Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

Caneca de Letras

15.02.22



Tenho faltado a este espaço de escrita, a este pedaço de desabafo que tantas vezes me pareceu um pequeno recanto de mim, mundo meu.

Falta de tempo e de imaginação, tamanha vontade de silenciar o que guardo nas entrelinhas do ser, dessa querença minha calada, sofrença tão imprecisa.

Quero poetizar como aqueles que aprendi a ler, escrevinhar e voar como Cazuza no Arpoador, soletrar como Vinicius em Copacabana, como Pessoa no Martinho...

Encontrar desencontradamente cada parte de uma pequena lembrança, reencontrar o menino que fui para lhe afagar o rosto e expressar essa pressa em amar aqueles que um dia partiram, partirão, cada intensa recordação.

Esse querer que se estende no olhar, que se entrelaça na dimensão maior do desconhecido, desconhecimento maior das palavras.

Tenho medos e vontades, expectativas e realidades, todas elas na mesma e inquebrantável curiosidade dos amanhãs que se apressam a correr...

Dias que passam, noites que se libertam com o caminhar do tempo nesse acelerado passo de dança.

Venham então as palavras, as lágrimas e os sorrisos, sinais de pouco siso numa certeza constante:

Só os tolos permanecem sãos.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

30.05.19

 

Navego inquieta de mim, inquietada pelo mundo, quieta finalmente frente ao ecrã.

Não tenho, nunca tive medo das palavras, como recear então Caneca de Letras? E, ainda assim...
 
... não é um receio paralisador, pois se a genética me deixou em herança uma adrenalina mutante de nem lutar nem fugir, o ambiente aguçou-me o observar dialogar e agir.
 
... não é um receio deprimente, que desses nunca tive e desconfio que me não quereriam, desgastados mais do que agastados pelo relógio de quem tem mais o que pensar. 
 
... não é um receio envergonhado, daqueles que espreitam no canto do olho antes de deslizarem pelo queixo baixo e, com um quase baque, caírem sobre pés recolhidos. nos meus olhos não há canto onde a vergonha se possa esconder com medo, e os pés, por irrequietos, talvez a calcassem se assim caísse pois à vergonha quero-a portentosa ou morta.
 
... não é, sequer, um receio orgulhoso, grande, dos de enfunar os pêlos ao arrepio da pele e de estilhaçar de gelado o grito na garganta. esses são afastados com pigarreares de guerra e febris vontades de lusitana indómita, que ser corajosa é enfrentar os próprios medos como Viriato os romanos: com todas as armas possíveis.
 
Não.
É o receio de falhar a quem em mim confia. Nasce no respeito que me merece e prolonga-se na consideração, na estima, no carinho, tanto maior o receio quanto mais profundos estes. Alimenta-se do que sinto pelo outro, e cresce assim amparado, aconchegado no seio da minha auto-confiança. Não a mina, mas impele-me à superação pois que lhe traça os limites a fogo. E queima quando, consciente, percebo que fiquei aquém.
 
Como não recear então por Filipe Vaz Correia que, confiante, me abriu as páginas do seu blogue para numa delas eu me inscrever?
Inscrever como, escrever o quê?
 
Opto por nada escrever. Apenas recordar.
Recordar que somos gente e que, sendo gente, somos também animais.
Recordar que estamos no topo da cadeia evolutiva e que estar no topo não nos faz donos dos destinos do Mundo, Terra ou Sociedade. Antes nos responsabiliza.
Recordar que apenas seremos responsáveis em grupo quando assumirmos a responsabilidade pelos nossos próprios actos. Conscientes. Sem o que agiremos em manada, e onde, então, o que nos distinguirá das bestas?
 
Obrigada, Filipe, por este bocadinho. Recordar faz parte de sermos gente.
 
 
 
 
 
 
 
 

30.09.17

 

Acontece-me imensas vezes, estar sentado na esplanada de um café e observar as pessoas a passar, aquelas que chegam, as que sentadas estão perto de mim, a meu lado...

Imaginar o que se passará em cada uma das suas vidas, o que se esconderá para lá do intrigante olhar.

Poderá um sorriso significar felicidade ou uma lágrima simbolizar tristeza?

Um ar carrancudo significar amargura ou a leveza de uma gargalhada, a preenchida realização do Ser Humano?

Vezes sem conta, através da minha irrequieta imaginação, voo pelos trilhos desconhecidos de cada uma daquelas pessoas que comigo se cruzam e nelas reencontro momentos que parecem, também, um pouco meus.

Momentos que já vivi e que ali revivo, ao observar o simples caminhar de uma criança de mão dada com a sua Mãe, buscando em cada um dos seus passos, os meus, perdidos num tempo que não regressa, sobrando infinitamente as saudades dessa mão que um dia, também a mim, me agarrou...

Momentos singelos, despidos de solenidade, atravessando o tempo, permitindo que se descreva no pensamento, o desenho de tantas e tantas almas.

Almas que não me pertencem mas que silenciosamente me atrevo a desenhar, a adivinhar, a escrevinhar sobre elas, sendo que delas pouco conheça...

E ali permaneço sentado à mesa do café, olhando, sentindo, imaginando desencontradamente, o destino escondido por trás de cada rosto, de cada olhar que ali se encontra a meu lado.

Porque nada é mais sedutor do que dar asas à imaginação e voar através desses mundos pincelados pelo nosso olhar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

20.03.17

 

Rascunhos empoeirados;

Escrita meio tremida,

Rostos imaginados,

Por entre linhas esquecidas,

Poemas emocionados,

De emoções já perdidas,

Papéis dobrados,

Histórias vividas,

Sonhos enrugados,

Assim como feridas,

Lembranças de um passado,

De tantas vidas...

 

Em cada rascunho empoeirado;

Vive guardado,

Um pedaço de mim!

 

 

 

05.11.16

 

Lágrimas que me caem no papel;

Nesse papel tão meu

Nessa mágoa tão minha

Com mel, com fel...

 

Lágrimas que me escorrem pelo rosto;

Pela dor que não tem voz

Pelas nuvens do meu desgosto

E por tantos momentos sós...

 

Lágrimas que me fogem;

Desistindo ausente

No meio dos olhares de sempre

Só porque as gentes têm na mente

O facto de ser diferente...

 

Sou deficiente;

Mas não sou apenas isso. 

 

 

03.11.16

 

Todas as noites na mesma rua;

Tantos homens nessa esquina

Numa vontade nua

De te ver...

 

De te querer, desejar;

De te terem por um momento

Esse dinheiro a pagar

Pelo teu sofrimento...

 

Tantas noites nesse lugar;

Onde te vendes, mulher,

Vendo a vida a passar

Ou o que dela te restou...

 

Envergonhada, esventrada, esquartejada;

Nesse corpo vazio

Porque essa alma abandonada

Já partiu, desistiu...

 

Assim despida, ferida;

Entregue ao seu destino

Ao som de uma palavra...

 

Puta.

 

Mais sobre mim

foto do autor

Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

Arquivo

  1. 2023
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2022
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2021
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2020
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2019
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2018
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2017
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
  1. 2016
  2. J
  3. F
  4. M
  5. A
  6. M
  7. J
  8. J
  9. A
  10. S
  11. O
  12. N
  13. D
Em destaque no SAPO Blogs
pub