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Caneca de Letras

29.04.21

 

 

 

O mundo visto a cores ou as cores que se transformam em preto, branco, nada...

Estava a tomar o pequeno almoço, tardio, quando chegou um grupo de três meninas e um cão.

Olhei enquanto escrevia uma ou outra palavra, num texto que acabaria por apagar...

E ali, num segundo, o meu maior medo, não sei se maior mas um dos mais antigos, se dispunha diante do meu olhar, num quadro transparente de um vazio assustador.

A cegueira!

Uma daquelas meninas, jovem senhora para ser exacto, era invisual, completamente amarrada a esse mundo que parecia não lhe toldar o caminho, impossibilitar o destino, prender o passar do tempo que lhe pertence.

Não consegui deixar de estar atento aos pormenores, numa espécie de atracção pelo absoluto medo que desde criança sempre me perseguiu.

O cão, um labrador preto, ali estava, deitado a seus pés, impecavelmente comportado, parecendo saber, antecipadamente, cada movimento...

O pé que balançava, a mão que amiúde o acarinhava ou até o preciso instante em que lhe dariam o tiro de partida.

Olhei para ela com esse misto de admiração e receio, admirando cada pedaço de normalidade traduzida em seu rosto, plasmada em cada palavra por si trauteada e ao mesmo tempo esse receio pelo medo que sempre senti...

Existe uma coragem naqueles gestos, uma ternura na extensão de um olhar amarrado àquele animal que se transforma no porto seguro do destino de alguém.

Não pude deixar de olhar, de sentir, de escrever...

Escrever sem parar, retratando aquele ardor triste, aquele corajoso cenário de uma beleza sem fim.

Neste entrelaçar que une aquelas duas vidas, Cão e Menina, resiste a mais bela conjugação de cores, desenhadas na imaginativa imaginação de um conto...

De uma vida.

Levantaram-se e partiram, de “mãos” dadas, enquanto o meu olhar os acompanhava nesse rumo infinito pelo Campo Pequeno, num quadro tão intenso como a imensidão desse mundo que só a eles pertencerá.

Tantas cores e sonhos que desconhecemos conhecer...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

25.02.17

 

Era uma vez uma menina, que sonhava poder voar, repetindo nos seus sonhos, essa crença a soletrar, através das palavras que cresciam alegremente no olhar, cada vez, que via aquele recital...

Todas as noites ao adormecer, fechava os seus olhos, esperando poder sentir esse vento a chegar, como os pássaros, esvoaçando sem fugir, desse destino que tanto ambicionava.

Noite após noite, intocáveis pensamentos, que tomavam conta desses desejos impossíveis, difíceis de realizar...

No seu olhar encantado, uma esperança que não cabia dentro da sua alma, alvoraçando inquieta as angústias insistentes, guardadas secretamente, na expressão daquela imagem, sempre presente.

Tantos anos se passaram, desde que aquela menina, com os braços abertos, julgava poder cobrir os céus, na imensidão da sua dor, que alimentava os sonhos imaginados...

E nesse dia, naquela história, no cimo daquele palco, em cima daquelas tábuas de madeira, o passado regressava, para se fundir com o seu coração.

Abriam-se finalmente as cortinas, deparava-se com aqueles olhares indiscretos, das gentes sentadas, naquele teatro lotado da sua infância...

E ali de pé, com aquela música como pano de fundo, abria novamente os seus braços, a menina, agora mulher, saltando eternamente diante do infinito, enquanto abraçava esse destino, que tanto desejara tocar.

Voando por entre as nuvens e os desejos da sua terna infância, encontrava-se submersa, no imenso contentamento da sua alma.

E assim, uma bailarina, menina, mulher, ganhava naquele momento, naquela vontade, as asas com que sempre sonhara...

Bravo!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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