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Caneca de Letras

20.12.18

 

Poderia gritar intensamente, intensamente vociferar, vociferando tão longe, como tão longe pudesse a minha voz alcançar, alcançando desmedidamente, o que desmedidamente se esconde, por entre os esconderijos da querença, a mesma querença que soluça, soluçando intermitentemente, a singela intermitência do Ser, sendo capaz de esquecer, o que esquecido desejo recordar, para que as tamanhas recordações despertem, a despertada sonolência de um amor antigo. Tão antigo esse amar, que se confunde com o azul do mar, entrelaçando silenciosamente os ruídos que insistem em chegar, sem partir ou voltar, simplesmente permanecendo sem calar... Mas baixinho, devagarinho, numa quebrada emoção da alma, a mesma que outrora voava e agora apenas se deixa caída, esperando abandonada por uma nova vida, recuperada ferida que ainda arde, ardendo intensamente, desanimando o que soletrado ficará eternamente escondido nas nuvens, no vento, em cada momento de todas as linhas, de um texto.

No meio de tão complexa divagação, apenas uma singela indagação...

Quem nunca morreu de amor?

Só quem nunca, verdadeiramente, viveu.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

18.07.17

 

Poderemos continuar a assistir à destruição de aldeias, vidas, sonhos?

Ano após ano continuamos a ver, in loco, nas televisões deste nosso país, dramas e agruras, mortos e vivos, alguns que escapando das chamas desses infernos de verão, morrem também, juntamente com aqueles que seus deixam de ali estar presentes.

Noticias e parangonas, comentários e discussões, primeiras páginas e aberturas de telejornais, tudo se repete de ano para ano, de década para década, continuando a não fazer sentido, se é que alguma desgraça desta dimensão, pudesse fazer...

E o que muda?

O que se faz para que não se repita?

Quem assume as culpas?

Nada!

Nada!

Ninguém!

Esta dor explanada em cada imagem, em cada lágrima vertida no meio de tamanho ardor, por cada palavra soltada de revolta desses infelizes escolhidos pelo destino para viverem tal amargura, se corroí a alma deste País, se queima a crença num futuro melhor.

Como explicar a alguém que perdeu um filho, as falhas do Siresp?

Ou explicar a alguém que viu o trabalho de uma vida ruir, que o Estado não conseguiu chegar a tempo para proteger os seus bens, os mesmos que são pagos através de impostos chorudos...

Como explicar?

E os políticos repetem-se, insistem no mediatismo medíocre da demissão, mudando os Ministros, rodando os Partidos, mantendo-se apenas a demagogia de uns e a hipocrisia de outros.

E o que esperam as gentes?

Coisas simples...

Que não morram os seus filhos numa qualquer estrada, que não lhes ardam as casas, que não lhes fustiguem os animais, que não lhes cortem os sonhos, por entre esse intrínseco direito de se sentir seguro.

Fogos sempre existirão, tragédias sempre acompanharão a existência humana, nessa condição de mortalidade que sempre estará marcada em nós...

No entanto, talvez seja a hora, de fazer diferente e de o fazer sem negociatas pelo meio.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

23.06.17

 

 

 

Uma estrada silenciada;

Cheia de almas carbonizadas,

Uma estrada desgraçada,

Pintura amaldiçoada...

 

Pinceladas de cinzento;

Num quadro de sofrimento,

Pintando o tormento,

Soprado por aquele vento...

 

Uma estrada vazia;

Esvaziada naquele dia,

De gente que outrora sorria,

E num instante partia...

 

Tantas lágrimas escondidas naquele alcatrão;

Tantos sonhos que ali ficaram perdidos,

Tantos desgostos cravados no coração,

Por entre tamanho fogo maldito...

 

E continuam as chamas a arder;

Naquela estrada,

Naqueles corações,

Eternamente.

 

  

 

 

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