O Caminho Das Pedras
Sei lá para onde caminho, nesse campo estreitinho, reduzida forma de reluzir a desesperança que se abeira do ninho, da estrada, despida empoleirada na beira do Ganges. Pouco ou nada sobra desse recital de piano, teclas e mais teclas em contraponto com o vento que se assoma, soma e subtrai no vaguear de almas prestes a chegar. Queira Deus que a orquestra tenha a vitalidade de um sopro, que o destino se desencontre com as nuvens, que as lágrimas se apressem a secar e o amor... ai o amor que reluz e contorce, que se disfarça e abraça, amassa e amarra, confunde e separa. Tantas palavras numa mistura de certezas, questões impertinentes que ameaçam a pertinência, num segundo continência, noutro incontinência como um compulsivo chorrilho de ideias, incontinentes ideias que arrogam o tupete de existir. Já não tocam os poetas, já não choram as marionetas, já não se prantam as inquietas querenças da antiguidade. Para onde foram os heróis? Onde se escondem os inexpugnáveis? Para onde foram as prometidas Odes à tamanha vontade de sonhar? Nada faz sentido, tudo é sentido, nada é imutável, tudo se dilui, assim caminha o tempo na infindável e indiscutível crueldade do seu compasso, deslizando silenciosamente como nada fosse, por entre... nós, pequenos pedaços de coisa alguma. Pouco importa a sorridente esperança, somente importa a louca vontade de amar. Pois o amor é a única coisa que nos liga ao divino.
Filipe Vaz Correia