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Caneca de Letras

Caneca de Letras

Amor Da Minha Vida

Filipe Vaz Correia, 25.10.20

 

 

 

Amor da minha vida

como escrevia o poeta

na noite vazia

imensidão deserta

caminhando com certeza

nesse afago preenchido

deitados, despidos

repletos de nós.

 

Amor da minha vida

na desmedida letra de Cazuza

despedida, ferida

tudo ao mesmo tempo

nesse tempo que não pára

e que intensamente nos pertence.

 

Quero mais de ti

mais de tudo e de nada

do que perdi ou vivi

de nossa história inacabada.

 

Amor da minha vida...

 

 

 

 

 

 

“Eu Preciso Dizer Que Te Amo”

Filipe Vaz Correia, 11.10.20

 

 

 

 

Num tempo onde parece dificil usar essa palavra, amor, trazer este poema de Cazuza, feito numa tarde e cantado por Dé, Cazuza e Bebel Gilberto, simboliza um pedaço liberto de suspiro nesta Caneca de Letras...

E quantas destas letras foram sobre um dos maiores poetas que alguma vez tive o gosto de ler, ouvir, abraçar.

Cazuza...

O Mestre do amor.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Salvem-Se Os Poetas...

Filipe Vaz Correia, 09.10.20

 

 

 

 

 

As minhas palavras foram, desde cedo, entrelaçadas aos grandes poetas, àqueles que puseram em palavras os sentidos maiores desses temores que nos perseguem...

A todos.

Desde pequeno que fui apresentado a este sentimento maior que nos estrangula e deixa sedentos, que nos abraça e liberta, nos ensina a viver e reviver pelos trilhos da dimensão Humana.

Nessa ânsia de caminhar, leia-se escrever, ler, fui tropeçando na boçalidade que amiúde saltava dos ignorantes com quem me fui cruzando mas também ressaltando daqueles que me deram a mão, me ensinaram a olhar e escutar, soletrando as suas ideias, sussurrando as questões que perturbavam os dogmas instalados...

Desses, os últimos, fui bebendo, retirando o melhor, em prosa, em verso, nas intermináveis poesias que simbolizavam os enigmas escondidos nas esquinas da alma.

Tenho medos e anseios, saudades imperfeitas em perfeitas e solitárias vontades...

Como admiro Pessoa, na sua pequenez agigantada, Cazuza, na sua irreverente vontade de viver que inevitavelmente o guiou até ao imberbe fim de seus dias, Drummond de Andrade, na gentil forma de ser intemporal, Vinicius, nesse copo de Whisky que ainda tilinta nos mais requintados bares de Copacabana, Camões, pelo singelo facto de ser na sua pena que se amarra cada parte dessa descoberta constante de um imenso Povo...

O nosso.

Na Carta a Dani, onde Cazuza escreve as primeiras palavras após ter assumido a sua doença, essa que naqueles dias certificava o fim mais cruel desde o tempo da lepra, se pode sentir a corajosa coragem, a repetição por vezes faz sentido, podendo encontrar o verdadeiro sentido de um poema...

Despido, real, mais além do que qualquer retrato.

Coragem, Humano, de uma dimensão escassa, singela...

Cazuza escreveu um dia:

"Que morrer não dói"

Mas dói a insensibilidade destes tempos desumanos, bem explicita na encíclica papal Fratelli Tutti, onde o Papa Francisco cita Vinicius de Moraes.

E se na divina palavra de um Papa cabe um trecho do "Samba da Benção"...

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida"

Talvez seja a hora de em cada parte de nossas vidas conseguirmos olhar para o outro, para cada verso de nossos dias, com a fraterna expressão de um poeta.

Sem receio de amar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

O Tempo Não Pára... Ou As Doces Lágrimas De Um Poeta?

Filipe Vaz Correia, 22.04.20

 

O tempo não pára...

Já aqui escrevi, tantas vezes, sobre essa inevitabilidade que é o percorrer do tempo, esse caminhar sem parar, abraço que aperta mais do que ama.

O TEMPO NÃO PÁRA!

A letra e música de Cazuza, poeta maior que aqui vos deixo em voz no Canecão 1988, pouco mais de um ano antes de morrer, é o despertar de um País, o alfinetar da consciência de sua geração, esse desesperado adeus a um ausente presente que jamais chegaria.

Naquele palco carregado de dor, ardor e compaixão, se entrelaçariam as letras de um povo, se reuniriam os poetas de um destino, se libertariam, em parte, os geniais instantes de um momento finito...

Tão finito quanto definitivamente dramático.

Nas linhas imperfeitas da poesia de Cazuza descobri o amor, aprendi a desencontrar a critica feroz da ternura disfarçada dos pequenos medíocres, desassombrei-me com os hipócritas no meio da multidão.

O poeta cru, destemperado, emocional e transparente...

Assim se traduzia cada verso da poesia de Cazuza, cada traço final da sua agonizante vida.

Morreu o poeta, entregue às cicatrizes da sua maldição, ao mesmo tempo que se tornou eterno, eternamente guardado nas histórias de um povo, na alma de todos, no "pequeno" sentir deste que vos escreve.

O que diria Cazuza da Pandemia?

De Bolsonaro?

Se calhar para a desprendida poesia de um inquieto poeta, a verdadeira pandemia se realiza a cada palavra de Bolsonaro, em cada aparição de uma visão boçal...

Se calhar?

Obrigado Cazuza.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

Viva Cazuza (Muito Mais Do Que Uma Canção)

Filipe Vaz Correia, 29.02.20

 

Volto sempre a Cazuza...

Sempre.

Por vezes triste e amargurado, outras vezes feliz e encantado, sempre regresso ao som de ideologia, aos gritos de exagerado, ao romantismo de faz parte do meu show.

Como é bela a poesia...

A esquecida poesia que hoje se desencontra do sentir comum, perdendo espaço para outras formas de expressão.

Não pela menor importância poética para estes novos tempos, talvez nunca a poesia tenha sido tão importante para compreender o tempo e a forma, mas pela sua exacta falta de pressa, de correria constante que avassaladoramente nos invade...

A poesia é precisamente o contrário das redes sociais ou dos instantâneos vídeos que nos encurralam...

A poesia é tempo e digestão, trago e palato numa intensa e longa degustação, por entre, sentir e observar, por entre, querer e desejar, por entre, um beijo e um abraço.

Cazuza é para mim o entrelaçar da modernidade e do arcaico, da revolta e da coragem, da paixão e do amor, do querer e do desprendimento...

Cazuza é tanto e tão pouco, eterno e breve, sentimento e loucura.

Tudo isso em prosa, em poesia, melodia e canção que ecoa para lá do Atlântico, para cá do mesmo Oceano.

Perdoem-me no decifrarar de suas poesias, sinto cada letra desse ardor que o corroía, que esventrava o seu País, esventra, cada palavra solta tornada livre por si, pela pena de sua caneta em forma de arte.

Cazuza...

Sempre ele, Poeta, Cantor, liberto em cada um de nós que continua a perpetuar o seu extraordinário talento.

Viva Cazuza!

Viva Cazuza, o nome da Instituição que continua o seu legado, legado que tem salvo milhares de crianças com Sida no Brasil.

Também por isso Cazuza permanece vivo, tão imenso como no palco do Canecão.

 

 

Filipe Vaz Correia