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Caneca de Letras

11.06.19

 

 

 

Por cá andamos entretidos com a chegada de Jorge Jesus a terras Brasileiras, no entanto, por lá novidades preocupantes ganham força e tornam-se conhecidas do grande público.

Por estes dias foram reveladas mensagens trocadas entre o Procurador e o Juiz encarregues da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol e Sérgio Moro, actual Ministro da Justiça.

Sinceramente não é algo que me surpreenda, pois como já aqui várias vezes escrevi, tenho absoluta aversão a Juízes providenciais ou a Justiceiros populares.

Sei bem que num tempo de grande revolta e desencanto em vários pontos deste nosso globo, as sociedades e os seus cidadãos tendem em buscar na individualidade "divina", vulgo Homem Providencial, a resposta para combater as injustiças sentidas pelo "Povo".

Normalmente dá errado.

Não tenho dúvidas, convicção sustentada pelas peças jornalísticas saídas do processo, que Lula da Silva é culpado de corrupção, que a política Brasileira está apodrecida e envolvida em casos escandalosos, condenáveis não só criminalmente, como moralmente.

No entanto, a base de uma justiça saudável e confiável é a Imparcialidade do seu julgamento, o assegurar que todos, sem excepção, poderão contar com um tratamento irrepreensível da parte do julgador...

Aqui reside o problema da questão, Sérgio Moro já tinha dado indícios da sua extrema parcialidade neste caso da Lava Jato, já tinha dado sinais da sua pretensão política, aceitando entrar para o jogo político tendo sido ele parte efectiva nesse mesmo jogo que levou à eleição de Bolsonaro.

As mensagens reveladas por estes dias, expressam não só uma relação perigosa entre Juiz e Procurador, como também demonstram uma participação quase tutorial da parte do Juiz em relação ao Procurador, o que desvirtua completamente a noção isenta de Justiça.

Mais uma vez, nada que me surpreenda, apenas me indigne, pois estas pessoas nesse arrombo justicialista não se apercebem que mais do que deter um político corrupto, elas acabam por desvalorizar a sentença que o condena.

Aos olhos de quem vê este triste espectáculo, apenas a preocupante sensação de que ninguém está bem neste retrato...

Nem os corruptos que corroem as instituições políticas, nem aqueles que os deveriam julgar imparcialmente, acabando por ser cúmplices na construção de uma profunda desconfiança no sistema judicial.

E quando nem o poder político, nem o poder judicial dão respostas dignas aos anseios de uma sociedade, abrem alas para o Caos...

E do Caos nasce sempre o conflito.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

 

31.10.18

 

Sérgio Moro poderá ser o novo Ministro da Justiça do Brasil, no futuro Governo de Jair Bolsonaro...

Este é o problema dos Juízes Providenciais, a sua incapacidade para resistirem aos holofotes da fama, a mesma que os transforma em Super-Heróis, cidadãos acima de qualquer outro.

Verificou-se isso mesmo na Itália dos anos 90, nesse folhetim pós Giulio Andreotti e que levou à implosão de todo o sistema político Italiano, incapaz de se regenerar, amarrado a populistas sem fim...

De Berlusconi a Salvini.

Este tipo de Juízes, acima da própria Justiça, não resistem à sedução de uma entrevista, às capas de uma revista, a uma promiscua relação com a imprensa, com o intuito de salvaguardar a sua verdade, como escritura incontestável...

Ou seja, o dogma justicialista que tanto embevece as Sociedades feridas, de um conceito de igualdade Judicial.

Em Portugal, também podemos encontrar casos similares, com consequências menores, graças a Deus, mas que em tudo se assemelham.

Atentemos às fugas ao segredo de Justiça, às entrevistas morais de alguns Juízes, ao longo do tempo, recordando-me en passant de dois...

Um mais antigo, outro mais recente.

O que este tipo de Justiça, sem venda nem balança, perfumada, com rímel e pinceladas de vaidade, aporta à Democracia, é um perigo desmedido de julgamentos em praça publica, incapazes de equilibrar a noção de acusação vs defesa.

Com o passar do tempo descredibiliza-se a Democracia, a Justiça e dinamitam-se os alicerces que permitem a sã convivência em Sociedade.

Moro deveria, na minha opinião, manter-se no seu papel de Juiz, continuando o seu trabalho na Lava-Jato, afastando assim a ideia de promiscuidade, justificada, entre esses processos e o sistema político.

A bem do regime.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

19.05.17

 

Onde te perdeste Brasil?

É a pergunta que dá vontade de fazer, a cada noticia vinda daquele pedaço de encantamento refugiado na imensidão da sua beleza, distante de nós, apenas por esse gigante chamado Atlântico...

Como pode o País de Caetano e Bethânia, de Oscar Niemeyer e Jô Soares, de Jorge Amado ou Tom Jobim, de Fernanda Montenegro ou Vinicius de Moraes estar entregue a esta elite política pejada de aldrabões?

Como é possível?

Depois de anos a lutar contra a Ditadura Militar, contra a inflação gigantesca dos anos 90, contra os desmandos de um jovial Collor, o Brasil mereceria assim como a sua gente, um futuro mais risonho, mais adequado à intemporal dimensão da sua beleza.

Ao ver na rua as pessoas, ao perceber a sua revolta, um receio toma conta da minha escrita, da minha imensa vontade em reescrever esta triste novela em que se transformou este nosso Brasil:

O de uma revolta popular.

As pessoas talvez pela primeira vez em muitos anos, compreendem agora a dimensão real da corrupção que assola o País, que devora os alicerces que abanam a cada investigação, a cada delação, em cada noticia ou rumor...

Já não subsiste esperança para os mesmos que habitualmente vão trocando de lugares, que vão prometendo e fazendo o seu contrário, para todos os que participam neste esquema fraudulento a que habitualmente se chama Democracia Brasileira.

O desespero estampado no rosto, daqueles cidadãos que falam diante das câmaras de televisão, deixa o alerta gritante para um desastre sem proporções que me continua a parecer, esta elite política ainda não ter compreendido.

O que se tem sabido com a investigação Lava Jato vai muito para lá de Lula, de Dilma, de Temer, de Aécio, do PT ou do PSDB, vai diretamente ao cerne da questão...

Quem sobra impoluto a este terramoto político, a este vendaval sem moral, sem princípios, destituído de valores ou de ética?

Só vejo uma resposta, no panorama político actual:

O Tiririca.

O Brasil tem duas hipóteses:

Ou muda o sistema político em que assenta a sua Democracia ou votam no Tiririca, pois no meio daqueles Senadores, de todos aqueles Congressistas, da imensa corte política de Brasília, é bem capaz de ser o único que verdadeiramente, não roubou...

Que Deus te Proteja, Brasil de todos nós!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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