22.10.19
Ando pelas ruas, sem poiso, sem lugar aonde pertencer, numa frenética busca de algo que jamais ousei alcançar.
Perdi-me por entre rostos, cansados desgostos que oiço repetitivamente, numa desamparada correria entrelaçadamente alucinada.
Voltas e mais voltas nas pedras da calçada, dormindo aqui e acolá, fazendo de cada esquina, casa, em cada fria noite que me abraça, despedaçadamente solitária, desnudadamente sem retorno.
Já partiram todos os que importavam, mesmo persistindo nos erros que sobravam, assinaladamente desesperadores, sempre regressando ao mesmo tempo, momento onde se desamarraram as águas, se perderam as lágrimas, se soltaram as questões.
Estou cansado...
Tão cansado que já me esqueci desse cansaço, pequeno pedaço de mim, amargura sem fim, por entre, as soluçantes vozes de outrora.
Os que amei...
Os que esqueci...
Os que não importando se impuseram, como fantasmas regressando, vezes sem conta, para me atormentar.
Às vezes a penumbra, o trémulo vislumbrar do que ficou perdido no tempo, lá atrás, onde fui feliz...
Será que fui feliz?
Será possível?
Mais uma noite que chega, mais um dia que finda, nesta desventurada aventura denominada de destino...
Fecho os olhos, oiço o barulho dos carros, as vozes e passos daqueles que passam a meu lado no passeio, de tanto e tão pouco.
De tanto e tantos que partilham este mundo comigo e de tão pouco que me sobrou...
Para além desta tristonha solidão que me alimenta.
Alimentando cada pedaço de palavra que soletradamente salta de mim para o papel, do papel para as estrelas, das estrelas para um desencontrado reencontro com aqueles que um dia me pertenceram, que um dia partiram...
Até já.
Filipe Vaz Correia