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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Desabafos De Um Filho

Filipe Vaz Correia, 14.01.23

 

 

 

 

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Este ano não escrevi sobre a minha Mãe no dia 21 de Dezembro, pela primeira vez desde que escrevo neste Blog ausentei-me desta dor nesse dia, não no coração nem na alma, mas neste espaço...

Ainda me pergunto porquê?

Se a dor não se esgotou porque razão a decidi silenciar?

Estará esgotada a escrita sem que as lágrimas cessem?

Neste intermédio de indecisão encontrei um rascunho de minha mãe com um recado para mim, numa nota meio à pressa com muitos anos de distância...

E percebi que escrever faz parte do nosso ADN, esse desabafo partilhado ou discreto, que me permanece entrelaçado ao maior de nós mesmos.

Por isso, por essa mesma vontade de expressar, aqui volto a esta Caneca de Letras para mais uma vez, desta vez com atraso, gritar soletrando...

Amo-te Mãe.

Assim, sem mais...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Filho Do Meu Coração

Filipe Vaz Correia, 16.11.21

 

 

 

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Não nasceste do meu ventre;

mas da minha alma

não te esperei nove meses

mas uma vida inteira

não te reconheci ao nascer

mas na esperança desse encontro

não soube do teu sofrimento

até te encontrar...

 

Não descobri essa palavra;

até te conhecer

não senti a amargura

até ter medo de te perder

não entendi a ternura

até perceber

a desentendida procura

de te ter...

 

E assim;

encontrada com os meus desencontros

com os recantos de mim mesma

descubro em cada sorriso teu

parte desse destino

só nosso.

 

 

Tony Carreira: A Dor De Um Pai...

Filipe Vaz Correia, 18.05.21

 

 

 

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Existem dias que parecem pontiagudos, setas apontadas ao coração, facas de gume afiado, demasiadamente cortante para a pequena compreensão Humana.

Assisti à entrevista que Tony Carreira deu ao Manuel Luís Goucha, após o Jornal da Noite da TVI, um momento de absoluta tristeza, arrepiante em cada palavra, em cada pedaço da inimaginável dimensão daquela dor.

Não consegui não assistir, empurrado por uma sensação de comunhão, de partilha com aquele homem que se apresentava perante todos para levar a cabo algo maior...

A Associação que terá o nome da sua filha, ou seja, o que restou de significado para a sua vida.

Não consigo imaginar a dor deste homem, o alcance do vazio que dentro dele deve habitar, mas consigo sentir uma tremenda compaixão e empatia para com ele, para com as suas lágrimas, para com o seu esvaziado olhar.

Ao assistir à sua entrevista, magistralmente guiada por Manuel Luís Goucha, não pude deixar de me recordar de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que encontrou na Fundação Viva Cazuza, de apoio a crianças Seropositivas, uma razão para viver...

"Encontro em cada uma daquelas crianças um pouco do meu filho, em cada olhar, em cada abraço"

Lucinha Araújo 

Diariamente, por todo o mundo, milhares de pessoas lidam com a perda, mas certamente nada se deverá comparar com a perda de um Pai ou uma Mãe, com a partida de um filho.

Um abraço Tony Carreira, desta Caneca sem letras, para expressar a dimensão da sua dor.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

“Filho De Minha Alma”

Filipe Vaz Correia, 01.12.20

 

 

 

Não nasceste do meu ventre;

Mas da minha alma,

Não te esperei nove meses,

Mas uma vida inteira,

Não te reconheci ao nascer,

Mas na esperança desse encontro,

Não soube do teu sofrimento,

Até te encontrar...

 

Não descobri essa palavra;

Até te conhecer,

Não senti a amargura,

Até ter medo de te perder,

Não entendi a ternura,

Até perceber,

A desentendida procura,

De te ter...

 

E assim;

Encontrada com os meus desencontros,

Com os recantos de mim mesma,

Descubro em cada sorriso teu,

Parte desse destino,

Só nosso!

 

 

Para Onde Foste, Meu Filho?

Filipe Vaz Correia, 24.10.20

 

 

 

Apagaram a luz do meu quarto;

Sinto o ruído da solidão,

Perdido nesse som abstrato,

Que invadiu o meu coração...

 

Apagaram a luz da minha casa;

Deixei de ter com quem falar,

Quebraram-me assim a asa,

E já não consigo voar...

 

Apagaram a luz da minha rua;

Deixaram-me sem o meu viver,

Estou de alma completamente nua,

Restando-me apenas morrer...

 

Apagaram a luz da minha terra;

Não te posso mais tocar,

E assim a vida encerra,

Para mim a palavra amar...

 

Apagaram a luz do meu mundo;

Apagaram-me da vida,

Levaram o meu amor profundo,

Deixaram-me a dor sentida...

 

E assim se apagaram todas as luzes;

Porque eras tu, a minha história,

A borracha levou me o filho,

E a dor a memória.