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Caneca de Letras

18.05.21

 

 

 

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Existem dias que parecem pontiagudos, setas apontadas ao coração, facas de gume afiado, demasiadamente cortante para a pequena compreensão Humana.

Assisti à entrevista que Tony Carreira deu ao Manuel Luís Goucha, após o Jornal da Noite da TVI, um momento de absoluta tristeza, arrepiante em cada palavra, em cada pedaço da inimaginável dimensão daquela dor.

Não consegui não assistir, empurrado por uma sensação de comunhão, de partilha com aquele homem que se apresentava perante todos para levar a cabo algo maior...

A Associação que terá o nome da sua filha, ou seja, o que restou de significado para a sua vida.

Não consigo imaginar a dor deste homem, o alcance do vazio que dentro dele deve habitar, mas consigo sentir uma tremenda compaixão e empatia para com ele, para com as suas lágrimas, para com o seu esvaziado olhar.

Ao assistir à sua entrevista, magistralmente guiada por Manuel Luís Goucha, não pude deixar de me recordar de Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, que encontrou na Fundação Viva Cazuza, de apoio a crianças Seropositivas, uma razão para viver...

"Encontro em cada uma daquelas crianças um pouco do meu filho, em cada olhar, em cada abraço"

Lucinha Araújo 

Diariamente, por todo o mundo, milhares de pessoas lidam com a perda, mas certamente nada se deverá comparar com a perda de um Pai ou uma Mãe, com a partida de um filho.

Um abraço Tony Carreira, desta Caneca sem letras, para expressar a dimensão da sua dor.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

20.05.19

 

 

 

Todos os gritos transformados num só;

Todas as vozes caladas,

Todos os sonhos reduzidos a pó,

Poeira desdenhada...

 

Todas as lágrimas desaparecidas;

Todos os olhares disfarçados,

Disfarçando as velhas feridas,

Em lugares desencontrados...

 

Todas as partes de mim;

Numa entrelaçada estrada,

Desapegadamente em busca de um fim,

Um fim cheio de nada...

 

Mas nesse horizonte ao luar;

Perdidamente entre poetas,

Vinícius, Cazuza, Pessoa ou Gilmar,

Se prende a mim, desperta,

Essa busca sem findar,

Da alma incerta...

 

E sem tradução;

Singelamente desacertado,

Se entrega o coração,

A esse destino acelerado,

Que ainda me consome.

 

 

 

 

 

22.02.18

 

 

 

Dói;

A alma minha,

Que sendo tua,

Se silencia,

Que te pertencendo,

Se magoa,

Que te amando;

Se entristece...

 

Dói;

Sem explicação;

A amargurada desventura,

Destino deste coração,

Perdido nessa aventura,

Sem fim...

 

Dói;

Sem doer,

Porque amar-te,

É viver,

Querer-te,

Esse prazer,

Infinito...

 

E sem contradição;

Entre a dor,

E o tamanho amor,

Mora este destino,

Só meu.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

09.11.17

 

 

 

Ruas estreitas;

De estreitos destinos,

Caminhadas imperfeitas,

Imperfeições e desatinos...

 

Ruas perdidas;

Perdidos receios,

Becos e feridas,

Escondendo anseios...

 

Ruas de dor,

Viagem imortal,

Mágoas de amor,

Desejo infernal...

 

Ruas e ruelas,

Com cheiros de jasmim,

Sonhos de canela,

Agruras sem fim...

 

Ruas e mais ruas,

Alma desnudada,

Verdades nuas,

Palavras tuas,

Silêncios meus...

 

Eternamente meus!

 

 

06.11.17

 

 

 

Sou prisioneiro dos meus sentimentos;

Das vozes e sonhos que gritam,

Cartas trazidas pelo vento,

Palavras que se eternizam...

 

Sou refém de mim mesmo;

Das algemas e dos grilhos,

Dos pesadelos bem trancados,

Lágrimas sem trilhos...

 

Sou um enigma presente;

Na penumbra adormecida,

Memória ausente,

Da insistente ferida...

 

Sou esse pedaço de nada;

Tão vazio, tão vazio,

Pedaço de nada,

Nadando num rio...

 

Sou esse pedaço de nada...

De nada..

Nada!

 

 

18.10.17

 

 

 

Terra queimada;

Dor abrasadora,

Cheiros de nada,

Mágoa destruidora...

 

Terra queimada,

Ao som de um ardor,

Vidas ceifadas,

Desnudado pudor...

 

Terra queimada;

Vazio que sobrou,

Tragédia cantada,

Que na memória ficou...

 

E já não voltam os mortos;

Filhos ou Pais,

Amigos ou amores,

Eternamente perdidos,

Por entre chamas de horrores...

 

Nesta nossa terra queimada,

Descansará um pouco de todos nós,

Num silêncio Lusitano,

Num imenso grito sem voz.

 

 

 

 

 

 

16.10.17

 

O País está de luto, carbonizadamente de luto, enlutado pelos mortos que tombaram em mais uma tragédia incendiária ou pelos vivos que sobrevivendo, estão submersos em mais um pesadelo impregnado de dor.

Um retrato a preto e branco deste nosso Portugal, carregado de cinzas, enublado por entre as poeiras da incompetência de políticos, governantes, destino menor desta nossa triste alma Lusitana.

Gentes com memórias queimadas, esperanças incineradas, casas destruídas, vidas suspensas...

Já não existem palavras suficientes para descrever o olhar das pessoas, o desespero na expressão do rosto, a ausência de esperança, no meio de tamanha desesperança.

O que fica de Portugal, deste nosso querido País, é uma devastadora sensação de dor, de amargura, de abandono que as populações sentem, sentiram, e segundo o Primeiro-Ministro poderão voltar a sentir.

Abandono sentido no meio de florestas, em aldeias, cidades, estradas, em todo o lado por onde deflagrou este miserável pesadelo.

Através das imagens passadas pelas televisões, fica um retrato de devastação, de terrorismo, como diria o meu caro, O Último Fecha a Porta, de equívocos e erros acumulados durante décadas.

Não existe mais tempo para reflexões, não temos mais tempo para discussões, apenas sobra tempo para agir, para de uma vez por todas resolver esta repetitiva maldição.

Chove lá fora, do lado de fora da minha janela...

Por um momento, um instante, parece ganhar cor, a dor imensa deste meu querido País.

Que chova, que continue a chover, e que essa chuva se misture com as lágrimas da nossa dor, do nosso dolorido fado.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

01.05.17

 

Um quarto escuro;

Tão escuro como o breu,

Num silêncio, sussurro,

Tão só, tão meu...

 

Uma casa abandonada;

De afetos, atenção,

Nessa infância desamparada,

Despertando essa sensação,

De abandono...

 

Despertando as lágrimas;

Amargurada insensatez,

As insensatas agruras,

Amarrada pequenez...

 

Tormento, desfavor;

Em cada imagem não esquecida,

Apunhalada dor,

Infância perdida...

 

Um quarto escuro;

Tão escuro como a minha alma;

Como os fantasmas que perseguem,

O destino que me sobra.

 

 

 

25.04.17

 

Se cada palavra, tua;

Fosse apenas isso,

Uma palavra crua,

Verdade nua,

Da mágoa minha,

Que magoa intensamente...

 

Se cada gesto, teu;

Fosse apenas isso,

Liberto dessa dor,

Que me esmaga sem pudor,

O coração num ardor,

Desassombrado...

 

Se cada olhar, meu;

Fosse apenas isso,

Um olhar desbravado,

Desinteressado,

De soslaio incapaz,

De deixar esse amargurado, 

Amor...

 

Se cada um destes versos;

Fosse apenas isso,

Despido desse sentimento,

Que asfixia,

Em cada momento,

A minha alma...

 

Se em cada linha deste poema;

Eu fosse capaz de me libertar,

E livremente voar,

Pelo destino que nunca consegui encontrar...

 

Se eu conseguisse...

 

 

 

13.04.17

 

Ainda me dói;

A estranha alma minha,

Escondida e humilhada,

Envergonhada, sozinha,

Abandonada...

 

Ainda sinto a desilusão;

A triste amargura,

A dececionante sensação,

Antiga ternura,

Desabitado coração,

Que é o meu...

 

Ainda procuro encontrar;

Aquele imenso sentimento,

Que parece querer voar,

Em cada lágrima levada pelo vento,

Magoado desacreditar,

Solitário sofrimento...

 

Ainda oiço, distante;

Sem esquecer,

Cada momento, instante,

Que insiste em reaparecer,

Doloroso, gritante,

A arder,

Dentro de mim...

 

E assim;

Ainda vejo sangrar,

Sem parar,

Essa estranha alma minha...

 

Que um dia;

Desejou amar.

 

 

 

 

 

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