17.04.20
Neste dia descobri que num qualquer prédio em Espanha, uma médica viu o seu carro vandalizado pelos seus vizinhos, pelo singelo facto de ir a casa após as suas horas de trabalho, na linha da frente desta batalha...
"Rata Contagiosa"
Foram estas as palavras que foram escritas no carro da médica, na garagem do seu prédio, por um ou mais medíocres que apoderados pelo medo e pela sua ignorância, extravasaram assim o reflexo da sua pequenez.
Não é o primeiro caso e não será, infelizmente, o último.
Desde a jovem que trabalha nos supermercados até aos médicos que lutam por todos nós, este egoísmo em forma de barbaridade, transparece um pedaço dos Homens que habitam entre nós, Sociedade, e que em momentos como este revelam a essência de suas almas.
Parece que estes casos têm aumentado por terras Espanholas, não sendo atitudes exclusivas de "neutros hermanos", mas que definem, sem hesitação, a grande epidemia que se esconde em tempos como este...
A ignorância e mesquinhez de alguns.
Que atitude esperar de gente como estes vizinhos, se por alguma razão se instalar a ideia que os velhos serão, ainda mais, potenciais factores de risco?
Para eles mesmos e para os outros?
Neste prédio, na impunidade de uma qualquer reunião de condomínio, certamente se aprovaria que fossem prontamente despejados e se por acaso levantassem objecções, medidas mais severas se poderiam implementar.
O mundo avança, felizmente, com muitos casos que contrariam estes episódios, esta miséria cobarde que amiúde nos invade através destes relatos carregados de tristeza e surrealismo.
Num dia em que desapareceram Rubem Fonseca e Luís Sepúlveda, quando a beleza da escrita e da cortante imaginação fica mais pobre, convém acentuar o perigo da ignorância, da boçalidade encapotada, nos gestos de poucos mas disfarçadamente submersa na tímida vontade de muitos.
Convém não esquecer...
Filipe Vaz Correia