.

Assim começaram os trabalhos parlamentares, por entre, filhos e enteados.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

30.08.19

 

Vai velho...

Vai velho que ainda caminhas, peixe sem espinhas pois os dentes já não ajudam, como se dentes ainda existissem, ao invés dessa dentadura meio gasta, que insiste em habitar na enrugada boca que vejo ao espelho.

Quem és tu?

Quem se mostra desse lado do reflexo de mim mesmo?

Os olhos sem cor, quase esbranquiçados, escondendo no fundo da alma a tristeza que um dia tomou conta, chegou de mansinho e se tornou presença insistente no dia a dia desesperançado do destino.

Vai velho que ainda aguentas com o fardo, mesmo que não fosse o tamanho fardo, maior do que a dor que se esconde em cada esquina, nessa ausência de rostos e cheiros, carinhos e palavras que foram desaparecendo com o tempo, levados por esse vento chamado vida...

Essa vida que brinda e arranca, que amarra e afasta, nos trespassa e beija.

Estou velho...

As mãos custam a fechar, as pernas a desinchar, os olhos a ver, o coração em parar de sofrer, nesse ardor ou viver que se aparenta com a angústia de um querer que escapou, esmoreceu, se perdeu por entre a incompleta vontade de sentir saudade.

Já não voltam as gargalhadas, nem as sentidas e emocionadas interrogações desse futuro por construir, correndo pela planície da alma, carregando os planos de um horizonte que não tardaria a vislumbrar.

A caneta a secar, as letras a escassear, por entre, as divagações de um velho poeta...

Estou velho...

Fechei a porta e deixei de sonhar. 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

17.01.19

 

 

 

Será que sabes;

Ou não interessará saber,

Que esse desconhecimento,

Virou sofrimento,

Que esse breve ferir,

Se tornou fugir,

Por entre, o que prometeu ser eterno,

Para sempre tão terno,

Mas num segundo,

Se quebrou profundo,

Nesse sentido da vida,

Amargurada ferida,

Transformando em dor,

O que um dia foi amor.

 

Será que sabes;

Que o que hoje é nada,

Prometeu ser tudo,

E se escapou,

Em cada lágrima,

Desencontrada.

 

Será  que sabes?

 

 

 

 

 

 

 

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