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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Gal Costa: Morreu Mais Um Pedaço De Minha Mãe…

Filipe Vaz Correia, 10.11.22

 

 

 


Morreu Gal Costa...

Perdi mais um pedaço de minha mãe.

Minha mãe era uma admiradora confessa de Roberto Carlos mas também de Gal Costa, uma cantora que aprendi a amar nas infinitas canções que percorriam as paredes de minha casa, nas mais infindáveis melodias, naquela voz aguda e inconfundível, mistura de divino e pecado.

Uma notícia que não se esperava, inconveniente e chocante, como tão bem expressou Bethânia, como tão bem chorou Gil...

Ainda dói, como dói a beleza da sua voz no último espetáculo de Cazuza no Canecão, na entrelaçada melodia da sua voz misturada com a de Gal cantando Brasil.

Tão actual, tão cortante, tão arrebatador.

Gal cantou, há pouco tempo,  no Campo Pequeno, soube mas não fui, ainda havia tempo para um regresso mas afinal não havia...

Há espaço para a saudade, para a tristeza, para a inimaginável extinção de um tempo, de uma Era.

O único consolo nesta triste notícia é a de que uma voz como a de Gal, uma artista como Gal Costa não morre, é eterna na sua arte, no seu talento, na nossa memória...

Obrigado Gal Costa.

Te amo.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

Adeus Amigo: Uma Forma De Amor…

Filipe Vaz Correia, 26.10.22

 

 

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No dia 21 de Outubro fez 26 anos que perdi o meu maior amigo de infância, aquele que me ajudou a moldar desde a mais tenra idade.

O Luís partiu depois de 3 anos inenarráveis numa luta árdua e corajosa contra um cancro, na espinhosa caminhada de um adolescente que se debatia contra o "non sense" de um tão brutal destino.

O tempo passou tão depressa e de forma tão imensa que por vezes nem sei o que escrever, não sei rabiscar em letras ou palavras o que me dita o sentir, essa ausência tão esmagadora que se transformou em silêncio, esse esquecer que insisto em recordar.

Tento recordar o seu rosto a cada dia, tento memorizar cada história a cada instante, tento imaginar o inimaginável sempre que a cada tropeço me recordo...

Sei bem o que representava para ele, o quanto ele gostava de mim, nesse fraterno amor que nos ligou, buscando tantas vezes na fraqueza dessa saudade um sentido para tão precoce partida.

O Luís era leal e corajoso, o mais corajoso que conheci, era destemido e alegre, era gigante...

Gigante no ser, na querença, na destemida forma como viveu até ao instante derradeiro, na singela presença do seu olhar.

Pouco tempo antes de morrer foi beber café comigo ao antigo centro Roma, quando provavelmente pesaria uns 40 quilos, contrariando o que todos achariam aceitável, ou seja, que ficasse no recato de sua casa, debilitado recebendo um amigo de sempre...

Mas isso não seria o Luís.

Montou-se na sua BWS, percorreu o curto caminho entre a sua casa na Frei Amador Arrais e o Centro Roma e ali nos encontrámos, para o último café, o nosso momento de despedida.

Se eu soubesse...

Acho que nunca lhe disse o quanto gostava dele, não que ele não o soubesse, mas de forma aberta, sem amarras ou subtilezas, num sincero e simples:

Amo-te meu irmão!

Chorei imenso nesse dia 21 de Outubro de 1996, desabei no recato de meu quarto, depois de falar por telefone com sua mãe que me deu a triste notícia...

Hoje 26 anos passados escrevo estas linhas para que se avive a memória, para lhe prestar um tributo de mim para ele, guardando comigo essa espécie de tradição de em prosa ou verso sublinhar nesta Caneca o quão privilegiado fui por um dia se ter cruzado em meu caminho esse amigo de uma vida.

Enquanto for possível escrevinhar aqui estarei para gritar com todas as palavras a saudade que sinto e o amor que sempre senti por ti.

Até sempre meu irmão.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

Parabéns Mãe

Filipe Vaz Correia, 02.06.22

 

A minha Mãe faria hoje 87 anos, partiu há quase 12...

O tempo na sua infinita crueldade e contraditória calmaria traz esse doce amargo de boca que é a relativização da dor, da perda.

No entanto, pelo menos no meu caso, a ferida permanece aberta, flamejante, pujante na saudade, nesse arfar quase sufocante de um adeus que não pode ser real, do cortar de um cordão umbilical que se torna espiritual.

O dia de sua partida foi o mais triste de minha vida, este dia 2 de Junho era habitualmente um dos mais felizes do ano.

Ia quase sempre à casa batalha onde facilmente encontrava um presente que fosse a cara de minha querida Mãe, colares, anéis, encharques...

Hoje apenas escrevo estas linhas, perco-me no pensamento, busco em mim partes que lhe pertencerão.

Parabéns Mãe.

Amor da minha vida.

 

Do sempre teu;

 

 

Pipo

 

 

Interminavelmente…

Filipe Vaz Correia, 01.06.22

 

 

Vou tentar descrever;

Escrevendo o que sinto por ti,

Sem saber como dizer,

O quão imenso é...

 

É uma forma de sonhar;

Um sorriso discreto,

Um simples escutar,

Desse bater secreto,

Da minha alma...

 

É um querer constante;

Uma verdadeira constatação,

Um prazer viajante,

Viajando pelo meu coração...

 

É um desejo indescritível;

Um carinho arrebatador,

Um mundo indecifrável,

Denominado de amor...

 

É um pedaço de ternura;

Voando através do tempo,

Guardando a eterna candura,

Do meu sentimento...

 

É ardor sem temor;

É buscar sem parar,

Na alegria ou na dor,

Abraçar, Amparar...

 

É tudo isto; 

Interminavelmente...

 

 

Sangue Do Meu Sangue… “Uma História No Paquistão”

Filipe Vaz Correia, 27.05.22

 

 

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Sangue do meu sangue...

Nada mais irónico e trágico para o caso das duas irmãs Paquistanesas, Arooj e Aneesa, que se viram assassinadas às mãos da sua própria família, neste caso irmãos e primos.

As duas jovens, residentes em Espanha, terão sido atraídas ao Paquistão com a encenação de que a sua Mãe estaria a morrer, falsidade esta que fez parte de um plano para levar a cabo este crime de "honra".

O crime que as levou a este triste fim foi simplesmente o facto de as duas quererem o divórcio dos seus maridos, casamentos arranjados contra a sua vontade.

Este desfecho traz à liça esta espécie de horror que se pratica em alguns países do mundo, Índia e Paquistão são apenas alguns exemplos, e que nos recorda de como estamos muito longe de um mundo coadunante com os direitos humanos e a liberdade de escolha.

Basta percorrer esta história para se arrepiar a alma de todos aqueles que defendem o direito à individualidade e ao livre arbítrio de todos, homens ou mulheres.

Nestes casos, assim como no caso dos dois jovens mortos no Irão por serem homossexuais foram as suas famílias os seus algozes, os seus carrascos, os seus executores...

Um pormenor que se torna um pormaior e que faz pensar que o sangue por vezes é menos relevante do que as normas retrógradas, bárbaras e selvagens de algumas sociedades.

Que nos sirva de lição...

Mas infelizmente acredito que não.

 

 

Filipe Vaz Correia