18.10.19
Nos olhos de qualquer pessoa se reflecte o sentir maior da alma, essa forma de sentir que se confunde com o bater do coração, desmedida e impregnada sensação de queimada que arde sem parar.
Tantas vezes na caminhada solitária de um destino, pessoas se cruzam, esquinas desencontradas, imaginando esse entrelaçar que tarda, que esmaga, que desaparece devagarinho...
Neste instante em que lê estas palavras, imaginemos se por algum segundo já nos cruzámos numa rua, num café, numa outra vida?
Aquele olhar...
Aquela recordação...
Somos tão intensamente inteiros, neste corrupio quotidiano, que tantas vezes damos tão pouca atenção aos pormenores que se transformam, quase sempre, em pormaiores, existencialmente escondidos em perguntas, questões que passam despercebidas pelo turbilhão de caminhos por percorrer.
E se nos cruzámos, nem que seja por um segundo, não contará esse instante para podermos ter partilhado um momento essencial na vida de alguém?
Nesse mesmo instante, do outro lado da rua ou numa outra mesa do café, não poderá existir alguém a saber do nascimento do seu primeiro filho, da morte de alguém que amou ou a desvanecer no fim de um caminho carregado de recordações?
Mas o nosso passo impõe o acelerar da caminhada, desse passar sem aperceber, desse caminhar sem notar quem a nosso lado está...
E o que importa isso?
Talvez nada...
Talvez tudo.
Enquanto escrevo, enquanto lê, quem estará a seu lado, ao meu lado...
Ao nosso lado?
Olhem, sem medo de perder um momento e amarrem esse instante, desmedido instante, pois ele será irrepetivel, desencontradamente único.
E assim continua a vida de cada um de nós, por entre, encontros que se escapam ao sabor do vento.
Filipe Vaz Correia