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Caneca de Letras

27.02.20

 

Como posso escrever nesta Caneca de Letras, em forma de agradecimento ao seu autor por tão amável convite, sem temer não estar à altura do desafio?

Esta foi a pergunta que me ocorreu desde que o Filipe me convidou.

Acompanho o blog há pouco mais de um ano e sempre gostei desta forma interligada que por aqui se vive, com partilha e educação, numa troca de ideias sem azedume ou crispações.

Fazem falta espaços assim, onde se pode soltar uma opinião sem que nos caíam em cima, com agressividade e intolerância. Por estes dias vou observando o País real, esse campo onde a polémica impera, com discussões sobre racismo e direitos dos animais, vida ou eutanásia, futebol e mais futebol...

Estou desiludida com esta imagem do País, esta sociedade dividida e cada vez mais submersa numa incapaz gritaria que salienta diferenças, ao invés de nos unir naquilo que mais nos caracteriza.

Somos todos Humanos, iguais nos sonhos, semelhantes nas desilusões.

Sei que poderei ser utópica, sonhadora, perpetuamente incapaz de olhar para esta realidade, sem a esperança de acreditar. Acreditar em nós, todos, como civilização global, sem fronteiras ou barreiras que acentuem divisões, preconceitos ou violência.

Obrigado Filipe por este espaço e por poder, pela primeira vez, experimentar esta sensação de escrever num blog.

Espero não o ter defraudado.

 

 

 

20.02.20

 

Em primeiro lugar agradecer ao Filipe Vaz Correia e à sua Caneca de Letras pelo amável convite e oportunidade para escrever num blog que tanto gosto. Ao receber o e-mail que me desafiava para este No Caneca Com, senti a impaciente dúvida do tema, assim como a incerteza de estar à altura do dito desafio. De repente recordei-me de uma história que me levou aos tempos de criança, nesses tempos soltos onde era permitido sonhar. Todos os dias à porta de minha casa, no Porto, passava a mesma velhota, carregada de tristezas e maleitas, sempre apanhando o seu autocarro naquela rua, à mesma hora, dias a fio. Semanas a fio, meses a fio, anos a fio. Um dia deixei de a ver, ou melhor, um dia notei que a tinha deixado de ver. Já não era uma criança, tinha me tornado um jovem, um homem, mas aquela pessoa havia resistido à indiferença do tempo, ao desconhecimento da vida, ao passar de tamanhos e desmedidos momentos. Não sei o seu nome, nem a sua história de vida, no entanto, aqui se encontra presente neste texto que vos escrevo. Por vezes, a aparente distância sobrevive ao caminhar arrepiante desse compassar alucinante dos tempos modernos, ao corrupio que atropela sentimentos e vontades. Por vezes dou por mim a imaginar aquela vida, aqueles dias e noites em que a encontrava, eu de mão dada com a minha mãe, "ela" solitariamente amarrada ao mesmo saco de plástico. Nunca cruzei o olhar com a dita senhora, nunca lhe ouvi a voz, nunca lhe roubei um sorriso.No entanto, prefiro acreditar que de certa forma também ela me via, também ela me reconhecia, também ela imaginava o que estaria por trás daquele menino. Assim, sem palavras, construída em silêncios deixo-vos um retrato de alguém que sendo para mim estranha, se tornou numa das memórias mais vivas de um tempo que não regressa.Para a dita velhota... Deixo aqui um abraço, um carinho, tardio mas sentido, cumprindo na folha em branco o desejo que outrora não fui capaz de cumprir. Obrigado Filipe por estas linhas numa casa, Caneca, que aprendi a sentir como minha.

 

 

 

15.08.19

 

O Filipe, num gesto generoso, pediu-me um texto para publicar No Caneca Com

Uma surpresa agradável, que me deixou sensibilizada.

Confesso, eu que nunca digo não a um desafio, tive medo. Medo de não corresponder às expectativas. Medo de escrever na página de alguém que tem o dom da escrita.

Escrevi uns tantos textos, nenhum me agradou. De repente, uma epifania!

Faz dia 18, 4anos, que meu pai partiu. Aproveito o desafio para homenagear um homem de letras numa Caneca de Letras.

 

Memórias

Apesar do sol estar meio envergonhado, entre nuvens acinzentadas, comprei uma revista e sentei-me na esplanada.

Ao abri-la, olhei, distraidamente, para a data. Uma nuvem, como a que encobria o sol, turvou-me a visão.

Faz hoje 4 anos que me privaste do teu sorriso doce e envergonhado.

Vieram-me à memória os momentos que partilhamos, as sonoras gargalhadas que soltavas, a tua voz a declamar Sophia, Pessoa e Mourão Ferreira.

Os almoços de domingo que se prolongavam pela tarde. Tinhas sempre qualquer história para me contar e simultaneamente tornar-me mais rica de saberes.

Recordo o teu escritório, onde sempre tão bem te sentias, rodeado de livros, jornais e revistas que lias sofregamente, e, se fosse fim-de-semana, tinhas ao lado um copo de whisky, que sempre te preparava seguindo a tuas instruções “dois dedos de whisky, água Perrier e 2 pedras de gelo.

A tua velha máquina de escrever ainda lá está. Ao lado, o portátil que a destronou e as canetas de tinta permanente que cuidadosamente enchias aos domingos.

Recordo as “aulas” que me davas de bem falar português. A insistência, quase obsessiva, com que dizias - o verbo haver nunca tem plural se for sinónimo de existir. Rio e frio são palavras dissilábicas, por isso tens de pronunciar ri-o e fri-o.

Continuo com dificuldades nas vírgulas. As vírgulas, o meu calcanhar de Aquiles. Nunca sei onde coloca-las (que pena estar desatenta quando me ensinaste). Assim, como dizias, abro a “caixinha” onde as guardo e deixo-as cair ao sabor da brisa.

Tal como no poema de Mourão Ferreira “Há de vir um Natal e será o primeiro em que se veja à mesa o meu lugar vazio”. Para mim esse Natal chegou, repleto de memórias. A ansiedade que em criança esperava que viesses da “repartição”, como dizias, para decorarmos a árvore, com bolas coloridas, fitas brilhantes e algodão a fingir a neve que o calor dos trópicos não tinha.

Olho em redor, solícito, o “garçon” (palavra que me ensinaste), aproxima-se. Ainda a pensar em ti e na tua paixão pela escrita, digoPor favor, uma caneca de letras”- as letras que tanto amavas misturar e transformar em poemas, ensaios e artigos para jornais olha-me admirado, responde, não temos.

Pode ser dois dedos de whisky, água Perrier e 2 pedras de gelo.

Saravá pai

 

Muito obrigada Filipe!

 

 

Maria

 

27.06.19

 

Obrigado ao Filipe Vaz Correia por promover este entroncamento, entrosamento, entre bloggers, escritores, profissionais e amadores que tiram algum tempo do seu dia para ler o que outros escrevem, sem censura ou amargura de o já ter lido noutro espaço impresso…

 

Não costumo receber convites para escrever noutros blogs!
Não costumo escrever noutro blog que não o meu.
Não costumo receber convites, sejam para o que for…
Costumo escrever e escrevo sem convite!

 

A minha motivação para escrever surgiu quando comecei a ler demasiadas coisas que me desagradavam. Não sei criticar sem sugerir ou corrigir sem fugir com o cú à seringa!

 

Já não me recordava o que sente quando se escreve sem uma extensão para contar os vocábulos e os caracteres. Ah! E de um plugin para SEO! Não há pressa, há mais tempo. O cursor teima em piscar como aqueles metrónomos analógicos engraçados que se emanciparam dos relógios antigos de parede. É uma sede sem líquido turvo e uma fome que não dorme ou que precisa que a dome. Pratiquei demasiada dieta de letras e bebi duma caneca de cometas mornos…

 

Sinto que podia ficar aqui o dia todo, mas tenho de me levantar. E continuar a escrever…
De pé. Numa daquelas bandejas frias e pequeninas com um monitor que me cega e me obriga a pressioná-lo com o máximo de dedos possíveis e me força a justificar por que foram intangíveis aqueles retrógrados resultados?!

 

Apesar de breve foi bom, sem um pesar de greve sem tom!!!

 

Hoje vou lavar a minha caneca e fazer um chá diferente!
Que seja mesmo quente, que eu bata o dente, que a tenha de segurar com ambas as mãos para apontar com a asa para a frente… 

 

 

Hetero Doméstico

 

 

06.06.19

 

 

 

Bom dia!

 

Quem me conhece, já sabe que eu gosto de interagir... de comentar post’s alheios... e, há algum tempo que me tornei visita assídua neste ilustre cantinho.

 

Ontem, o Filipe escreveu um post sobre uma notícia triste, que dava conta que uma jovem holandesa, de 17 anos, resolveu pôr termo à sua vida, alegando sofrimento emocional insuportável...

 

Como não podia deixar de ser... manifestei a minha opinião, (tendo por base a minha vivência profissional), em forma de comentário... e... fui surpreendida pelo Filipe, com um generoso e amável convite para escrever nesta sua casa...

 

Como gosto de desafios e de partilhar as minhas experiências, não poderia recusar tão ilustre convite, que muito me honra e agradeço...

 

Sou enfermeira, paliativista, tendo dedicado a última década da minha vida à prestação de cuidados paliativos domiciliários, em que tive o enorme privilégio de acompanhar (cuidar) algumas centenas de doentes oncológicos em fim de vida (e respectivas famílias/cuidadores).

 

Os cuidados paliativos são muito mais do que “simples” controlo sintomático... todos os temas da vida são abordados, desde que a pessoa cuidada, assim, o deseje... e... é comum abordar o fim de vida... falar sobre a morte...

 

Muitas pessoas verbalizam como gostariam que fosse a sua morte e que, regra geral, se “resume” a ausência de sofrimento... porque, na verdade, o que a maioria teme não é a morte, em si, mas sim o sofrimento que lhe está associado...

 

Da minha experiência (que... vale o que vale), não tenho uma única situação em que a vontade de pôr termo à vida tenha sido manifestada...

 

Apesar de paliativista, assumida e convicta, não defendo que os cuidados paliativos devam constituir a única opção... defendo, sim, o livre acesso a cuidados paliativos, a todas as pessoas que deles precisem e os aceitem receber... no entanto, admito que, mesmo, com recurso a estes cuidados, algumas pessoas possam manifestar vontade de pôr termo à sua vida e, para esses, deverá haver opção, mediante critérios bem definidos, obviamente...

 

Eu sou favorável à decisão individual, livre e esclarecida (e, sublinho, esclarecida) sobre o destino a dar à própria Vida...

 

Mas convém salientar que, no actual quadro legal, tais práticas (eutanásia, suicídio assistido) não são permitidas em Portugal.

 

Para concluir esta minha partilha... gostaria, apenas, de expressar a minha enorme gratidão para com todos os doentes e respectivas famílias/cuidadores, que me deram o privilégio de enriquecer a minha vida e de aceitar ser cuidados por mim.

 

Apesar de ouvir a palavra “OBRIGADO” proferida (vezes sem conta), por eles, eu é que tenho razões de sobra para agradecer, porque recebi sempre muito mais do que dei...

 

Eu não os ensinei a morrer mas eles ensinam-me, todos os dias, a VIVER, a aproveitar cada momento!...

 

MJP

 

 

 

23.05.19

 

 

 

De amor nua

 

De amor nua
bailando na brisa
que teima em passar,
é filha da rua
maior poetisa
que sabe ensinar;

 

Cabelos ao vento
acorda dorida
de tanto dançar,
é o desalento
da alma sentida
que a faz soluçar;

 

Um raio de luz
calor do universo
para a consolar,
vida de cruz
caminho incerto
para onde rumar?

 

Malik

 

 

 

 

 

 

 

 

 

09.05.19

 

 

 

Obrigada Filipe pelo convite,

Venho partilhar, neste momento na caneca, que me sinto uma Alien.

Se vos disser que nunca vi um episódio da “Guerra dos Tronos”, sei que não sou a única, mas se acrescentar que não tenho Netflix, nem HBO.

Digam lá se não vivo noutro planeta?

Ainda não tive vontade de experimentar nenhum. Por alguns momentos, que não passaram de 2 conversas à hora do almoço, tive pena de não ver a Casa de Papel, mas nem assim.

O que é que estranho, porque gosto imenso de ver filmes e séries e sou uma consumidora assídua dos canais cabo. Contudo, gosto da sensação de aguardar pelo próximo episódio da série X que vai dar na terça feira ou da série Y que vai dar na quarta e não me agrada a ideia de fazer maratonas a ver uma série. Talvez seja por isso que nunca instalei nenhuma das plataformas, porque sei que iria ficar agarrada à TV.

Neste sentido, considero-me uma Old fashion televisiva (só para ser um nome bonito), e pergunto-vos, há mais alguém por aí?

 

 

Porque Sim

 

25.04.19

 

 

 

A Liberdade

Chegou neste dia

Com uma verdadeira ousadia

De tão grande simplicidade

 

Resolveu pernoitar

E dormir com calma

De corpo e alma

Para de novo acordar

 

Até hoje ficou

E a todos suplicou

Para não ir embora

 

Para não ser esquecida

Ou voltar a ficar perdida

Como foi outrora

 

 

Sal e Pimenta

 

 

 

 

18.04.19

 

 

 

Isto de ser mãe

 

A minha filha mais velha sempre adorou o mar. De tal maneira que cheguei a pensar que teria sido sereia noutra encarnação.

Mal se segurava em pé e já entrava na água como se fosse o seu mundo. Simplesmente avançava...

Um dia, em vez de a agarrar, coloquei-me atrás e deixei-a ir (quem conhece a Lagoa de Albufeira sabe que são águas paradas, sem perigo). Ela foi caminhando, segura e serena, e nem mesmo quando a água lhe tapou a boca e o nariz, quis recuar. Eu só a levantei quando sentiu a aflição de não conseguir respirar.

Não sei se aprendeu a lição mas eu aprendi.

Aprendi que ser mãe não é antecipar os perigos ou impedir certos percursos. Não vale a pena!

É deixar que decidam e que avancem, em busca daquilo que querem.

É permitir que errem em águas serenas.

É estar atrás, pronta a agarrar quando já não há caminho.

 

Talvez por isso, ganharam confiança e aprenderam a voar atrás dos sonhos.

Embora eu, passadas quase duas décadas, continue apenas um passo atrás, em estado de prontidão. Afinal, a vida dos jovens quase que se resume a escolhas incessantes e nem sempre os trilhos conduzem ao melhor destino.

 

Ainda não tenho a certeza se é isto que é suposto ser mãe.

Mas pelo resultado, parece que não me saí lá muito mal.

 

3ª Face

 

 

 

 

28.03.19

 

Será isto um pai?
Ouvir conversas alheias no autocarro não faz de nós coscuvilheiros, mas alerta-nos para casos estranhos que se passam na nossa sociedade, muito provavelmente na porta da frente.
A moça que ia sentada ao pé de mim, como sabem é impossível não ouvir o que diz quem está ao nosso lado (a não ser que se seja surdo, e eu sou praticamente de um dos ouvidos, e ainda assim ouvi) então dizia ela que o dia de ontem tinha sido muito difícil, até lhe tinha dado vontade de chorar.
E pelos vistos tinha razão para isso.
Que o patrão fartou-se de lhe gritar em frente da filha dele, chamar nomes e ameaçou de a despedir, por ter permitido que a filha voltasse da guarda partilhada em casa da mãe com um elástico no cabelo diferente do que tinha levado.
Então com o decorrer do telefonema percebi que a desgraçada da miúda, não pode trazer rigorosamente nada da casa da mãe, a roupa com que sai, é a roupa com que entra em casa! Nem umas cuecas, nem uma meia pode ser da casa da mãe. Sob pena de gritos, e mais gritos lá pela casa e ameaçar a miúda que não volta a casa da mãe.
A moça lá ia descrevendo que é sempre assim, todas as vezes que a miúda vem até com o modo como o cabelo está apanhado ele reclama!
Agora eu pergunto-me o que é que este pai anda a fazer a esta criança, que vive aterrorizada com este cenário?
Até que ponto chegam estes pais nas disputas parentais?
O que se passa na cabeça destas pessoas, que nem os filhos protegem, antes pelo contrário, prejudicam-nos das piores formas?
Chocam-me estes casos...

 

 

A Rapariga do Autocarro

 

 

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