21.12.16
Vi-te velhinha;
De mãos ao vento,
Vazias, calejadas, penduradas,
Contando o tormento,
E há muito abandonadas...
Sentada na porta de uma casa;
Com o desespero estampado no rosto,
À espera que a morte dê asa,
E lhe chame para o seu posto...
Nesse dia quem passar;
Não mais a irá ver,
Provavelmente sem notar,
Que a velha acabou de morrer...
Mas o que importa uma mulher;
Imunda, suja, desesperada,
O que importa querer ver,
Aquela alma cansada...
Esquecemos é que um dia;
A velha já foi gente,
Era nova e até sorria,
E tinha sonhos na mente...
Por partidas do destino;
Encontrou a solidão,
A tristeza levou-lhe o tino,
E a dor o coração...
Assim que Deus nos proteja;
De tamanha maldição,
E que longe o dia esteja,
De nos levarem ao caixão...
E vazia ficou a porta;
Mais limpa aquela rua,
Pois já não sofre a velha torta,
Nem a sua alma nua...
Aqui passou uma vida;
De lágrimas, desgostos, sofrimento,
Acabou coitada, perdida,
Por entre a chuva e o vento...
Adeus velho coração;
Que Deus a todos nos guarde,
E que nos evite a emoção,
De igual, destino cobarde!