Há mais de 30 anos que deixei de acreditar no Pai Natal...
Deixei de crer nessa fábula cheia de magia, nesse homem de barbas brancas, barrigudo, que durante a noite de Natal, percorre o mundo no seu trenó, puxado por renas trabalhadoras, descendo chaminés, para que nenhum menino fique sem os presentes por que tanto haviam sonhado, durante o ano.
Acreditava tanto nesse mágico mundo, que ficava acordado tentando espreitar pela porta da cozinha, na casa da minha Tia em Santa Luzia, na esperança de poder vislumbrar esse herói que povoava a minha tenra mente.
Nada era mais encantador que este pensamento, deste velhinho barbudo e os seus Duendes, trabalhando todo o ano para que naquela noite, todos os meninos do mundo tivessem direito à sua pequena parte de felicidade.
Como qualquer criança, existe um dia em que somos confrontados com essa imensa desilusão, com essa realidade que esventra o sonho e nos desperta para a racionalidade que povoa o mundo dos crescidos...
Dos adultos.
O Pai Natal não existe!
Frase chocante porém verdadeira e que nos faz deixar de sonhar...
Assim cresci, senti-me adulto, já não uma criança, pois havia ultrapassado aquele conto para meninos pequenos.
Assim se passaram trinta anos, a contar a mesma história a sobrinhos, a ver crianças a passar pelo mesmo sonho irrealista...
Mas a serem felizes.
Até que um destes dias, na minha televisão o Pai Natal apareceu...
Um homem de barbas longas e brancas, despido do seu fato encarnado, de lágrimas nos olhos e com uma história para contar:
Morrera o seu Duende mais querido...
O número um.
Um menino de cinco anos, que agonizava na cama de uma unidade hospitalar, pedindo a presença do Pai Natal...
E ele chegou.
Eric Schmitt-Matzen, o nome do Octogenário que se abeirou da cama daquela pequena criança, moribunda e que através daquela imagem sentada na beirinha do seu leito, voltava a sorrir.
O medo de não saber para onde iria, passara, o receio dessa famigerada morte que certamente inquietava o seu coraçãozinho, amenizava, a esperança de um encontro há muito desejado ganhava vida.
Num último abraço, aquele Pai Natal acolhia no seu regaço toda uma vida, curta, passageira, mas a esperança e alegria que este mesmo abraço representava era maior do que os medos, o tempo, o sonho...
Era maior que tudo!
Naquele instante o menino soube, através dos seus olhos e do seu coração que o Pai Natal existia, era real, estava ali com ele.
Assim morreu, acochegado por aquelas longas barbas brancas, daquele homem que muitos dizem não existir.
Para trás, ficavam as lágrimas que escorriam pelo rosto daquele velho homem, que descera a chaminé daquele hospital, para trazer um pouco de magia a um cenário carregado de tristeza.
Através destas imagens, das palavras de Eric, também eu voltei a acreditar, a ter essa certeza...
O Pai Natal existe e estava ali diante dos meus olhos.
Pois só o Pai Natal poderia ter uma história destas para contar.
Filipe Vaz Correia