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Caneca de Letras

06.09.19

 

As cores escaparam, fugiram, esbateram-se...

Na tela em branco nada sobrou daquelas pinceladas que amiúde foram ficando pela vida a fora, deixaram de brilhar, numa misturada interrogação que amordaça a vontade e se perpetua nessa dor que esmaga sem gritar.

Nesse vazio que se impõe, vezes sem conta, é sussurrado o nome dessa batalha que soletradamente desapareceu, dessa inquietude perdida, silenciosamente calada, por entre, a amargurada desventura que sobrevive aos dias e noites, numa repetida melodia, indiscretamente insistente.

Já perdi o hábito de expressar o teu nome, a imagem do teu rosto que se foi apagando, o bater do coração acalmando o sobressalto que outrora se agigantava.

Tudo mudou...

Mas nada morreu!

Nesse viajar, por entre, nuvens e chuva se desconstruiu aquela perfeição extinguida, aquele amarrar persistente, aquele amarar nesse mar agitado que agora se acalmou, desistiu de “bravejar”, como se desistisse de lutar contra as tristezas que se acumularam, por entre, as marés do destino...

A tela em branco...

Sempre ela.

De olhos fechados, questiono a imaginação pelas memórias desse passado, nosso, pelas saudades de um tempo onde se entrelaçavam os olhares, as mãos ou as frases desassossegadas, palavras desencontradas, numa enigmática esperança lunar.

Neste texto nada disto se encontra, nem as palavras permitem esse encontrar, com receio de que numa singela pontuação se recordem de como era o que agora desapareceu, de como foi o que desesperançadamente se perdeu.

As cores...

As tamanhas cores de outrora, aquelas que ousavam, atreviam, desafiar o entendimento, a percepção do que estava desenhado e que deram lugar a esse espaço vazio que reina, se agiganta, despedaçadamente irrompe sem esperar.

Numa última dança se escreve um texto, se desempoeiram as palavras, se despem as desapegadas letras, para nesse último passo brindar ao que existiu...

Ao que foi amor.

Ou será que ainda é?

Isso pouco importa...

Que se faça tocar a música para num instante parecer que ainda sobrevivem as cores melodiosas de um intemporal amor.

Tão intemporal que preferiu morrer do que simplesmente esse sobreviver que ameaçava o amarrar eternamente.

As cores...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

16.06.19

 

 

 

Não quero mais sorrir;

Doce forma de mentir,

Num ápice a fingir,

Disfarçando o ferir,

Que se instala...

 

Não quero mais caminhar;

Abrir os braços e voar,

Soletrando o divagar,

Tão imenso renegar,

De um abraço...

 

Não quero mais querer;

Nem tão pouco insistir,

Somente entorpecer,

O leve resistir,

Que ainda subsiste...

 

Entre pinceladas;

Nesse quadro vazio,

Palavras adiadas,

Como peixes num rio,

Se dilui a encruzilhada de tamanhos versos...

 

Solitários versos de um poeta.

 

 

08.02.17

 

És como um arco-íris;

Tens em ti todas as cores,

As cores desse mundo,

De alegrias e dores,

Num horizonte tão profundo,

Onde por vezes, te pareces perder...

 

Tens em ti um arco-íris;

Tão brilhante, que te ofusca,

Ofuscando, ofuscante,

Nessa ânsia tão intensa,

Por vezes, asfixiante,

Como uma lua imensa,

Que não pára de brilhar...

 

Vislumbrando esse arco-íris;

Por vezes, querendo saltar,

Libertando-se num segundo,

Agarrando sem parar,

Essa estrela distante,

Que por timidez,

Se parece esconder...

 

Assim um arco-íris;

Tens guardado dentro de ti,

Com todas as cores do mundo...

 

Numa pintura sem fim;

Pintando essa alma,

Escondida nesse jardim,

Que é só teu!

 

 

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