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Caneca de Letras

09.11.17

 

Sempre detestei Pep Guardiola, o treinador, enquanto o jogador adorava, um dos melhores seis que vi na minha vida...

Guardiola não corria, deslizava, não passava, poetizava, não desarmava, gentilmente dançava como se de Nureyev se tratasse.

No entanto, a minha embirração com Guardiola começa naquele Super Barcelona, protegido por todos, imaculado de criticas ou reparos, que insistentemente me desesperava...

Mourinho chegara a Madrid e a batalha começara, a verdadeira batalha entre dois dos maiores jogadores, Messi e Ronaldo, entre dois dos melhores treinadores, Mourinho e Guardiola.

E o que fez Guardiola, na primeira vez que perdeu para Mourinho?

Fugiu...

E que desafio escolheu?

Bem, chamar o Bayern de Munique de desafio, é na verdade uma força de expressão, pois inevitavelmente ganharão 90% dos campeonatos que disputam.

É dessa cobardia que vem a minha irritação com Pep Guardiola...

Esse comodismo, que lhe permite um tiki-taka, enfadonho, sem contraditório.

No entanto, tudo mudou...

Guardiola voou para Manchester, para o City e eu disse a todos os meus amigos:

Agora vamos ver o que vale Pep!

Primeira época muito difícil, deixando antever um fracasso anunciado, um falhanço na primeira, verdadeira, aventura sem rede.

E não é que como um bom trapezista, Pep Guardiola, para minha imensa surpresa, inventa uma táctica, espécie de 5x3x2, libertando Silva e De Bruyne, nas costas de Aguero e do menino Gabriel de Jesus, solidificando os processos, libertando os génios enquanto os trabalhadores se entregam sem esmorecer.

Guardiola encontrou um compromisso entre o génio e o equilíbrio, num campeonato onde não existe tempo a perder e onde a cobrança não aguarda lugar...

Excepto no Arsenal.

Ao contrário de José Mourinho, Pep Guardiola não cristalizou e acabou por transformar um céptico, num crente...

Ou melhor:

Para mim, como adepto de futebol, Pep é o melhor.

Estou rendido.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

23.05.17

 

O pesadelo tornou-se realidade ontem à noite, num concerto de Ariana Grande, em Manchester...

Como é possível?

Pergunta que atormenta todos os que assistiram incrédulos, às noticias que passavam de televisão em televisão pela madrugada a dentro.

Crianças, adolescentes na sua maioria, em pânico, desesperados saboreando pela primeira vez aquilo que nenhum Ser Humano deveria experimentar:

O desesperante horror de um atentado terrorista.

Ao ver aquelas imagens a sensação com que ficamos, é de uma insegurança constante, existente em qualquer ponto do mundo, à mercê de um qualquer alucinado que sinta nos desmandos do seu errante cérebro, um chamamento para este terror sem quartel...

Como prosseguir com a rotina, sem que esse crescente medo tome conta de todos aqueles que querem viver sem as amarras de um tormento presente?

Como nos libertar dessa constante preocupação por nós e por aqueles que amamos?

O que directa ou indirectamente estes terroristas medievais pretendem, é na verdade, condicionar o dia-a-dia das pessoas, introduzindo essa mesma insegurança, como um padrão comum ao quotidiano cada vez mais sombrio, nesse receio tão Humano que nos invade...

Como pode um pai deixar o filho ir a um concerto sem que esta preocupação o tome de assalto?

Como conviver com este tormento de a qualquer momento um louco destruir a vida de alguém que amamos?

É neste tipo de dúvida e de pesadelo, que se encontram aqueles que vivem nestas sociedades atormentadas por este tipo de radicais, sem amor pela vida do outro ou mesmo pela sua...

E assim importa recordar o único caminho que temos para lutar contra este tipo de terror:

O de não cedermos ao medo, à insistente vontade, de condicionarem o nosso modo de vida.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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