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Caneca de Letras

12.11.21

 

 

 

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Sempre que via um comboio a partir;

imaginava esse mundo

descobrindo sem fugir

esse longínquo e profundo

desejo de sentir

o meu ausente destino...

 

Sempre que abriam os portões;

daquele campo maldito

imaginava os corações

daqueles interditos

olhares que me fugiam

dos que um dia imensamente amei...

 

Sempre que chegava o amanhecer;

desconfiado caminhava

querendo adormecer

na esperança que em mim habitava

de que poderia ser diferente...

 

Ia seguindo amordaçado;

amordaçando a alma já cansada

presa num corpo desanimado

àqueles pijamas riscados...

 

Assim, em cada partida;

a cada fuga perdida

em cada dia, ferida

ia se aproximando a minha vez...

 

E aí descobri que me haviam roubado tudo;

até a esventrada esperança

mas que apenas eu

era o dono da minha alma!

 

 

 

 

 

 

 

 

19.06.20

 

 

 

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De cada vez que olho para aquela criança perdida, com medo, seus medos, sinto que numa aguarela sentida se pincela a contradição Humana, esses receios que nos moldam, se agigantam e nos fazem caminhar por estradas diferentes.

Nesse rumo ziguezagueante, se somam as cicatrizes armazenadas na alma, aquelas secretas lágrimas que sobram, marcam, ficam...

Em silêncio, silenciosamente sussurradas nas noites frias em que a luz apagada anunciava monstros e urros, trevas e pânico.

O abrigo maior, esse abraço quieto e acolhedor, chegava, nem sempre antes do estremecer da alma, no entanto, retemperador e pacificador dessa inquietação maior.

Num olhar da janela da imberbe experiência, a correria que parecia calmaria, o serpentear de palavras e ideias confusas, complexas que amarravam a respiração, num entediante jogo de semáforos, onde se descrevia o correcto e o incorrecto.

Aprendizagens...

De cada vez que olho para aquela criança perdida, à espera do tempo, recordo o aprender constante, o moldar presente, num percorrer sem parar de uma construção imperiosa da personalidade.

Esconder medos, afastar fantasmas, tomar as rédeas de tanto sem que o tempo permitisse os tropeços num puzzle cristalino e irrequieto.

Será sempre assim?

Julgo que sim...

O medo de perder, desse perder que chega, daqueles que nos pertencem, dos que ainda não chegaram, dos que partindo se desapegaram de nós.

A criança perdida com medo de crescer, dessa pressa descrita num texto de um estimado amigo...

Olho para trás, em busca dessa criança, desse olhar pueril que outrora ambicionava querer, desejando não temer o que temendo, se guardava nas entranhas da esperança.

Olho tantas vezes para trás...

Os dias percorrem o seu destino, o nosso, nesse passo atrevido e vazio, nesse vazio a passo buscando o atrevimento solto de um tempo por resgatar.

São as palavras, nesse enredado pedaço de tela, que se atrevem a descodificar com tempero o piscar de olho, o suspiro profundo, o sorriso matreiro ou a despedida hesitante...

São elas, as palavras, que se atrevem a traduzir o que esconde o olhar, esse guardião da alma, esse bater literal do coração, esse regente secreto da memória.

De cada vez que olho para essa criança perdida, sinto as saudades de tudo, de tanto, daquilo que sonhei sonhar, das conversas e risadas pelas madrugadas, do nexo e reflexo por mais complexo que possa parecer.

Um dia...

Nas entrelinhas da memória, num encontro desconexo, talvez volte a encontrar essa criança, numa outra vida, pedaço solto de todos os pedaços de lembrança, num outro ambicionado destino.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

15.11.19

 

Isto está mesmo muito perigoso...

Será que já nem neste bondoso sem-abrigo podemos confiar?

Parece que o dito sem-abrigo do professor Marcelo, aquele que apareceu em Telejornais e afins, intitulado como o salvador do “Salvador”, o bebé abandonado num caixote de lixo perto do Lux, não passa de uma grande charlatão.

Já ofereciam casas ao dito homem, que chegou a fazer diante das câmaras de televisão a reconstituição do salvamento e agora...

Agora aparecem dois outros sem-abrigo, aparentemente a dizer a verdade, como se pode observar pelas imagens do dito salvamento, reivindicando a autoria do gesto que pode ter salvo a vida da dita criança.

Isto de facto está tudo perdido...

E agora?

E agora Professor Marcelo?

Volta ao local para uma nova reconstituição com os verdadeiros salvadores ou os irá receber no Palácio de Belém?

Se calhar...

Se calhar é melhor esperar para se ter a certeza de que são estes, os homens que aparecem nas imagens do resgate.

Francamente...

Já não se pode confiar, mesmo, em ninguém.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

07.11.19

 

Estava agora a ver as noticias e não pude deixar de agarrar no teclado e escrever, escrevendo compulsivamente a raiva que em mim habita, nesse grito a gritar a tristeza que me invade.

Como é possível?

Mãe?

Não ofendam todas as Mães deste mundo, aquelas que abraçam todos os dias os seus filhos e aquelas que já não abraçando, vivem na memória destes eternamente.

Existem mães que nunca deveriam ter sido Mães.

Esta é a frase que me ocorreu, a primeira ideia que se acendeu ao ouvir as palavras, ao ver as imagens, ao me aperceber de quão baixo pode descer o Ser Humano.

Uma “mãe” que abandonou um recém-nascido num caixote do lixo, sem qualquer agasalho, numa zona escondida, abandonando aquele pequeno Ser a um destinado fim...

À morte.

Felizmente, este menino, foi salvo por um Sem-Abrigo...

Mãe?

Poderão dizer que ninguém sabe a vida daquela pessoa, que desconhecemos as motivações e o desespero, que existirão mil e uma razões para tamanha barbaridade...

Não aceito!

Aqui nem contesto o abandono, pois se quer abandonar que o faça, dependendo dos casos, até posso aceitar ser um acto de amor, desesperadamente por amor.

No entanto, se quer largar o bebé, então que o deixe à porta de uma casa, toque e fuja, que deixe dentro de um autocarro, que deixe num hospital, perto de uma esquadra...

Num caixote do lixo, afastado de tudo, sem qualquer tipo de agasalho?

Isto não é abandono...

É Infanticídio!

Existem “mães” que nunca o deveriam ser.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

22.08.19

 

Já é noite e não vejo estrelas no céu...

Fecho os olhos e pareço voar, levitar levemente, deslizando por entre a ténue atmosfera que me envolve, num momento sonho, num outro realidade.

Abro os olhos e lá estou...

No topo do mundo, olhando para baixo, vislumbrando esse horizonte, deliciosamente, por descobrir.

Um barco de piratas, com as velas içadas, as gentes apressadas em pleno oceano...

O Capitão de espada na mão, com um gancho na outra, incentivando os seus homens a esventrarem aqueles que com eles se cruzassem, nesse mar alto carregado de peripécias por viver, de aventuras por chegar.

Do outro lado do mundo...

Um campo de futebol no pico de uma montanha, no cimo mais alto daquele lugar.

11 jogadores dispostos, frente a frente, duas balizas brancas em lados opostos e um campo verde, tão verde como doce, coberto de açúcar...

Benfica vs Sporting!

O jogo pode começar...

Mas antes de começar a bola a rolar, o meu olhar escapou por entre as folhas de papel, muitas folhas que formavam aquele arranha céus de livros, de histórias, de gentes e personagens.

Um mundo de lágrimas e sorrisos, momentos incertos e imprecisos, onde se pode voar sem medo de cair ou caindo sem temer o regresso ao princípio de cada capitulo.

Cruzo o meu olhar com o do “velho” Cocas...

Reconheço o seu olhar, companheiro de tantas aventuras, de tantos momentos que se entrelaçam nas asas do destino.

Oiço vozes...

Passos...

Acenderam a luz do quarto e tombei sem parar, sem rede, desde aquele céu, aquele infinito, ou seja, o tecto do meu quarto, até entrar nessa realidade deste mundo de adultos.

Deitado na cama olhei para minha Mãe...

- Rudy! Era o meu nome na expressão de sua voz.

Estava na hora do banho, antes de jantar, quebrando-se assim o sonho, alimentado pela imaginação que me desperta, fortifica, ganha asas deslumbrantes sempre que me é permitido regressar ao doce colo da terna infância.

Sonhar...

Sonhar, por entre, o aventureiro mundo de minha alma.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

25.07.19

 

Como posso dizer?

Escrevinhar sem soluçar, ou mesmo que soluçando, olhando de frente para o futuro sem me recordar daquela criança que brincava em seu quarto, esperançosamente esperando por esse amanhã.

Todos já fomos essa criança...

Não fomos?

Aquele mundo de exclamações e interrogações, de medos e certezas, de anseios e desejos.

Tanto tempo passou...

Tão pouco tempo decorreu.

A noção de tempo é um dos mistérios da existência Humana, desse decorrer de segundos e instantes que chegando se perdem, abraçando se extinguem, amarrando nos libertam.

Tanta gente que se perdeu pelo caminho, olhares que se apagaram, vidas que abandonaram o palco e vivem agora aprisionadas na minha memória.

Tenho tanto carinho por aquela criança, pelos seus sonhos cumpridos ou por cumprir, pela sua vontade de querer, simplesmente, existir.

Tenho saudades...

Saudades que vivem em mim, sem fim, por fim.

Em cada momento, por entre, caminhos e destinos, busco sempre, quase sempre, aquele sentir puro que habitava naqueles largos caracóis, naquelas expressões sorridentes, naquele tempo que parecia não passar.

Infelizmente passou...

Felizmente passou.

Tantas contradições, próprias de interrogações que chegam e que se entrelaçam com a vida de adulto.

Escrevendo este texto liberto um pouco desse tempo perdido nos escritos antigos, nas memórias presentes, recordando nesta Caneca um pouco mais de mim...

Um pouco mais dos meus.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

03.04.19

 

 

 

Peter Pan;

Onde estás?

 

Arrancado do coração;

Gritando a alma,

Numa espécie de oração,

Incógnita ilusão,

Num mundo de crescidos...

 

Peter pan;

Pudim flan,

Com pedaços de maçã,

Num inusitado poema,

Renascendo o eterno dilema,

Na memória infantil...

 

Já não podes ser criança;

Nesse renegar de esperança,

Esmagando a lembrança,

Ventania ou desesperança,

Que atormenta...

 

Já não podes ser criança;

Velho poeta...

 

Velho poeta;

Que te recusas a crescer...

 

Que poeticamente;

Te recusas a crescer.

 

Peter pan;

Onde estás?

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

11.03.19

 

Mar acima, mar adentro, na minha jangada de pedra, no meio dessa imensidão de água, azul cristalino que me rodeia, num horizonte longínquo, sem fim.

Na minha jangada de pedra, navego por esse mundo a fora, numa viagem sem fim, por entre o que desconheço, sabendo somente que dentro de minha alma, pulsa a curiosa, curiosidade, de um solitário rapazinho.

Nessa solidão, onde me encontro, nascem e renascem fantasmas e animais, gigantes animais, que submersos aguardam por um instante para se revelarem, desnudarem a face e surgirem como um cabo das tormentas, numa sinuosa vertigem, inesperada.

Continuo a remar, sem olhar para trás, fixamente querendo flutuar sobre as águas, gélidas e ameaçadoras, buscando uma razão para interligar o sentir ao querer, o desejar ao temer, o recordar ao viver...

Sempre navegando, sempre continuando.

No meio desse interminável querer, enfrento medos e receios, perco pedaços de um passado desconhecido, meio perdido, por entre, as lágrimas de outrora...

Lágrimas que se foram embora, antes que delas me pudesse recordar, antes que essa parte de mim, escapasse da razão e partisse juntamente com a emocionada emoção de uma criança.

Eu sei lá, se continuarei a percorrer as águas da imaginação ou se nunca mais irei acordar de tamanho pesadelo, pesado desvelo que me amarra sem calar, que me afoga sem nadar, que se entrelaça numa singela jangada de pedra.

Num momento, tão pequeno, ali estou...

Num outro, tão velho, ali me encontro.

Passou, tudo passou, sem rasuras, sem retornos, sem regressões.

Numa jangada de pedra, comigo levo os livros de minha vida, capítulos sem fim do que vivi, por entre, romance e drama, comédia e ficção, desabafos soletrados que me pertencem.

São os livros de minha vida, contando a minha vida, flutuando nessa jangada de pedra...

Numa jangada de pedra.

Na minha jangada de pedra!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

22.12.18

 

 

Volta pequena criança;

De outrora,

Carregada de uma esperança,

Que se foi embora,

Uma leve lembrança,

De um velho agora,

Que queria repetir...

 

Queria repetir;

Sem temer,

Voltar a sentir,

Sem perder,

Cada pedaço de mim...

 

Volta pequena criança;

Que um dia fui,

Sem medo da desesperança,

Que chegou...

 

E num qualquer lugar;

Num outro tempo,

Tentarei resgatar,

Essa espécie de momento,

Que eternamente me ficou.

 

 

 

 

 

 

 

13.07.18

 

Tive um amigo imaginário, tão imaginário aos olhos de outros, como real nesse sentir que até hoje me pertence.

Tantas e tantas vezes me acompanhou...

Em férias a sós com meus Pais, solitariamente entregue às brincadeiras que eu mesmo imaginava, no primeiro dia de escola, enfrentando os receios próprios desta minha timidez, no caminhar pelo trilho de uma infância.

Nesse mundo, só meu, aquela personagem se tornava real, companheiro de aventuras e desventuras, confidente inigualável nos mais variados momentos.

A minha querida Mãe ao se aperceber deste traço, de mim mesmo, das conversas aparentemente solitárias, apressou-se a levar-me a um Psicólogo, amigo da família, alguém entendido nestas coisas da mente, vulgarmente intitulado, em meados dos anos 80, de "maluquice".

Mas que mal tem falar com um amigo imaginário?

Pensava o menino...

E refutava o imaginário, no fundo da minha alma, sabendo bem a pueril mente que era somente na imaginação que vivia esse, tão fraterno amigo.

Talvez esse traço, vulgo consciência, me tenha retirado da área dos "malucos", ou então, esse dito amigo de meus Pais era, também ele, um grande "maluco".

Também?

Sabe-se lá...

"Deixem o rapaz brincar e expressar-se à vontade, isso é apenas um reflexo da sua imensa capacidade de imaginação, a escapatória por ser um menino num mundo de adultos.

O tempo passou...

Cresceu o menino, buscando da vida outras realidades, construindo reais amizades, vivendo intensamente cada pedaço de emoção solta, por entre, as melodiosas formas de um destino.

No entanto, de quando em vez, lá me vem à memória a imagem daquele amigo, conselheiro, companheiro incessante dos primeiros anos de uma vida...

E mesmo sabendo que fisicamente ele não existe, nunca existiu, não fez parte desta realidade que denominamos de vida, mesmo assim, em mim...

Na minha alma estará sempre presente a sua imagem, buscando nessa certeza, o pedaço dessa criança que em mim, felizmente, sobrevive.

Obrigado por tudo Gó.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

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