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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Vidas A Correr!

Filipe Vaz Correia, 20.02.21

 

 

 

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As bombas ensurdeceram o meu sentir;

A dor emudeceu o meu carpir,

A mágoa escureceu esse intenso colorir,

Fugindo sem fugir...

 

O sangue pintou cada morte,

Cada desaparecer ensurdecedor,

Destino sem sorte,

Fétido fedor...

 

Cada olhar,

De uma vida vazia,

Intenso desesperar,

Dia após dia...

 

Ainda não fiz doze anos;

Nem sei se os farei,

Por entre feridas e danos,

Perdendo tantos que amei...

 

E continua a vida a correr;

A vida a correr,

E eu parado,

No meio deste meu eterno sofrimento.

 

 

 

 

Formação Da DGS Para Crianças De 3 Anos?

Filipe Vaz Correia, 13.05.20

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As creches, as crianças e os seus trabalhadores...

Importará a este Governo saber como se sentirão essas pessoas?

Como se prepararão as educadoras para enfrentar este nível de pesadelo, atiradas para uma linha da frente sem que exista uma rede que as possa tranquilizar?

Será possível pedir a crianças, em idade de infantário, que se consigam manter a dois metros umas das outras ou não partilhem os seus brinquedos, sem que isso pareça uma profunda utopia?

Pedir a estas educadoras que não dêem colo a meninos de 2 anos quando estes começarem a chorar, ao se despedirem de seus Pais, é somente mais um retrato carregado de hipocrisia.

Assim, fica claro que este sector é atravessado por uma realidade própria, por dinâmicas diferentes, carecendo de um pensamento distinto em tempo de "desconfinamento".

Sei bem que para os Pais poderem ir trabalhar, a tão importante Economia, será necessário que possam ter com quem deixar os seus filhos, daí reconhecer a importância deste tipo de estabelecimentos, no entanto, importa reconhecer que estes necessitarão de um tempo diferente, de um apoio maior e melhor...

Não só de apoio mas também de um plano exacto e preciso que possa tranquilizar todos os que dele dependem e a ele pertencem.

Pais, crianças e profissionais.

Basta imaginar as Educadoras vestidas de astronautas, com receio de apanhar Covid ou Kawasaki, para depreendermos que este quadro não irá contribuir nem para a saúde mental da crianças, nem para a tranquilidade dos Pais que ali as deixarão.

Enfim...

Urge pensar sobre este sector, sem demagogias, percebendo que existe uma gigantesca diferença entre uma sapataria e uma creche.

Ouvir os receios de uma querida amiga educadora, sabendo o seu amor pela profissão mas entendendo também a angustia e temor que sente neste avançar dos tempos, fez-me reflectir sobre a importância de tão específico sector.

Importa não esquecer que nas creches de todo o País reside o desejado futuro desse amanhã que ansiamos, alicerçado nessas Educadoras que amparam os seus primeiros passos, que sustentam as "nossas" primeiras memórias, por isso é importante criar as condições e cautelas para que todos possam sentir o conforto desta nova realidade.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

As “Silenciosas” Cicatrizes Da Violência Doméstica...

Filipe Vaz Correia, 26.11.19

 

A violência doméstica...

Após 20 anos da criação do Dia Internacional da Eliminação da Violência contra as Mulheres, tive acesso a números assustadores em relação a este tema, não só escrito em garrafais letras femininas, assim como, também em letras masculinas e infantis.

Durante este ano de 2019, já foram mortas 33 pessoas em Portugal, enquadradas neste crime de violência doméstica.

Um número aterrador, à volta de 3 pessoas por mês, na sua esmagadora maioria mulheres...

25 mulheres, 7 homens e 1 criança.

Sinceramente, observando esta triste realidade plasmada em relatos e desabafos, é impossível não pensar onde estamos a falhar enquanto sociedade e onde estarão a falhar aqueles que estando no poder devem legislar para banir este tipo de comportamentos do nosso quotidiano.

É de facto insustentável continuarmos a abrir um jornal ou ligar a televisão e assistir constantemente a um sem número de relatos, carregados de animalidade e brutalidade, onde o factor desespero deverá marcar a mente de cada um de nós.

Em muitos destes casos, os agressores estão sinalizados ou já deram sinais de potencial agressividade, no entanto, por um ou outro motivo, sejam ele de costumes ou de lei, acabam sempre por serem desvalorizados até ao dia do trágico crime.

Impera mudar as leis, mudar a visão que todos temos da sociedade em geral, penalizando de forma absolutamente impiedosa este tipo de crime, sem direito a penas suspensas ou qualquer outro tipo de desculpabilização social...

Nesta desculpabilização incluo, com lástima, as vítimas que muitas das vezes em nome do dito “amor”, por medo ou vergonha, optam por calar ou esconder, por silenciar ou atenuar o comportamento dos seus agressores, sejam eles homens ou mulheres.

Para que isso possa acontecer, é também necessário que estas vitimas possam sentir uma cobertura do Estado e da sociedade, capazes de garantir o respaldo suficiente para quem de forma corajosa se insurge contra a barbárie, física ou psicológica, perpetrada por seus algozes.

Ao ver nas ruas, mulheres e homens, recordando este dia, resolvi escrever sobre o tema, juntando assim a minha “pequena” voz, a todos aqueles que se sentem esventrados com cada morte, cada sofrimento, cada atroz violência plasmada nestes números.

É hora de se mudar mentalidades, de se gritar:

Violência... Não!

Em nome de mulheres, homens, enfim...

De todos nós.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

 

Maternidades Em Part-Time...

Filipe Vaz Correia, 21.06.19

 

Parece que irão fechar de forma rotativa, repito rotativa, as Maternidades da Grande Lisboa durante o Verão.

Onde é que está o problema?

Claro que muitos aproveitam para atacar esta medida, sem atentar à boa prática orçamental da mesma.

Em primeiro lugar a maior parte das pessoas não vai para a maternidade no verão, altura de imenso calor, sendo a  praia um lugar mais aprazível.

Em segundo lugar é absolutamente normal que o Governo aproveite este tempo de férias para organizar os custos do Estado, assim como, fazem a maior parte das famílias.

Por exemplo, em minha casa desactivo a Sport Tv, aproveitando o fim do campeonato nacional, poupando dois meses de mensalidade.

Existem jogos durante este tempo?

Sim...

Mas pouco interessantes e em pequena quantidade.

Direi até mais...

Mas quem é que resolve fazer filhos em Outubro, Novembro ou Dezembro, meses agitados profissionalmente, com fecho de contas, vendas de Natal e agitação turística.

Quem?

Por todas estas razões parece-me que existe falta de compreensão com esta medida, numa rotatividade que se aprecia e saúda.

Não existem muitos Obstetras ou Enfermeiros no SNS, dificultando a gestão hospitalar para atender tantos utentes e mesmo assim as pessoas da região de Lisboa parecem insistir em procriar...

Mas não lhes bastava o Outono, o Inverno ou a Primavera, ainda querem ter filhos no Verão.

Tenham vergonha e vão para a praia, sem gritos ou reclamações que o nosso País, não é o Pingo Doce em dia de promoções.

Tenham bebés mas com respeito ao calendário adequado para o efeito.

Combinado?

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Matanças Em Directo Ou Os Cinco Minutos De Uma Infame Fama?

Filipe Vaz Correia, 15.03.19

 

Dois dias...

Duas matanças.

Filmadas, divulgadas, publicitadas em meios de comunicação, esventrando um pedaço da condição Humana, que sendo nossa, parece se ausentar por momentos, deixando somente a tristeza soluçar dentro de nós, esse medo maior, de um dia nos depararmos com tamanha monstruosidade.

Imagens reais, como se estivéssemos num jogo de computador, intenso horror, por entre, gemidos e disparos, gritos e sangue, ódio...

Esse arrepiante ódio, sem qualquer explicação.

Tentei evitar ver aquelas imagens, mas não consegui...

Também eu cedi, abri os olhos e deixei-me levar por aqueles instantes de desespero, tragédia, carnificina.

Nada trará aquelas vidas perdidas, aqueles sonhos que ficaram por realizar, aquelas vidas por cumprir, os sorrisos perdidos dos que morreram ou dos que ficando, com eles emocionalmente partiram.

Pais, amigos, familiares...

Nada mais tenho a escrever, somente explanar nesta Caneca de Letras, o silêncio...

O silencioso silêncio da ausente esperança que me invade, me invadiu, me amarra sem fim.

Numa escola, numa mesquita ou em qualquer outro lugar...

Mais do que o som dos disparos, tentemos ouvir o silêncio que se segue, a esperança que dali se escapa, o amargo fim da essência Humana.

Pois é somente isso que dali resulta...

O desesperante falhanço da condição Humana.

 

 

Filipe Vaz Correia