20.11.18
Sentado à Beira-mar, com essa imensidão diante de mim, escondendo os meus pés na areia molhada...
O escurecer vespertino que convida a nostalgia, numa dança imperfeita, que se entrelaça com a perfeita perfeição de um leve imaginar.
O mar vai e vem, regressa e se afasta, se aproxima e se distancia, abraçando intermitentemente a minha alma.
Na areia escrevo desconexamente palavras ao acaso, num sentido partilhar de algo que nem eu sei...
Fecho os olhos e deixo avivar os sons que parecem se libertar em mim, através da gigantesca força daquele mar azul.
Sou tão pequeno...
Tão insignificante parece ser um destino, por entre, o turbilhão de vidas que se escapam na bruma das ondas, por entre esse encontro de passados e futuros...
Por entre este presente que é agora...
Só agora.
E já passou...
Se escapou, eternamente, sem regressar.
Mas naquele ondular primaveril se acalma a alma, se enternece o olhar, amacia o coração, cansado de amarguras, desventuras, agruras que se pintam nos céus.
Seria tão mais fácil, se por um instante, o tempo parasse e num momento, em cada regresso das ondas, pudéssemos escolher para a eternidade, aquele segundo, onde por ventura, fomos verdadeiramente felizes.
Talvez por isso, aqui volte sempre...
Sempre.
Esperando escolher esse momento, essa misteriosa vontade de não ter mais saudade...
Ou tendo, sacia-la de uma vez, amarra-la definitivamente e não mais chorar, misturando as minhas lágrimas nesse mar salgado que insiste em chegar.
Todas as lágrimas do mundo nessa imensidão de água a meus pés.
A meus pés...
Parte de mim.
Levantei-me...
Caminhei de volta para a realidade, para o mundo onde não cabem os sonhos, os pequenos contos de criança.
Caminhei, sabendo que ali voltaria, como sempre, carregado de uma desesperançada esperança, de me entrelaçar com essa eternidade perdida...
Perdidamente repleta de reencontrados reencontros, de anseios e planos, amores e danos, memoráveis sonhos ou recordações.
E a cada passo...
Me afasto desse regaço ou abraço, somente entregue à doce imaginação de cada espaço, em cada letra, por cada palavra, de cada linha.
No mar ou pelos recantos do coração.
Filipe Vaz Correia