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Caneca de Letras

01.04.21

 

 

 

As luzes do palco ligadas...

A sala cheia, repleta de gente, olhares, sussurros quase murros desnudando a solitária alma de um artista.

E o sorriso, o meu, como escudo da terna e frágil criança, que se esconde temendo a tamanha voracidade, desse desconhecido desconhecer.

As luzes ligadas, a sala repleta de pessoas e eu...

Caminhando de um lado para o outro desse palco, contando os momentos, cada momento, em que o sofredor sentimento pudesse se libertar, numa mistura de batimentos que aceleram o coração.

Cada passo, entrelaçado, vai fazendo disparar o raciocínio, que sendo meu se agiganta, ultrapassa o sonho e se imortaliza num gigantesco abraço com a recordação...

Mesmo se perdendo, desvanecendo, desaparecendo, sem retorno.

Já não existem "papões" escondidos debaixo da cama, nem buracos negros no tecto, apenas desencantamento no olhar, num desencantar que melodiosamente permanece, se entranha, se amarra.

As luzes do palco...

Apagaram as luzes do palco...

Sobrando o silêncio, o vazio, aquele abraçar que só a imaginação te pode dar.

Ninguém como companhia, e o sorriso de partida, como capa despida, mostrando no escuro a leve ferida que perdura.

Sem luzes, sem gente, adormece a dormente esperança de um poema declamado, de um beijo salgado, de um futuro já passado, de tudo o que um dia imaginei...

Ou que imaginava, imaginar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

09.09.20

 

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Para quê a pressa, nessa alucinada viagem,

essa espécie de remessa, de vento, aragem,

esse contraditório caminhar,

sonho, luar...

 

Para quê a correria, misto de ilusão,

pedaços de maresia, lágrimas sem travão,

nesse olhar de memórias,

saudades, histórias...

 

Para quê se constrói a palavra, letras soltas ao vento,

essa navalha amarga, punhal e tormento,

voltando para casa, nesse desafio que quer gritar,

soltando a asa, que um dia aprendeu a voar...

 

Para quê?

Para viver...

Para amar!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

30.08.19

 

Vai velho...

Vai velho que ainda caminhas, peixe sem espinhas pois os dentes já não ajudam, como se dentes ainda existissem, ao invés dessa dentadura meio gasta, que insiste em habitar na enrugada boca que vejo ao espelho.

Quem és tu?

Quem se mostra desse lado do reflexo de mim mesmo?

Os olhos sem cor, quase esbranquiçados, escondendo no fundo da alma a tristeza que um dia tomou conta, chegou de mansinho e se tornou presença insistente no dia a dia desesperançado do destino.

Vai velho que ainda aguentas com o fardo, mesmo que não fosse o tamanho fardo, maior do que a dor que se esconde em cada esquina, nessa ausência de rostos e cheiros, carinhos e palavras que foram desaparecendo com o tempo, levados por esse vento chamado vida...

Essa vida que brinda e arranca, que amarra e afasta, nos trespassa e beija.

Estou velho...

As mãos custam a fechar, as pernas a desinchar, os olhos a ver, o coração em parar de sofrer, nesse ardor ou viver que se aparenta com a angústia de um querer que escapou, esmoreceu, se perdeu por entre a incompleta vontade de sentir saudade.

Já não voltam as gargalhadas, nem as sentidas e emocionadas interrogações desse futuro por construir, correndo pela planície da alma, carregando os planos de um horizonte que não tardaria a vislumbrar.

A caneta a secar, as letras a escassear, por entre, as divagações de um velho poeta...

Estou velho...

Fechei a porta e deixei de sonhar. 

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

27.03.19

 

 

 

Centopeia;

De emoções,

Derivadas construções,

Minhas ilusões,

Pedaços de contradições,

Escondidas sensações,

Desvanecendo ao luar...

 

Centopeia;

Que me amarra,

Numa mistura desfigurada,

Querença desamparada,

Outrora desenhada,

Em papel...

 

Centopeia;

De papel,

Com sabor a mel,

Entrelaçando o amargurado fel,

Que se diluiu no tempo...

 

Centopeia...

 

Centopeia minha;

Que regressas silenciosa,

Por vezes majestosa,

Outras vezes desgostosa,

Numa solitária caminhada,

Por entre o infinito...

 

Centopeia...

 

 

 

26.02.19

 

As luzes do palco ligadas...

A sala cheia, repleta de gente, olhares, sussurros quase murros desnudando a solitária alma de um artista.

E o sorriso, o meu, como escudo da terna e frágil criança, que se esconde temendo a tamanha voracidade, desse desconhecido desconhecer.

As luzes ligadas, a sala repleta de pessoas e eu...

Caminhando de um lado para o outro desse palco, contando os momentos, cada momento, em que o sofredor sentimento pudesse se libertar, numa mistura de batimentos que aceleram o coração.

Cada passo, entrelaçado, vai fazendo disparar o raciocínio, que sendo meu se agiganta, ultrapassa o sonho e se imortaliza num gigantesco abraço com a recordação...

Mesmo se perdendo, desvanecendo, desaparecendo, sem retorno.

Já não existem "papões" escondidos debaixo da cama, nem buracos negros no tecto, apenas desencantamento no olhar, num desencantar que melodiosamente permanece, se entranha, se amarra.

As luzes do palco...

Apagaram as luzes do palco...

Sobrando o silêncio, o vazio, aquele abraçar que só a imaginação te pode dar.

Ninguém como companhia, e o sorriso de partida, como capa despida, mostrando no escuro a leve ferida que perdura.

Sem luzes, sem gente, adormece a dormente esperança de um poema declamado, de um beijo salgado, de um futuro já passado, de tudo o que um dia imaginei...

Ou que imaginava, imaginar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

15.10.17

 

 

 

Uma porta fechada;

Tantas outras por abrir,

Um caminho, encruzilhada,

Destino por descobrir,

Vontade determinada,

De viver...

 

Pelos olhos adentro;

Vai irrompendo a curiosidade,

Medos e magoas,

Machucada felicidade,

Estradas esburacadas,

Denominada idade...

 

Sempre o tempo a correr;

E tantas as portas que ficaram para trás;

Memórias por esquecer,

Caras meio nubladas,

Dos que perdemos...

 

Tantas as portas;

Tantos os caminhos,

Na tamanha viagem de uma vida.

 

 

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