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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Recantos...

Filipe Vaz Correia, 20.11.18

 

Sentado à Beira-mar, com essa imensidão diante de mim, escondendo os meus pés na areia molhada...

O escurecer vespertino que convida a nostalgia, numa dança imperfeita, que se entrelaça com a perfeita perfeição de um leve imaginar.

O mar vai e vem, regressa e se afasta, se aproxima e se distancia, abraçando intermitentemente a minha alma.

Na areia escrevo desconexamente palavras ao acaso, num sentido partilhar de algo que nem eu sei...

Fecho os olhos e deixo avivar os sons que parecem se libertar em mim, através da gigantesca força daquele mar azul.

Sou tão pequeno...

Tão insignificante parece ser um destino, por entre, o turbilhão  de vidas que se escapam na bruma das ondas, por entre esse encontro de passados e futuros...

Por entre este presente que é agora...

Só agora.

E já passou...

Se escapou, eternamente, sem regressar.

Mas naquele ondular primaveril se acalma a alma, se enternece o olhar, amacia o coração, cansado de amarguras, desventuras, agruras que se pintam nos céus.

Seria tão mais fácil, se por um instante, o tempo parasse e num momento, em cada regresso das ondas, pudéssemos escolher para a eternidade, aquele segundo, onde por ventura, fomos verdadeiramente felizes.

Talvez por isso, aqui volte sempre...

Sempre.

Esperando escolher esse momento, essa misteriosa vontade de não ter mais saudade...

Ou tendo, sacia-la de uma vez, amarra-la definitivamente e não mais chorar, misturando as minhas lágrimas nesse mar salgado que insiste em chegar.

Todas as lágrimas do mundo nessa imensidão de água a meus pés.

A meus pés...

Parte de mim.

Levantei-me...

Caminhei de volta para a realidade, para o mundo onde não cabem os sonhos, os pequenos contos de criança.

Caminhei, sabendo que ali voltaria, como sempre, carregado de uma desesperançada esperança, de me entrelaçar com essa eternidade perdida...

Perdidamente repleta de reencontrados reencontros, de anseios e planos, amores e danos, memoráveis sonhos ou recordações.

E a cada passo...

Me afasto desse regaço ou abraço, somente entregue à doce imaginação de cada espaço, em cada letra, por cada palavra, de cada linha.

No mar ou pelos recantos do coração.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Soletradamente...

Filipe Vaz Correia, 27.03.18

 

Um dia bem distante, tão distante como as memórias que insistem em não regressar...

Nesse dia fui feliz.

Tão feliz que pareço não recordar, meio hesitante, não sabendo bem como expressar, esse desejo que se diluiu.

Houve um tempo onde nada mais existia, onde se perdia esta parte de mim que estando presente, se quedava ausente, na permanente vontade de te amar...

Mas tudo isso se perdeu, desvaneceu sem falar, calando insistentemente a tamanha querença de um bem maior.

Pois em cada sorriso teu, se perdeu esse olhar meu, que se perdendo por entre o tempo pareceu não parar...

Ou talvez se pudesse parar o tempo, mesmo sendo um qualquer segundo importante, nessa vontade tamanha de te querer.

Mas caindo a noite desperançada, sempre quieta e calada, se apercebeu este coração meu, que renegado estava este inquieto amor...

Amor imenso, intranquilo, intenso e intemporal, destemidamente capaz de tudo enfrentar.

Só que chegada a inesperada dor, indescritível sofrimento, soletradamente descrito por cada palavra tua, foi escapando a pequena essência de tão precioso sentir.

E ficou aquele nada, despido de tudo mas carregado de vazio, de dor, de mágoa. 

Um dia, por mais anos que passem, voltarei a este texto, a estas palavras, para recordar um adeus que nunca desejei...

E continua a bater o estúpido coração, tentando esquecer o que tantas vezes ousou recordar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

Passado...

Filipe Vaz Correia, 21.10.17

 

 

 

Será que posso revelar;

O que esconde o meu coração?

 

O que esconde a emoção;

Desbravando inquieto,

O carregado semblante,

Desse receio, entrelaçado,

Esse medo, aprisionado,

Em cada lágrima nossa...

 

Em cada memória;

Guardada em nós,

Pedaço de história,

Cravado na pele,

No sentido destino,

Da alegórica alma...

 

E vai continuando;

A louca melodia,

O deslumbrante pensamento,

Do que foi um dia,

Esse nosso amor.

 

 

Geométrico Coração...

Filipe Vaz Correia, 30.09.17

 

 

 

Consigo ver através do escuro;

Os silêncios desenhados,

Consigo adivinhar o futuro,

Por entre círculos e quadrados...

 

Formas geométricas;

Destinos coloridos,

Caminhos assimétricos,

Dias repetidos...

 

Lua nova ou minguante,

Pouco importa, para mim,

Lágrima errante,

Que sufoca sem fim...

 

Que sufoca com empenho;

A alma aprisionada,

Aprisionando ao desenho,

A imagem desejada...

 

Feita por rabiscos,

De um geométrico coração.

 

 

Terás O meu Sempre Pelos Dois!

Filipe Vaz Correia, 08.09.17

 

"Terás o meu sempre pelos dois!"

Esta frase pertence a Manuel Navarro, concorrente Espanhol do Festival da Eurovisão, e faz parte de uma mensagem que este escreveu no seu Instagram, para apoiar o Salvador Sobral neste momento delicado em que se encontra.

Custou-me ver o vídeo de despedida do Salvador, uma espécie de intervalo, por entre a batalha que se prepara para enfrentar, numa mistura de sentimentos impossíveis de controlar.

Os pasquins do costume, apressaram-se a vaticinar as tragédias habituais, a declarar a temporalidade da existência Humana, de um rapaz que se depara com tamanha provação...

Mas não se pode esperar de crápulas, atitudes nobres, nem de gente inescrupulosa, princípios ou valores, por essa mesma razão, pensei em escrever estas linhas, apenas para desejar ao Salvador toda a sorte do mundo, e realçar as belas palavras de Manuel Navarro:

"Meu querido Salvador: desde o dia em que te conheci em Lisboa e me convidaste para aquela Jam session, não vi apenas o teu talento incrível como artista, mas também a pessoa que és. Voltarás com mais força do que nunca, como só os maiores conseguem fazer. E quando o teu coração estiver cansado, usa o meu. Terás o meu sempre pelos dois!"

Estas palavras simples, sentidas, são na essência, aquilo que mais importa na relação Humana, aquilo que nos distingue enquanto Seres Humanos, mesmo que alguns se esforcem para distorcer esta imensa capacidade de sermos melhores.

Quanto a ti meu querido Salvador, mais uma vez espero que tudo corra pelo melhor e se por alguma razão o teu coração estiver cansado, usa o nosso...

O coração de todo o povo Português.

Do teu Portugal!

 

 

Filipe Vaz Correia