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Caneca de Letras

Caneca de Letras

O Medo Que Alimenta Os Ignorantes (Ou Vice Versa)

Filipe Vaz Correia, 17.04.20

 

Neste dia descobri que num qualquer prédio em Espanha, uma médica viu o seu carro vandalizado pelos seus vizinhos, pelo singelo facto de ir a casa após as suas horas de trabalho, na linha da frente desta batalha...

"Rata Contagiosa"

Foram estas as palavras que foram escritas no carro da médica, na garagem do seu prédio, por um ou mais medíocres que apoderados pelo medo e pela sua ignorância, extravasaram assim o reflexo da sua pequenez.

Não é o primeiro caso e não será, infelizmente, o último.

Desde a jovem que trabalha nos supermercados até aos médicos que lutam por todos nós, este egoísmo em forma de barbaridade, transparece um pedaço dos Homens que habitam entre nós, Sociedade, e que em momentos como este revelam a essência de suas almas.

Parece que estes casos têm aumentado por terras Espanholas, não sendo atitudes exclusivas de "neutros hermanos", mas que definem, sem hesitação, a grande epidemia que se esconde em tempos como este...

A ignorância e mesquinhez de alguns.

Que atitude esperar de gente como estes vizinhos, se por alguma razão se instalar a ideia que os velhos serão, ainda mais, potenciais factores de risco?

Para eles mesmos e para os outros?

Neste prédio, na impunidade de uma qualquer reunião de condomínio, certamente se aprovaria que fossem prontamente despejados e se por acaso levantassem objecções, medidas mais severas se poderiam implementar.

O mundo avança, felizmente, com muitos casos que contrariam estes episódios, esta miséria cobarde que amiúde nos invade através destes relatos carregados de tristeza e surrealismo.

Num dia em que desapareceram Rubem Fonseca e Luís Sepúlveda, quando a beleza da escrita e da cortante imaginação fica mais pobre, convém acentuar o perigo da ignorância, da boçalidade encapotada, nos gestos de poucos mas disfarçadamente submersa na tímida vontade de muitos.

Convém não esquecer...

 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

RE-PUG-NAN-TE...

Filipe Vaz Correia, 28.03.20

 

O discurso do Ministro das Finanças Holandês no Conselho Europeu, não foi o único, é absolutamente repugnante...

António Costa assim o classificou e muito bem.

Parece que nada aprendemos com a crise de 2008, sendo que muitos dos que saltaram para fora do barco se apresentam capazes de fazer o mesmo assim que o Tsunami económico chegue.

Uma barbaridade.

Uma coisa a União Europeia terá de repensar...

O seu propósito.

Se não serve para uma solidária resposta num caso como este, então não servirá para nada.

Gostaria, não sei se gostar será o verbo, de ver o que valeria a Economia Holandesa, Austríaca, Húngara sem o chapéu de chuva do Euro.

Mantendo este tipo de atitude, se calhar, iremos descobrir mais cedo do que julgamos.

Pois desta resposta se fará o futuro da União Europeia.

Repugnante...

Bela palavra Senhor Primeiro-Ministro...

Absolutamente repugnante.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Eleições Espanholas: Um Turbilhão De Interrogações Ou A “Voxx” Do Povo?

Filipe Vaz Correia, 11.11.19

 

Em Espanha continua o turbilhão eleitoral, o mesmo atabalhoado processo que tem levado a democracia Espanhola de eleição em eleição.

Neste Domingo o PSOE voltou a vencer, como anteriormente fizera, só que agora com menos força, com menor força daqueles que supostamente poderão ser os aliados tradicionais, também eles enfraquecidos.

Se estivéssemos a falar de lógica, evidentemente que os Partidos poderiam aprender com a resposta dada esta noite pelos eleitores...

E que resposta foi essa?

Uma estagnação ou perda dos partidos mais tradicionais, com derrotas claras do Cidadanos ou do Podemos, por entre, resultados quase similares como do PSOE e do PP...

O que diverge nesta eleição?

A subida extraordinária do VOXX...

Ignorar este facto ou não o compreender representará um suicídio para estes partidos e as suas realidades.

Os Espanhóis estão exaustos de “tricas” partidárias, de teatralizações políticas, olhando para o fenómeno VOXX como uma voz alternativa à pasmaceira costumeira.

Poderemos criticar ou acreditar que se trata de um fenómeno passageiro, no entanto, a subida apoteótica deste Partido de Extrema-Direita, aconselhará a prudentes conclusões e avaliações.

Sem a presença de estadistas ou fortes lideranças no espectro político Espanhol, torna-se essencial o aparecimento de sólidos projectos políticos, capazes de criarem pontes e entendimentos que sustentem esse futuro plasmado na vontade dos cidadãos.

Caso os Partidos tradicionais continuem a se perder nessas entrelaçadas e corriqueiras questões, sobrará um fértil terreno para os extremismos proliferarem...

Da Esquerda à Direita.

Estas eleições foram mais um aviso...

Nessa Espanha em busca do seu destino.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Franco: O “Despertar” Do Velho Ditador...

Filipe Vaz Correia, 24.10.19

 

Realizou-se hoje a exumação do corpo do General Franco, ditador que durante décadas dirigiu os destinos da Nação Espanhola.

Nesta espécie de ajuste de contas com a sua História, o seu passado, o “Governo” de Madrid, afinal existe Governo?, decidiu levar por diante esta vontade, este reescrever de memórias que bacocamente quiseram impor, numa confusa expressão de poder que nada mais será do que um folhetim publicitário à Extrema-Direita.

Podemos discutir os méritos ou pecados do Regime Franquista, a crueldade e brutalidade que o caracterizava ou até a transição planeada por Franco rumo ao seu legado, no entanto, num País ingovernável, carregado de contradições, envolvido num processo Catalão que ameaça desmembrar esse estatuto regionalista que compõe Espanha, usar este momento para remexer em feridas adormecidas, “desenterrar” fantasmas, talvez seja o maior erro de um frágil Primeiro-Ministro Socialista que se deparará com esses mesmos fantasmas nos próximos actos eleitorais.

Tirar o General Franco do Vale dos Caídos, poderá trazer para Pedro Sanchez uma leve satisfação de vingança perante a História mas não me parece que esse facto possa contribuir para unir os Espanhóis...

Antes pelo contrário, talvez acicate ânimos, cerre fileiras e divida ainda mais uma sociedade Espanhola, já de si submersa nessas clivagens que se fazem sentir.

O futuro o dirá...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Barcelona: A Faixa De Gaza Catalã?

Filipe Vaz Correia, 17.10.19

 

Liguei a televisão e julguei estar a ver Jerusalém ou a Faixa de Gaza...

Jovens encapuçados atirando pedras, polícias investindo sobre a multidão, carros e ruas a arder num misto de inferno e turbilhão.

Afinal estava enganado...

Eram as ruas de Barcelona.

Quando aqui escrevi, no nascimento desta batalha com a declaração de Independência da Catalunha, deixei notar a ideia de uma calamidade política e administrativa em crescendo, uma gestão apocalíptica deste caso, por parte da Generalitat, assim como, da estrutura central Espanhola.

Na altura, Mariano Rajoy e Felipe VI...

Agora, Pedro Sanchez e o Rei Felipe VI.

Não posso esquecer a declaração de Felipe VI, logo após o nascimento desta polémica, uma declaração de força, imprópria de um Rei que deveria manter abertas as Pontes necessárias para unir o seu Reino.

Felipe VI optou por fazer voz grossa, aliás contrastando com a sua fraca figura “institucional”, queimando etapas e opções que lhe seriam úteis nesta encruzilhada.

Espanha vê a sua unidade colocada em causa, o enfraquecimento de uma das regiões mais prósperas da Nação, definhando, por entre, uma divisão cada vez mais evidente nesta sociedade Catalã.

Volto a olhar para estas imagens...

Para este cenário de Médio-Oriente que se impõe em pleno palco Europeu, numa visão intrinsecamente aterrorizadora de escolhas políticas erradas.

Uns dirão que somente este caminho sobrava, a condenação destes políticos por sedição, outros condenarão este acto “estúpido” que acentua a clivagem entre as partes...

Onde deverão estar todos de acordo, é na ausência de alguém que possa assumir a moderação em todo este processo.

Até porque o jovem Rei, há muito, que abdicou deste papel.

 

 

Filipe Vaz Correia