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Caneca de Letras

31.08.19

 

Parece que José Sócrates irá usar o Jornal Expresso, deste sábado, para se indignar contra aquilo que sente ser um desprezo da parte do PS e de António Costa pela História do Partido, com particular atenção ao seu Governo de maioria absoluta.

Sócrates desabafa, por entre linhas, contra o que deverá sentir como uma traição de alguém que lhe sendo próximo, se afastou tacticamente.

Sócrates recorda a passagem de Costa pelo seu Governo, como número dois, recordando ainda a sua escolha para a Presidência da Câmara de Lisboa.

No meio de tanto ressentimento, Socrático, importa referir a parte de razão que assiste ao antigo Primeiro-Ministro, neste caso.

Não discuto o papel de Sócrates, enquanto Governante, já foi amplamente discutido, nem o seu papel do ponto de vista judicial, está neste momento em julgamento, apesar da convicção que sobrevive em todos aqueles que vendo de fora, sentem os meandros de tamanhas incongruências.

Enfim...

Costa que tantas vezes na Quadratura do Círculo fez saber da imensa amizade que o ligava ao anterior Primeiro-Ministro Socialista, foi dos primeiros a saltar para longe deste, quando o mesmo se tornou tóxico, num gesto taticista, próprio de sobreviventes capazes de tudo para se manterem à tona de água.

Julgo que os ratos se comportam da mesma maneira.

Sócrates está ressentido, talvez com razão, observando este reinado Socialista, intensamente obcecado em reescrever a História...

Por essa razão este artigo de Sócrates é importante, quanto mais não seja, para recordar a António Costa que a História não se reescreve, a não ser de forma rasurada, rasuradamente hipócrita.

E assim, entre amigos, cada um continuará certo da sua “verdade”, sendo que caberá aos Portugueses estarem atentos ao que dessa verdade resulta, como desenho comportamental e de carácter...

De Sócrates já se espera tudo, convém compreender o que se poderá esperar do sempre bonacheirão Costa.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

 

 

23.07.17

 

A imaginação sempre me aproximou de um mundo só meu, guardado por entre os monstros que me acompanham desde criança, dos amigos imaginários que sempre estiveram presentes, nas milhares de aventuras que percorri no recato do meu quarto ou nas correrias por aquelas ruas de Santa Luzia...

Ainda hoje quando fecho os olhos facilmente me transporto para uma sala escura, pejada de cortinados feitos de asas de morcegos, com as paredes cravejadas de olhos, atentos, que parecem me observar, enquanto eu aguardo...

Esperando que o mistério se desfaça e possa finalmente me bater num duelo com um qualquer rival.

Ou mesmo, um campo florido a perder de vista onde cavalgo no meu cavalo branco, de crina castanha e com as asas recolhidas, preparadas para voar se necessário for.

Como regressar por instantes a tempos onde podemos ser quem queremos, como queremos, sempre que queremos...

Momentos onde a vida não esmagava essa criança interior que por vezes insiste em permanecer, insistindo em ficar, nesse estranho direito que temos de não deixar de brincar.

Como pode ser estranho neste mundo tão sério e enfadonho, deixar que dentro de nós, ainda viva uma criança?

Aquela criança que um dia fomos?

Por vezes sinto-me assim...

Ou melhor, recordo como me sentia, nesses tempos distantes.

Será que assim permanecerei, se chegar aos 90 anos?

Ou será que acharão que se tratará de uma qualquer loucura, própria da idade?

Pois bem, até lá, prefiro percorrer os trilhos da minha imaginação, sonhar acordado, buscando através destas linhas o reencontro com esse pedaço de mim, que se nega a deixar de ser criança.

 

 

Filipe Vaz Correia

10.07.17

 

Existem momentos inexplicáveis, explicações inacreditáveis e buscas insanas que se tornam épicas, numa luta por vezes desmedida contra a vontade dos Deuses...

Foi o que aconteceu ontem, nesta aventura em busca de um croissant, pelas pastelarias das Caldas da Rainha.

A meio da tarde o meu sobrinho João e eu, resolvemos que estaria na hora de comermos um belo croissant, ele de chocolate e o meu com manteiga e assim o fizemos...

Saímos em busca desse manjar ambicionado, enquanto que a minha querida Matilde, sua irmã, se rendia a um gelado de chocolate carregado de gomas, m&ms e marshmallows.

Na primeira pastelaria só havia gelados e waffles, mas como tínhamos ao lado outra, esse adiado croissant não nos maçou, no entanto, o pior estaria para vir pois o mais aproximado que encontrámos no balcão do dito lugar era uma espécie de pão de leite...

Nem queríamos acreditar, olhando um para o outro e pensando se nos haveríamos de render àquela inevitabilidade de não encontrarmos o maldito bolo Francês.

Não nos rendemos e partimos então rumo a uma terceira pastelaria, atravessando ruas, correndo em grande velocidade, eu um pouco menos, sempre acreditando que iríamos conseguir...

Terceira pastelaria:

Nem pão de leite havia.

Raios partam, pensei eu!

O João não se rendia à maldição pasteleira que nos havia calhado em sorte, naquele dia...

Partimos então para mais uma ronda, mais uma descoberta, mais uma tentativa:

A pastelaria Com Tradição...

E aí, naquele maravilhoso lugar, diante dos nossos olhos, ali estavam, deslumbrantes, magníficos, os famosos croissants.

Já pouco nos separava deles, apenas uma fila de gente que se deparava diante de nós...

Em todas as pastelarias a que havíamos ido, nem viva alma à nossa frente, apenas a constatação da inexistência do que queríamos e naquela pastelaria repleta de croissants, uma multidão como derradeiro obstáculo.

E assim aguardámos, esperámos, desesperámos...

Por momentos ainda acreditei que só faltava aquelas pessoas escolherem todas croissants, mas nem quis verbalizar para não defraudar as expectativas presas ao olhar do João.

No meio de tamanha correria já sussurrávamos a palavra croissant, numa espécie de magia, que acreditávamos poder resultar.

E por fim, depois de tanta correria, valeu a pena...

Tínhamos conquistado o direito de escolher o nosso croissant.

Já agora, o titulo foi escolhido, pelo meu querido sobrinho João.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

28.02.17

 

A Unicef, divulgou um relatório, onde revela que durante 2016 morreram no mediterrâneo, perto de 700 crianças, nessa fuga migrante de miséria e desgraça...

700 crianças.

Diante destes números é impossível não sentir, a vergonha imensa perante o desenlace encontrado, por estas pequenas vidas, cheias de esperança e de desespero, misturado nesse imperioso desejo, de encontrar um local seguro para sonhar.

Não existe revolta suficiente para descrever esta tragédia, não existe raiva suficiente para contar tal destino, não existem palavras suficientes para gritar ao vento, que naquele mar, cemitério, aqueles meninos se transformaram em despojos da humanidade...

Apenas sobeja a tristeza silenciosa, envergonhada, derrotada, naqueles que possuem coração e que sentem através dele, que nada, poderia ser tão cruel.

É aqui que cada um de nós, poderá fazer o pequeno exercício, de olhar à nossa volta, de fechar os olhos por um instante e pensar em algum menino ou menina, que nos seja querido, nos seja próximo...

Pegar nessa imagem e levá-la através das nuvens que atravessam os pesadelos, os receios e transportá-la até àquele mar, àquela praia, onde repousam tantas crianças sem vida...

Mudar o rosto desses desafortunados, despejados de esperança e imaginar que são os nossos, as nossas crianças.

Nesse momento talvez sintamos, o quão impossível será viver aprisionado por esse horror que provavelmente se repetirá enquanto leem este artigo...

E o mundo continua, continuará, relatório após relatório, a lamentar, a escrever, como aqui faço, mas verdadeiramente a esquecer estes pedaços de destino, abandonados à sua sorte.

Como é triste, tristemente imaginar, o rosto de Deus...

Esse Deus de todos nós, que talvez complete com as suas lágrimas, aquela imensidão de água que forma esse mar, com esse nome...

Mediterrâneo!

Que Deus vos proteja, meninos do mediterrâneo, porque a Humanidade não o fará.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

23.02.17

 

A noite brilhante, com o seu céu estrelado, que iluminava o imenso lamaçal que tenho de subir...

Atolados os meus pés, numa fuga destemperada por entre este caminho que enfrento sem fugir.

Caminhando, viajante, pelos gostos envelhecidos da sabedoria estampada, nos rostos daqueles que observam o meu destino...

Não o quero saber, continuo a subir em busca da beleza escondida, em cada estrela presa ao imenso céu que contemplo nesta noite cintilante.

Sinto os cheiros daquelas casas vazias, de gente, de cor, com alma...

Contemplo no cimo daquele lugar, a imensidão que por debaixo de mim existe, ignorando os ruídos, os gemidos, as intensas contradições insistentes.

E nesse instante, em cada estrela um sorriso, em cada rosto uma esperança, em cada olhar encontrado, um pedaço de alegria, de vida.

Um pequeno campo de futebol, iluminado por esses candeeiros encardidos, empoeirados, onde rejubilam os meninos, enquanto chutam aquela pequena bola de trapos, como se tratasse da sua maior recompensa...

E se calhar, seria!

Olhei novamente para aquela imensidão, guardando simplesmente na memória, a pequenez dos nossos destinos...

E assim observo a constante rotação daquelas estrelas, que sobrevoam os sonhos daquelas vidas, com aquela lua como companheira, discreta, tímida, presente...

Mas naquele momento, perdido naquela imensidão, aquelas estrelas eram só minhas e do meu desejo de sonhar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

  

 

11.02.17

 

Schumi, carinhosamente tratado por tantos, como eu, que dele gostavam, gostam, admiram, marcou sem dúvida, uma geração de pilotos de fórmula 1, talvez mesmo, toda a história desse desporto.

Eu era um admirador de Nélson Piquet, piloto brasileiro, que fazia as delicias da minha imberbe infância...

Não tenho memória, das suas vitórias na Brabham, mas guardo com a mesma intensidade aquele louco ano, com Nigel Mansell, na Williams Honda, que levou ao seu terceiro titulo mundial, de fórmula 1.

Piquet foi o meu primeiro ídolo, por quem chorei, praguejei, torci, de maneira fervorosa, volta após volta, adversário após adversário...

E eram muitos, de qualidade, desde o novato Ayrton de Senna, Nigel Mansell, Alan Prost entre outros, sempre empenhados em circuitos míticos, alucinantes, por entre voltas emocionantes e desfechos imprevisiveis.

Quando em 1991, Piquet resolveu abandonar o Circo da fórmula 1, um vazio ameaçava este menino de 14 anos, orfão desse ídolo que deixava o seu lugar, reservado na história do automobilismo...

Superior a ele, até então, só Fangio com os seus cinco títulos mundiais.

No entanto, um jovem, começava nos velhinhos Jordans, aparecia na cena automobilistica, chegando até à Benetton, última equipa de Piquet...

Parecia mais um, mais um nome, um prodigio como tantos outros, que entretanto por ali tinham passado, só que ao entrar no cockpit do seu carro, voando pelo asfalto daqueles circuitos, daquelas tardes de corrida, tudo mudara...

Senti logo uma imensa ligação, uma intensa admiração por aquele menino que enfrentava Senna, Prost, sentado no seu carro, lutando sem medo contra esses monstros que aprendera a ver no seu televisor.

Esse jovem Schumacher, pontuou pela primeira vez em Spa, voltou lá mais tarde para vencer pela primeira vez e depois brilhou, anos sem fim, numa dança permanente com as curvas desse labirintico destino.

Acompanhei todas as corridas, todos os momentos, todo o percurso que o guiou até aos seus sete titúlos mundiais.

Os carros menos seguros, o trabalho exaustivo, a busca constante pela perfeição que acabava por sobressair em cada paragem na box, em cada pingo de chuva que teimava em cair.

Schumi, à chuva distanciava-se dos demais, tal como Senna o fazia, porque nesse instante, apenas o talento poderia servir de vantagem em relação ao medo, à imensa insegurança de ser melhor.

Aprendi a segui-lo, continuei a admirá-lo, rejubilei com cada vitória...

No fim de toda a história, emocionei-me na sua retirada, nunca reencontrando a paixão por este desporto, que acabou por esmorecer em mim, com a inevitável despedida de uma época.

Quando apareceu pela primeira vez, esse rapaz desconhecido, ninguém esperaria que ao se despedir, o faria no patamar superior da galeria dos intocáveis, o mais intocável entre iguais.

Até aos dias de hoje, nesta luta pela vida que agora trava, mantenho-me fielmente como mais um Tiffosi, acreditando que na última curva, no derradeiro momento, ele vencerá...

E aí, voltarei a emocionar-me, recordando cada vitória, cada lágrima, diante da pequena televisão do meu quarto, onde podia voar através das rodas do seu Ferrari, pelo sucesso de um eterno campeão.

Boa sorte Schumi!

 

 

 

24.01.17

 

O mundo parece avançar a um ritmo vertiginoso para um abismo, inebriado por uma vozeria trauliteira, que a todo o custo, urge evitar.

A eleição de Donald Trump, as eleições Francesas que estou convicto se travarão entre Le Pen e Fillon, a posição Russa nas manobras que envolvem hoje em dia o panorama estratégico no Médio Oriente e claro está o império Chinês, cada vez mais preparado para impôr a sua vontade, caso a isso, seja obrigado...

E a Europa...

Quo vadis, Europa?

Como poderá responder um aglomerado de países, União Europeia, que caminha sem liderança, sem rumo há mais de década e meia?

O projecto Europeu não foi colocado em causa pelo Brexit, confirme-se ou não, foi precisamente a falta de rumo desse projecto que potencializou a vitória desse movimento.

Assim como nos Estados Unidos, a revolta de muitos cidadãos está a minar o processo democrático, fragilizado pelo abrandar de muitas economias e com isso o degradar da vida desses mesmos cidadãos.

Se por algum motivo a Europa não conseguir responder a estes inquietantes sinais e deixar degradar cada vez mais, a relação dos seus cidadãos com as instituições que os representam , então Donald Trump terá razão e o fim deste projecto Europeu será inevitável.

Marine Le Pen, Farage, Victor Orban e outros populistas que começam a crescer de maneira avassaladora, não o fazem indicando as soluções para os problemas que tanto afectam as respectivas populações, mas sim indicando os males que afectam realmente essas sociedades democráticas envolvidas em escândalos sem fim, desacreditadas entre os seus pares.

Por isso insta repensar este modelo, estas prioridades que sendo lógicas para o Status Quo de Bruxelas, são incompreensíveis para as respectivas populações e que fazem aumentar o descontentamento em pessoas que votarão no desespero ao invés do mesmo encurralado sistema.

Os conservadores cristãos terão neste processo um papel fundamental, na minha opinião, pois em parte, partirá desse espectro político a solução que possa fazer frente à demagogia populista que hoje crassa em grande medida pelas mais variadas democracias.

A Direita Cristã ou Conservadora tem de revitalizar os seus princípios fundadores, recuperando a ligação com as pessoas e demonstrando uma genuína preocupação em construir as pontes necessária entre aqueles que se consideram excluídos e as novas gerações sedentas por uma incontornável globalização. 

Isso só poderá ser alcançado com a melhoria da vida das pessoas, com o sentimento de bem-estar fundamental para que os avanços não esmaguem a esperança e os desejos inerentes à condição humana.

Assim espero que a Europa possa mudar o seu rumo e ver neste extremar de posições que nos chega do outro lado do Atlântico, uma oportunidade para ser ela a liderar os acontecimentos e não os acontecimentos a ditarem o seu destino.

Isso será determinante para o caminho Europeu, consciente das diferenças nacionais que sempre existirão, mas inclusivo, global, integrante, com valores Humanistas que certamente nos guiarão ao encontro de um futuro onde a Europa possa resgatar a importância que sempre teve.

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

13.12.16

Era uma vez um menino, que tinha medo dos pesadelos que se escondiam debaixo da sua cama, à noite, no seu quarto, naquela escuridão imensa que assombrava a imensidão da sua pequena alma.

Aquele quarto pequeno, aquele tecto trabalhado, aquelas sombras meio perdidas, escondidas que ameaçavam polvilhar aquela tenra imaginação...

Tinha medo que o levassem, que o aprisionassem nesse mundo obscuro escondido debaixo da sua cama e de onde era possível sairem os monstros mais terríveis alguma vez imaginados.

Nem a luz de presença o tranquilizava, nem os passos dos adultos o reconfortavam, nem a esperança sem fim de que a sua mãe o viesse tapar o deixava tranquilo, menos nervoso...

Tanto medo num pequeno coração, num menino que se escondia debaixo dos lençois.

A coragem que ele queria ter, por vezes parecia se apróximar, encher a sua alma e numa força sem fim, dar-lhe aquele pedaço de determinação para sorrateiramente espreitar para debaixo daquela cama, às vezes navio, buscando corajosamente encontrar o vazio que racionalmente ali teria de estar...

Mas essa determinação passava, esse medo regressava, voltava, vindo do nada, preenchendo novamente esse receio imenso que teimosamente insistia em não se calar.

Esse menino cresceu, esse quarto já não lhe pertence, essa cama já não existe, esse medo desapareceu...

Esse menino guardado no fundo da minha alma, já não chora com medo dos monstros que se escondem debaixo da sua cama, já não receia a escuridão que se instalava no seu quarto...

O menino que um dia fui, apenas sente saudades, desse tempo, desses medos próprios de uma irrequieta imaginação, dessa imensa angústia de perder aquilo que tanto estimava...

A infância que não regressa.

 

Filipe Vaz Correia

05.12.16

O Não venceu em Itália, com quase 60% dos votos, no referendo requerido por Matteo Renzi, para tentar mudar o sistema político Italiano e a sua eterna contradição...

A democracia Italiana vive aprisionada a este sistema há décadas, levando a que os rostos desse sistema se perpetuem, ad aeternum, num emaranhado de cargos e contra-poderes, que não permitem a quem governa as competências legislativas suficientes para reformar verdadeiramente o País.

Renzi jogou com tudo o que tinha, colocando mesmo o seu futuro político como trunfo, para uma vitória que acreditava poder alterar o rumo da sua Nação, no entanto, ameaçando demitir-se em caso de desaire, Matteo Renzi conseguiu unir todos os seus adversários, na expetactiva de assim o conseguirem afastar do quadro político Italiano.

Renzi perdeu e cumpriu...

Para Itália, já não está mal.

Numa recente entrevista ao 60 Minutos, Matteo Renzi admitiu que havia errado, ao elevar a fasquia, pois em caso de derrota ele colocaria em causa todo o seu trabalho, o seu papel e o papel do seu governo, mas era tarde demais para recuar, para fugir das palavras que o acorrentavam à promessa que havia dado.

Muitos políticos Italianos ao longo de décadas disseram o mesmo e o seu contrário, percorrendo todos esses cargos e lugares públicos que agora Renzi queria extinguir ou restringir, por isso tenho a expectativa que com o seu exemplo Matteo Renzi possa, mesmo depois desta derrota, conseguir demonstrar um novo caminho para este velho País.

A Europa vê assim nascer uma nova questão:

O que fazer, se o populista movimento Cinco Estrelas, de Peppe Grillo, assumir o poder numas novas eleições em Itália?

Mais um movimento Anti-Europeu, para implodir o ideal criado pela UE.

A Europa tem de a todo o custo, tentar inverter esta imensa contestação que cresce dentro de si, pois caso contrário, esta irá implodir através desses mesmos governos eleitos em cada País, que se unirão para combater o progressivo avanço de uma União Europeia.

A queda de Renzi é na minha opinião um passo dado nesse desconhecido rumo.

Por fim não posso deixar de notar a derrota da extrema direita na Áustria, o que contrariando a maioria das sondagens veio dar uma pequena esperança, de que afinal ainda é possivel combater os Radicalismos crescentes em toda a Europa.

Mude-se as politicas, fale-se ao coração das pessoas e ouça-se o que estas tem a dizer...

Escutando-as, estaremos mais perto de desarmar os populismos e as demagogias.

Assim depois de mais uma noite eleitoral e vendo o discurso de Matteo Renzi, fico com a esperança de que um dia, este ainda possa ter uma palavra a dizer sobre o futuro do seu Pais...

Da nossa Europa.

Por isso, Arriverdeci e Buona Fortuna, Signor Matteo Renzi... 

20.11.16

 

Não tenho certezas em relação a esta guerra na Siria, não tenho lados, só me sobram dúvidas...

Bashar Al Assad, Daesh, Al Nusra, Al Qaeda e muitos mais.

Que lado será melhor para nós, Ocidentais?

E para aquelas pessoas, que todos os dias ali são obrigadas a conviver com aquele completo massacre sem fim?

No entanto, deparei-me com uma extraordinária reportagem da France 2 em colaboração com a Al jazeera sobre o cerco a Aleppo.

Sentado no meu sofá, com um copo de vinho tinto e a minha cigarrilha, deixei-me levar por aquele mundo, para aquela viagem que diante de mim se apresentava.

Durante largos minutos acompanhei a frente de batalha, do lado rebelde, cercado na antiga cidade de Aleppo, vivendo aquele dia a dia, aquela lenta e esmagadora sensação de um fim que se anuncia sem pudor.

Ali, conheci Mouataz, um menino, criança de treze anos, contando os seus relatos, as suas dores, as sua angústias e o medo acompanhando a coragem que por vezes insistia em fugir dos seus olhos, sempre que relatava as mortes dos seus primos, dos seus amigos...

Do receio por aqueles que embora vivos, poderiam tombar a qualquer momento.

Como pode uma criança, conviver com tamanha enormidade?

Os seus relatos sobre aqueles pedaços humanos, de amigos, espalhados naquelas praças que se habituara a brincar, naquele mesmo chão diante de sua casa.

Nos olhos de Mouataz, naquelas lágrimas que corriam pelo seu rosto, compreendi que ninguém irá conseguir vencer esta guerra, ninguém sairá vitorioso deste massacre que reduziu um País a cinzas.

Numa das últimas imagens desta reportagem, via o pequeno Mouataz partir numa carrinha Pick Up, para a sua primeira patrulha, a sua primeira viagem como soldado...

Tão pequeno, com aquela Kalashnikov quase do seu tamanho, mas crente que aquele era o seu lugar, legitimado pelo ódio que tomara conta do seu coração depois de anos de mortes, de dor.

Aleppo era uma próspera cidade Siria, com mais de dois milhões de habitantes, hoje restam duzentas mil pessoas...

Muitas foram mortas, muitas fugiram.

No fim desta reportagem, continuo sem saber que lado escolher...

Quem terá razão nesta batalha sangrenta, mas uma questão me assola a mente:

Onde estará aquele menino guerreiro?

Estará ainda vivo, o pequeno Mouataz?

Pego no meu copo de vinho, acendo um cigarro e mudo de canal...

Pego no meu computador e escrevo estas linhas, não por Mouataz, por mim, pois espero que partilhando este horror com o mundo, a minha consciência me permita, cobardemente esquecer, os olhos daquele menino...

As lágrimas do jovem Mouataz.

 

Filipe Vaz Correia

 

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