Era uma vez um menino, que tinha medo dos pesadelos que se escondiam debaixo da sua cama, à noite, no seu quarto, naquela escuridão imensa que assombrava a imensidão da sua pequena alma.
Aquele quarto pequeno, aquele tecto trabalhado, aquelas sombras meio perdidas, escondidas que ameaçavam polvilhar aquela tenra imaginação...
Tinha medo que o levassem, que o aprisionassem nesse mundo obscuro escondido debaixo da sua cama e de onde era possível sairem os monstros mais terríveis alguma vez imaginados.
Nem a luz de presença o tranquilizava, nem os passos dos adultos o reconfortavam, nem a esperança sem fim de que a sua mãe o viesse tapar o deixava tranquilo, menos nervoso...
Tanto medo num pequeno coração, num menino que se escondia debaixo dos lençois.
A coragem que ele queria ter, por vezes parecia se apróximar, encher a sua alma e numa força sem fim, dar-lhe aquele pedaço de determinação para sorrateiramente espreitar para debaixo daquela cama, às vezes navio, buscando corajosamente encontrar o vazio que racionalmente ali teria de estar...
Mas essa determinação passava, esse medo regressava, voltava, vindo do nada, preenchendo novamente esse receio imenso que teimosamente insistia em não se calar.
Esse menino cresceu, esse quarto já não lhe pertence, essa cama já não existe, esse medo desapareceu...
Esse menino guardado no fundo da minha alma, já não chora com medo dos monstros que se escondem debaixo da sua cama, já não receia a escuridão que se instalava no seu quarto...
O menino que um dia fui, apenas sente saudades, desse tempo, desses medos próprios de uma irrequieta imaginação, dessa imensa angústia de perder aquilo que tanto estimava...
A infância que não regressa.
Filipe Vaz Correia