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Caneca de Letras

20.02.18

 

Uma viagem pelo mundo, o mundo inteiro...

Nem um seu recanto esquecido, nem um ponto perdido, nessa vontade de viver que se extinguiu.

Giovane de Sena Brisotto morreu...

E eu nem sabia quem ele era.

Ao ler a noticia, as reacções ao desaparecimento do protagonista do documentário de " O Sentido Da Vida ", volto a dar-me conta de como tudo isto é efémero, de como é passageiro este nosso destino.

Giovane tinha 31 anos e sofria da "Doença dos Pezinhos", uma doença sem cura, destrutivamente incapacitante.

Ao ler os relatos desta partida, recordei-me da Professora de Introdução ao Direito, no meu 10º Ano, que acabou por morrer da mesma maneira.

Parece estranho, como por momentos, veio à minha memória o seu rosto, o seu olhar, a expressão maior de um eterno desafio, que parecia enfrentar, sempre que entrava naquela sala de aula...

Com duas muletas, os pés inchadíssimos, o rosto meio desfigurado.

No caso da minha Professora, a sua irmã sofria da mesma doença, acamada no seu quarto, aos cuidados da Mãe que tratava das duas filhas sozinha...

A minha Professora esforçava-se para manter as rotinas, não ceder ao anunciado fim, ao vaticinado e efémero adeus.

De certa maneira, esta era a sua volta ao mundo.

Morava em Almada e vinha de táxi para o colégio que ficava no centro de Lisboa, num desmesurado querer que nos impressionava, arrepiava.

Recordo-me que quando a sua situação se tornou impossível de manter e o fim se aproximava, todos nós, alunos da minha turma, resolvemos visita-la em sua casa, já a morte da sua Irmã a tinha despedaçado, despedaçado a grande alma que era a sua...

Recordo-me bem...

Da sua casa, do seu quarto, onde estava a sua cama e do olhar sofrido daquela Mãe.

Mas com o tempo fui esquecendo, com o tempo fui apagando de mim tais momentos, aquele misto de sofrimento e grandeza presas à intensa memória.

Esta história que apenas agora tomei conhecimento, trouxe-me este pedaço de destino, novamente ao coração, àquele coração dos meus 16 anos...

O tempo passa, mas infelizmente as histórias muitas vezes se repetem e com elas um pedaço de coragem, entrelaçado com a desesperança do mesmo fim.

Resta-nos aproveitar...

Desenhar, sem medo, aquele amor que se perdeu, sem nunca o desperdiçar, mesmo que por um instante o coração compreenda, que não valerá a pena...

Sonhar com aquele abraço, um dia perdido.

Querer aquela parte de nós, que parece ter fugido.

Tudo valerá a pena...

Apenas não tentar, não dizer, não querer viver ou sonhar...

Apenas essa espécie de medo, não vale a pena, não valerá a pena.

Até sempre Giovane...

Até sempre Professora Maria do Carmo.

 

 

Filipe vaz Correia

 

 

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