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Caneca de Letras

16.07.17

 

Muitas vezes estou sentado na praça do Areeiro, na Pastelaria Cinderela, contemplando esse mundo inexistente, de um tempo onde fui feliz...

Muitas vezes estou ali pensando, em tempos que não regressam, em amizades que fugiram, em momentos que guardarei intemporalmente.

Como escrever sobre pessoas que marcaram essa imberbe vida, que representaram tanto, sentindo cada instante hoje fugaz...

Ainda parece que aqui lancho todos os dias, que a cada mês a minha querida mãe aqui vem pagar os suspiros e dedos de dama que me deleitavam.

Como passaram rapidamente trinta anos, como se escaparam sem dizer, por entre, os dias encobertos da minha imaginação...

De lá para cá ganhei amigos para a vida, desilusões eternas, buscas infindáveis que tinha como certas e certezas tão incongruentes que era incapaz de decifrar.

Mas ali se mantêm as janelas, as pedras da calçada, caladas, serenas, segredando as aventuras e agruras pelas quais passei...

Ainda guardo dentro de mim sorrisos daqueles que desapareceram, lágrimas sentidas por aqueles que na minha mente ainda moram, memorias intemporais que não desejo apagar.

Ali ainda moram professores, colegas, amigos...

Ali ainda te vejo sorrir, meu caro Luís, contemplando este amigo que sempre te foi leal, pois essa partilha é o que nos tornou absolutamente ligados, sem exceção, sem limite .

Ali estão guardadas as memórias da minha meninice...

E com elas grande parte de mim mesmo!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

27.05.17

 

Era uma vez um menino impregnado de esperança, amarrado aos seus livros ansiando encontrar naquelas palavras algum conforto para a sua inquieta insatisfação...

O seu quarto era poiso de muitos mundos, guardava muitos segredos, muitas vontades, muitos sonhos, fechados por trás da porta que o separava do resto da casa.

Os seus avós, velhinhos, não sabiam que dentro daquelas paredes o seu neto podia esvoaçar por locais desconhecidos, encontrar destinos inimagináveis, reencontrar rostos perdidos.

Podia até sonhar...

Sonhando que a eternidade lhe ofereceria o direito de ter sempre perto de si aqueles que mais amava, aqueles que mais amou, aqueles que amaria para sempre.

O tecto do seu quarto tinha por vezes nuvens cinzentas, outras vezes um radioso sol, as paredes estavam cheias de árvores pejadas de animais e o chão...

Por vezes o chão parecia desaparecer para que ele pudesse levitar com as asas da sua imaginação.

Tantas e tantas vezes que ali, o mundo se tornava uma aventura, onde a qualquer momento surgia um amigo, se reerguia um inimigo, se degladiavam Reis e Príncipes, por Reinos e castelos.

Tantos anos se passaram desde que o menino cresceu, saiu e verdadeiramente voou, para deixar para trás essas aventuras que o moldaram no segredo da sua infância.

Até ao dia...

Esse dia em que regressou à mesma casa, ao mesmo quarto de sempre, sem os Avós, sem os quadros, sem os sonhos.

As paredes vazias reencontravam neste Homem, aquele menino que um dia ali morou, o mesmo menino que  um dia desejou que aquele reino, o seu quarto, fosse eternamente eterno.

E nesse momento, sabendo que o destino nem sempre cumpre as promessas sonhadas por uma criança, este antigo sonhador deixava apenas que as suas lágrimas pudessem brindar aquele chão de onde partira...

Já não conseguia sonhar mas ainda tinha memória para recordar a criança que um dia dentro dele esperançosamente habitou.

Habitando por entre as saudades desse mundo e desses Avós eternamente seus.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

30.12.16

 

Dou por mim a pensar, nestas árvores que ladeiam a minha rua, no esvoaçar dos seus galhos, no cair das suas folhas, na vida que se esconde para lá da sua aparência...

Quantas vidas passaram por elas?

Quantas almas se cruzaram com o bater das suas folhas?

Quantas histórias ficaram cravadas no tronco da sua idade?

Perguntas que me invadem enquanto as observo e me interrogo...

Nesta constante repetição, ano após ano, elas crescem, ao encontro desse céu, para nós divino, guardando memórias, esperanças, tristezas, vidas que um dia ali se cruzaram.

Quantos namorados ali fizeram juras de amor?

Quantas lágrimas regaram as suas raízes?

Quantos momentos ou tormentos presenciaram...

Serei mais um, que as contempla, que as admira...

Serei mais um que escreve sobre a sua beleza, as suas emoções?

Terão memória estas árvores?

Chorarão elas a cada partida de um simples Homem, que um dia conheceram?

Viram Filhos transformarem-se em Pais, Avós que já foram Netos, Vidas que ainda não nasceram, mortes que ainda não chegaram.

Nestas questões que me perseguem, nestas dúvidas que me assolam, vejo uma vez mais, essas folhas que insistem em cair como se de lágrimas se tratassem, tombando sem receio de tocar o chão da minha rua...

Fecho a janela de minha casa e deixo para trás aquela imagem, aquele pensamento que tantas vezes me preenche a alma, acreditando no entanto, que mais uma memória terá ficado nas Árvores da minha rua.

 

Filipe Vaz Correia

 

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