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Caneca de Letras

27.09.23



 

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Nesta terça-feira assisti estupefacto a uma situação indescritível, a agressão por dois ou três tresloucados elementos ao Ministro do Ambiente Duarte Cordeiro.

Sei bem que os tempos são diferentes, no entanto, normalizar este tipo de atitudes apenas nos levará para um caminho de absoluta anarquia e selvajaria.

Admito a crise climática, assim como outras, neste tempo actual, aceito a urgência da questão e até o fervor com que alguns desejam debater a situação...

Porém aceitar que duas criaturas invadam um auditório para agredir o convidado da sessão sem que isso nos leve a uma indescritível reprovação parece-me inacreditável e um sintoma de quão insana está a sociedade.

Duarte Cordeiro esteve irrepreensível, demonstrando uma capacidade para normalizar o momento e desprove-lo de questiúnculas, recolocando as senhoras no seu devido e menor lugar.

O comportamento do Ministro não deve, no entanto, retirar a gravidade da ocasião e a respectiva punição que deverá pender sobre as ditas  energúmenas, acentuando a faceta abstrusa daquele momento.

Sou intransigente com radicais venham eles da extrema direita ou da extrema esquerda, sejam eles, os agressores, barbudos Skinheads ou meninas angelicais em frenética histeria.

Uma profunda repugnância e ao mesmo tempo uma imensa admiração...

Repugnância para com as histéricas "talibãs", admiração para com o Ministro que soube manter a compostura e dar uma surpreendente dimensão de Estado a um momento lamentável.

Nota mais para Duarte Cordeiro.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

07.09.23

 

Sinto um calafrio sem espinhas, ou será na espinha?

numa busca itinerante pelo que não sei,

como as letras de Pessoa, as palavras de Neruda,

entre as saudades do que se perdeu ou as lágrimas do que ainda não chegou,

mas na incerta certeza do que tenho,

insisto em buscar esse verso amar que se esconde só de leve,

no bater do sonho remelado,

no embranquecer da neve.

 

Sinto que será possível ser feliz;

num intervalo de tempo,

se o tempo tiver intervalo,

como um jogo de futebol,

sem árbitro, sem juiz, nem raiz,

num desconcerto acertado,

que se impõe interpelado,

como um simples beija-flor.

 

Sinto que o destino está descrito;

num escrito bem sucinto,

por entre sorrisos amassados,

amores entrelaçados, num divã antiquado,

aguardando a sua vez,

de nos resgatar do singelo vazio.

 

Sinto querer esse bem querer,

passe a redundância,

o merecer estremecer,

que nos chega à barriga, como borboletas a esvoaçar,

num melancólico entardecer,

num entardecer melancólico.

 

Sinto nada e tudo;

a imensidão e a escuridão,

o mesmo e o seu contrário,

cada caminhar ausente,

da chuva presente,

num raiar escaldante,

desse inferno de Dante...

 

Sinto...

mas não sei o quê!

 

 

10.05.23



 

 

Morreu Rita Lee...

Sinceramente sabia que Rita Lee estava muito doente, que a sua fragilidade era cada vez maior mas o ícone que foi a sua vida me fazia acreditar que talvez ela fosse eterna.

A mortalidade chegou a este furacão Brasileiro, no entanto, é uma mortalidade diferente daquela que atinge a maior parte de nós, para ela, a artista, a inigualável a sua mortalidade será trespassada pelas letras das suas músicas, pela voz nas suas canções, pela beleza extraordinária de uma mulher singular.

Rita Lee faz parte da minha vida desde o berço, assim como Caetano, Bethânia ou Gal...

Era talvez a mulher mais bela que alguma vez vi, com as suas sardas, a sua elegância, a sua loucura e excentricidade, tanto que poderia transformar estas linhas do Sapo Blogs em uma mera passagem de uma trivial explanação incapaz de fazer jus a tamanha raridade.

Foi ela até ao fim, com a sua irreverência, a sua honestidade, a sua destreza e a sua franqueza.

Viveu a vida no limite, tal como outro grande que tanto gosto, Cazuza, sugando o tutano das coisas como expressou Mr. Keating no Clube dos poetas mortos.

Partiu Rita Lee...

Como escreveu em 1988 o daily mirror, a cantora preferida do Rei Carlos III.

Que viva eternamente na memória daqueles que tiveram ou tenham o privilégio de se cruzar com a obra desta monumental mulher.

Obrigado...

E até sempre, Rita Lee.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

03.05.23



 

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O que se passará na cabeça de António Costa?

Esta é a questão que mais me inquieta.

Nunca votei no PS, e muito menos na restante esquerda, mas admito que me surpreendeu o cenário da geringonça, porém o que aqui se passa num quadro de um governo do PS de maioria absoluta é indiscritivelmente inenarrável.

Galamba é um dado morto e a sua defesa um acto de suicídio...

Olhar para o quadro de radicalização da nossa vida política e o ignorar, é estúpido é irracional, viver a vida política num género São Bento versus Belém, sobrepondo essa disputa à sanidade do País, é de um risco tão desnecessário como arriscado.

Sempre considerei Costa como um animal político, alguém que percebia mais do quadro político do que a maioria, no entanto, julgo que este momento prova uma certa inaptidão e autismo desmesurada.

Galamba demitiu-se...

Costa contrariou o próprio.

Risível, patético, indescritível.

Novos capítulos chegarão, esperemos que a tempo de evitar um tsunami.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

16.02.23



 

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Venho de famílias profundamente católicas, de um enraizamento alentejano que dificilmente se explica para além do cordão umbilical.

Posto isto, indo directamente ao relatório sobre os abusos sexuais na Igreja Católica terei de expressar que os números não me surpreendem, antes pelo contrário, tenho como certeza que muitos não denunciaram, outrora morreram no entretempo, outros ainda se silenciaram na certeza da sua fé.

Há muito que dispensei os intermediários na minha relação com o divino, padres e padrecos, moralistas e fundamentalistas.

Esta vergonha que desconstrói e fere, nada mais é do que um retrato de uma Igreja putrefacta e moribunda, carregada com séculos de pecados e bulas, de inquisição e violações, dos mesmos moralistas que nos impelem as regras para vivermos de acordo com os mandamentos de Deus...

Tenham vergonha.

E depois deste relatório o que terá a Igreja a expressar aos Jovens nas próximas Jornadas da Juventude?

Talvez seja o momento para olharmos para a história e caminharmos sem receio para uma separação entre a fé e os Homens "sacros" que a desejam impôr.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

 

 

14.01.23

 

 

 

 

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Este ano não escrevi sobre a minha Mãe no dia 21 de Dezembro, pela primeira vez desde que escrevo neste Blog ausentei-me desta dor nesse dia, não no coração nem na alma, mas neste espaço...

Ainda me pergunto porquê?

Se a dor não se esgotou porque razão a decidi silenciar?

Estará esgotada a escrita sem que as lágrimas cessem?

Neste intermédio de indecisão encontrei um rascunho de minha mãe com um recado para mim, numa nota meio à pressa com muitos anos de distância...

E percebi que escrever faz parte do nosso ADN, esse desabafo partilhado ou discreto, que me permanece entrelaçado ao maior de nós mesmos.

Por isso, por essa mesma vontade de expressar, aqui volto a esta Caneca de Letras para mais uma vez, desta vez com atraso, gritar soletrando...

Amo-te Mãe.

Assim, sem mais...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

Eu

12.01.23



 

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Um dia arrancaram-me a carne;

esse pedaço de mim iletrado

caderno ilustrado

de um tempo que desencarnou...

 

Outro dia arrancaram-me a alma;

essa parte de mim iludida

parte escondida

de um tempo que passou...

 

Nesse mesmo dia arrancaram-me a inocência;

parte desencontrada dentro de mim

como um portão de um jardim 

que se partiu...

 

E assim;

sem delongas ou demoras

se traçou o traço

se desenhou o embaraço

esse quisto mal visto

de uma pintura abstracta.

 

 

07.01.23



 

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Gianluca Vialli partiu neste dia de Reis de 2023...

Um dos melhores e maiores avançados que vi jogar na minha vida, seja na mítica Sampdória, na Vechhia Signora Juventus ou no embrionário "novo" Chelsea com Gullit e Zola.

Vialli não foi o melhor jogador do mundo, nem sequer o maior avançado que vi jogar mas foi certamente o melhor jogador a rematar de primeira e aquele que mais golos deslumbrantes vi marcar na minha vida.

Adorava Vialli, a forma de correr, de lutar, de se transformar dentro de campo...

Esse modo de ser moldou a minha forma de ver o futebol, o imaginário de menino que adorava Gianluca Vialli.

Morreu no dia de Reis, no mesmo dia em que nasceu o meu melhor amigo de infância, Luís Miguel Afonso Teixeira, também ele vítima de um cancro, neste caso nos testículos, há quase 27 anos atrás.

Vialli também povoava o seu imaginário de menino sendo que nós éramos Milanistas, sonhávamos com Gullit, Rijkkard e Van Basten...

Num dia em que durante 18 anos fui feliz, junta-se a esta recordação de saudade a partida de Vialli e com ela esta imagem que aqui vos deixo, de um abraço de Mancini e Vialli, aquando do último título de campeões da Europa de Futebol da selecção Italiana.

Olho para esta imagem e vejo Vialli e Mancini mas também vejo o Luís e Eu...

Vejo amizade e amor, irmandade e fraternidade.

Vejo a vida a continuar e as lágrimas a correrem.

Até sempre Gianluca Vialli...

Até sempre, meu Luís.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

10.11.22

 

 

 


Morreu Gal Costa...

Perdi mais um pedaço de minha mãe.

Minha mãe era uma admiradora confessa de Roberto Carlos mas também de Gal Costa, uma cantora que aprendi a amar nas infinitas canções que percorriam as paredes de minha casa, nas mais infindáveis melodias, naquela voz aguda e inconfundível, mistura de divino e pecado.

Uma notícia que não se esperava, inconveniente e chocante, como tão bem expressou Bethânia, como tão bem chorou Gil...

Ainda dói, como dói a beleza da sua voz no último espetáculo de Cazuza no Canecão, na entrelaçada melodia da sua voz misturada com a de Gal cantando Brasil.

Tão actual, tão cortante, tão arrebatador.

Gal cantou, há pouco tempo,  no Campo Pequeno, soube mas não fui, ainda havia tempo para um regresso mas afinal não havia...

Há espaço para a saudade, para a tristeza, para a inimaginável extinção de um tempo, de uma Era.

O único consolo nesta triste notícia é a de que uma voz como a de Gal, uma artista como Gal Costa não morre, é eterna na sua arte, no seu talento, na nossa memória...

Obrigado Gal Costa.

Te amo.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

08.06.22

 

 

Tristeza no olhar;

pele marcada a tracejar,

infelicidade no rosto,

salgado desgosto,

num fio a brilhar,

no sol de agosto.

 

Velha e matreira dor;

flamejada da brava saudade

um sentir sofredor

entrelaçado na idade.

 

E volta o tempo a voar;

nas asas de um condor

infelizmente sem regressar

aos braços de meu amor.

 

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