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Caneca de Letras

Caneca de Letras

“Meu Querido Luís Miguel”

Filipe Vaz Correia, 12.11.19

 

Irra!

23 anos se passaram e pela primeira vez, esse triste dia, me escapou do pensamento...

Por um instante, nesta viagem, esse dia de final de Outubro teve em mim uma normalidade quotidiana, liberto da tristeza da tua partida, num descerrar do pano carregado de nostalgia.

Hesitei em escrever, como sempre faço, permitindo às memórias o refrescar de tantos momentos, por entre, recordações que se amarram infinitamente.

Um amigo...

Por vezes, pensando em ti, nesses anos de colégio, nos outros anos que sem colégio nos mantiveram absolutamente unidos, sobra-me a incerta certeza de que foram curtos os tempos que nos pertenceram, mas imensos os pedaços que construíram cada indescritível parte dessa caminhada.

Por tudo isso, desculpa-me por tão estúpido esquecimento, como se não me recordasse de ti de cada vez que vou ao Frutalmeidas, me sento na Cinderela ou Mexicana, em cada golo do teu Benfica, a cada vitória do meu Sporting, em cada impreciso segundo desta vida...

Nas diferenças nos unimos, literalmente, bem meninos, numa luta naquele recreio, num descarregar de puberdade que seria o selo para essa bela amizade, carregada de intemporalidade.

Ainda tenho preciso na memória o dia em que soube dessa maldita doença que te sequestrou com somente 16 anos, de cada parte das nossas conversas, dos silêncios guardados em nossos olhos, sempre que a realidade queria roubar essa esperança, nesses dias difíceis, nesses anos que se seguiram de incansável luta...

Nesse olhar encontrávamos o sorriso momentâneo de irmãos, amigos, desmedidamente interligados por essa inabalável confiança mútua.

Soube sempre que eras um dos melhores, melhor do que os demais, algo que ficou desnudadamente à vista de todos nessa cobarde luta que o destino te reservou...

Cada gota de coragem tua, era maior do que alguma vez vira, vi...

Cada impreciso sorriso, por entre, quimioterapia, resgatava a querença de te abraçar, de todos acreditarmos que seria possível.

De cada vez, de tantas vezes...

O maldito tempo que percorreu esse dia de tua partida, até este em que te escrevo, acabou por atenuar as saudades, ou seja, encobri-las numa espécie de neblina que teima em disfarçar o ardor no coração.

Mas sabes bem...

Sei que o sabes, que enquanto em mim restar um pingo de essência, desta alma que conheceste na tenra infância, tu viverás, amarrado a este querer maior que te tenho.

Até sempre, nesse encontro que um dia o destino nos reservará.

Com saudades...

Meu querido, Luís Miguel!

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

Ensaio Poético Sobre Coisa Alguma...

Filipe Vaz Correia, 27.08.19

 

Sobe e desce sem parar;

Como se tratasse de uma montanha russa,

Num instante a viajar,

Por entre a entrelaçada angústia,

Nessa espera a esmagar,

O que sobrou da velha astúcia...

 

Sempre em busca desse encontro;

Desconhecido ou por saber,

Já descrito por reencontro,

Desencontrada forma de sofrer...

 

Sobe e desce sem parar;

Nessa estrada repleta de letras,

As palavras a soletrar,

As incertas partes de um poema.

 

 

A Despida Tela De Um Desmedido Vazio...

Filipe Vaz Correia, 12.08.19

 

Dentro de mim habita o vazio;

Essa mistura de seca e rio,

Numa espécie de calafrio,

Que se vai instalando, pela calada...

 

Dentro de mim se perderam emoções;

Pequenos pedaços de razões,

Razões, outrora, pujantes,

Partes de desnudadas sensações,

Desse nada que ficou...

 

Dentro de mim corre o tempo;

Acelerado sofrimento,

Num grotesco sentimento,

Pincelado na tela intemporal de um desconhecido destino...

 

Dentro de mim...

 

Dentro de mim;

 Habita a enlaçada memória;

De uma inacabada história,

Transformada numa infinita tela de recordações...

 

Numa infinita caminhada de apaixonantes hesitações.

 

 

 

 

Desconcertante Sentir...

Filipe Vaz Correia, 11.08.19

 

 

 

Vida sem sentido ou sentindo essa vida;

Meio flor, metade dor,

Ardente ferida,

De um ferido amor,

Misturada amargura,

De olhos cerrados,

Pedaço de aventura,

Guardada no passado,

Segredando ao ouvido,

As palavras escondidas,

Esse caminho, outrora, vivido,

Por entre memórias perdidas,

Esforçadamente esquecido,

Ardentemente esquecidas.

 

E soletrando cada parte desse ardor;

Que arde intensamente,

Ficará no poema esse eterno clamor,

Que me amarra desmedidamente,

Descodificando este amor,

Que segreda eternamente...

 

As estranhas linhas desta poesia.

 

 

 

 

Ser Ou Não Ser Canequiano?

Filipe Vaz Correia, 31.07.19

 

Escrever no Caneca é uma espécie de busca pela minha interioridade, essa constância de sabores impregnados na alma, esse entrelaçar misterioso de pessoas e sentimentos.

Muitas vezes esta Caneca serve para, involuntariamente, viajar por entre memórias tão minhas, outras vezes por recordações que desconhecia me pertencerem, no entanto, sempre caminho nesta viagem Canequiana com a presente impressão de um percurso interior.

Evidentemente que opino e soletro, por entre, essa espuma dos dias, a actualidade que marca e fica, intensifica e sobressai mas são as letras soltas de uma poesia, de uma prosa desconcertada, que mais retratam a alma que em mim habita, as vozes que em mim sobrevivem, os retratos que dentro do meu coração se tornam telas pintadas, de histórias imaginadas, de amarras passadas.

Vivo liberto como Vinicius, inquieto como Pessoa, amarguradamente incerto como Cazuza, solitariamente desperto como Camões...

Será?

Enfim vivo como escrevo, nuns dias com tinta, noutros com lágrimas, nuns dias com alma, noutros vazio, numa espécie de desvario que se apodera da pena.

Nesta Caneca, vivo sem pontos ou vírgulas, acentos ou parêntesis, num mundo de letras que se completam em cada comentário desse outro lado, em cada abraço de quem se mostra Canequiano.

E porque ser Canequiano nada mais é do que um sentir constante, por vezes asfixiante, num misturado querer que se solta em busca de expressar o que, segredadamente, sussurra a desmedida alma.

Obrigado a todos os Canequianos.

 

 

Filipe Vaz Correia