27.03.20
No meio desta Pandemia, uma perguntar vem ao de cima:
Onde estão os liberais?
Passámos anos a ouvir teorias liberais, de profusas eminências pardas, que dissertavam sobre o peso do Estado na sociedade e na economia, teorizando tantas vezes sobre como deveríamos decrescer esse peso para sustentar o crescimento económico.
Agora...
Nestes momentos desapareceram essas vozes, esses entendidos que se deparam com esta transformação, vociferando agora por uma intervenção daquele monstro, o dito Estado, que tanto amaldiçoaram.
O Estado tem de intervir na economia, de intervir na sociedade, de impor regras e leis, de prevenir descalabros nas empresas e particulares.
Como Conservador, sempre defendi a intervenção do Estado e o seu peso na sociedade, talvez nos meus anos de juventude, 20 anos, no auge do sonho e aventura política, tenha tido uma pequena costela liberal, mas que logo se extinguiu ao observar os exemplos que nos anos seguintes me foram chegando.
O mercado regula-se a si mesmo, criando oportunidades e servindo de balança e estimulo à sociedade...
Muitos são os que defendiam este princípio, aqueles que gritavam à saciedade esta frase como mandamento maior dos seus valores.
O que esta crise pandémica vem certamente desnudar é a fundamental necessidade de existir um Estado forte, capaz de intervir e regular os princípios, muitas vezes selvagens, da nossa economia...
Um Estado capaz de ser rigoroso com as contas públicas, criando superávits em tempos de crescimento económico, pagando a divida pública, para podermos respirar em tempos de crise.
Nunca como agora isto ficou tão evidente.
Investir no SNS não pode ser algo de somenos, mas sim um imenso pormaior, nesse entrelaçado de escolhas que importa salientar.
Assegurar um caminho sem falhas, afastando os populistas que buscam, nas entrelinhas, fraquezas nas instituições democráticas que sustentam as Nações.
Imaginemos o programa do Partido Chega, do jovem André, que propunha o fim do SNS, a diminuição da Segurança Social e a minimização do papel do Estado no nosso sistema...
Imaginemos o que poderia ser esse cenário neste tempo de Pandemia.
Mas não falemos apenas de liberalismo económico...
O programa do BE propunha o endividamento do Estado como forma de sistematicamente alimentar os pedidos da sociedade civil, abrangendo déficits sistemáticos na casa dos 3%...
O que seria chegarmos aqui, com a divida pública que temos e com déficits sempre na casa de 3%?
Uma tragédia?
Claro.
Não existe espaço para populistas e demagogos, talvez esta crise pandémica nos possa fazer compreender, enquanto civilização, este facto.
Enfim...
Sobram questões e não faltam contradições por estes tempos mas mesmo assim arrisco voltar a perguntar:
Onde estão os Liberais?
Onde?
Filipe Vaz Correia