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Caneca de Letras

30.05.22

 

Adormeci sonhando que outrora voltaria a ser agora, que margens dos rios se fundiam no mar e que na volta de um dia a noite se despiria sem pudor...

Sem pudor de se desnudar e entrelaçar num beijo repleto de ondas e borbulhas, refrescantes cheiros de maresia e algas, de uma amálgama sem passado, inebriante esperança de sentir.

Por entre o sonho, pude sentir cada toque e arrepio, cada pedaço de desvario que se entrelaçou no cenário, mistura de tesão e amor, quase, tentador de um derradeiro aceno.

Quero-te e odeio-te...

Desejo e repulsa, tudo na mesma frase, na mesma alma, na mesma cama.

Fará sentido que uma despedida possa ser quadro e tela, cavalo e cela, lábios e boca?

Quem, em tanto e pouco, sente esse sabor louco de uma noite de prazer?

Adeus...

Na despedida definitiva sobra cada peça de um puzzle, cada satisfação insatisfeita de uma aguarela inacabada, caminhando solitária, por entre, soluços de desapego, numa travagem sem freio que ameaçará regressar enquanto existir memória.

Desperto lentamente...

Nada sobra, nada resta, nada do que se prometeu ficou, perdidamente se esfumando num ténue sorriso do que sabemos não nos pertencerá outra vez.

Até sempre...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

10.06.21

 

 

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Subi montanhas, inimagináveis montanhas, presas aos sonhos inacabados de outrora, aos arrependimentos de agora, às promessas caídas, hesitantes e feridas, a tantos desvelos, em incertos novelos, transbordando de querer...

Subi montanhas, essas tamanhas, onde se escondem tacanhas, as amarguras de uma vida.

Montanhas...

Montanhas agrestes, epidemias e pestes, marcando as vestes de um singelo abandonado.

Já não sobram as marcas, das arranhadelas tortuosas, lágrimas salgadas, palavras sinuosas, de enganos e reparos, esquecidos ao vento, pesado arrependimento, que jamais se repara.

O tempo passa, as escolhas precisas, as mágoas se escapam, por entre, armadilhas vazias, nessa imensidão de esperança que cede lugar ao entediante percurso marcado no trilho de Deus.

Olho para trás...

Bem ao longe...

Buscando as silhuetas de mim, dos meus, dos outros...

Olho para trás...

Para a frente...

Nessa presença, presente, que insiste em se fazer sentir.

Subi montanhas...

Subo montanhas...

Esperando no cimo de todas elas, encontrar esse almejado paraíso que tantas vezes sonhei e encontradamente desencontrar as incertas certezas que temerosamente, por vezes, me invadem.

Subi montanhas...

Para te reencontrar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

 

23.04.21

 

 

 

Escrever...

Escrever sem parar, nessa incansável busca pela escrita perfeita, não ortograficamente, mas sim desse querer maior de uma insanável insanidade que se perde, por entre, a desesperança pueril de um conto.

Não tenho palavras nem amorfas melodias, somente desespero e sentimentos, nesse entrelaçar de letras, misturadamente sentidas até ao infinito, infinitamente curiosas.

Queria tanto contar o peso de cada palavra, as sentidas e as fingidas, as correctas e as politicamente incorrectas, mas que nesse alucinado debitar de pensamentos se perdem no peso de cada uma, de todas elas.

Nem sabedoria nem desconhecimento, somente uma folha em branco, desnudada como uma bela mulher, ali deitada, aguardando o seu amante, nesse amor que se promete sem palavras, sem amarras, sem promessas ou amanhãs...

Naquele instante, precioso instante de um amor em ferida, se sobrepõem os beijos, a pele, o bater da alma...

Assim como as palavras, as belas e entrelaçadas palavras que compõem um orgasmático poema, rebelde, livre, disperso no pensamento ou na forma.

O que importam as regras se o que sobra é a força desse querer desgarrado que se recorda, desse cheiro que fica e se mantém pelo tempo, no tempo, para sempre no tempo...

O cheiro da cama, do corpo, o sabor de cada partícula de um amor que não respeita nada para além do olhar, nosso, intemporal.

Escrever...

Escrever sem parar, de forma crua, desnuda, singelamente pura...

Como sempre, para sempre...

Teu.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

31.03.21

 

 

 

Suspenso no ar;

Numa redoma de encantar,

Vai caminhando o menino,

Buscando esse destino,

Que desmesuradamente perdeu,

Quando a ternura desvaneceu,

E lhe sobrou a tristeza,

Pedaço de dor sem beleza,

Que é solitária e ardente,

Sufocando loucamente,

Como se um dia,

Se pudesse tornar poesia...

 

E perdido o menino se encontrou;

Por entre a mágoa que chegou,

Sorrindo disfarçado,

Num desabafo entrelaçado,

Olhando para trás no tempo,

Procurando aquele momento,

Que para sempre ficou marcado,

Como o dia amargurado...

 

De tua partida.

 

 

23.02.21

 

 

 

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Éramos tão jovens;

tão infinitamente jovens,

que não nos apercebemos do passar do tempo,

desse bater descompassado,

que a poeira não traz de volta.

 

Tão jovens na memória do olhar;

nesse espartilhar de emoções,

nesse querer amar,

carregado de contradições.

 

E por entre segredos guardados;

desejos imaginados,

viverão esse sonhos de outrora,

"nessas saudades de agora,"

que partiram...

 

foram embora.

 

 

 

 

21.12.20

 

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Guardo-te nas minhas memórias onde sobrevive o teu cheiro, o teu olhar, a tua voz, tantos momentos que guardados em mim perpetuam cada parte de nós, intensamente nossos, perdidamente únicos.

Guardo em mim a saudade, ardente e insistente, guardo em mim o amor, intenso e imenso, guardo em mim o adeus, a cada instante, asfixiante.

Guardo tanto de ti, deste que te pertence, desse nós que só existe por tua decisão.

Sou gente porque o quiseste, sou alma porque o desejaste, sou eu...

Porque fui teu...

Sou teu.

As palavras que aprendi a tecer, foram-me dadas por ti, tecidas nesse amor soletrado em cada linha, em cada letra, de cada forma, em cada pozinho de perlimpimpim.

Não sei chorar sem esconder, respirar sem sofrer, esperar, esperar, esperar...

Esperar por esse tempo que não volta, esse ardor que ainda queima, esse desesperante adeus que persiste.

Deitada na cama de teu quarto, sem vida, recordo-me desse último olhar, meu sobre ti, num adeus que sabia seria o mais penoso em mim.

Nesse último instante, a sós, em nossa casa, tinha a certa certeza de que nada seria igual, nada o foi, de que jamais poderia sentir o mesmo bater do coração.

Meu amor...

Tenho saudades de não ter saudades, desse querer maior traduzido em teus olhos nesse navegar em minha direcção.

Nesse olhar descobri, sempre senti, o significado do incondicionalismo, num amar maior do que a vida...

Amo-te, Mãe.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

20.10.20

 

 

 

Tantas vidas à tua procura,

Uma após outra, uma após outra...

 

Sem parar, numa aventura;

Procurando com candura

O toque dessa tua ternura

Perdida além do tempo...

 

Noutra vida...

Que ainda consigo recordar,

Lá bem distante,

Tão jovens, inocentes,

Desencontrados nesse amar

Que buscamos eternamente

Sem saber ou adivinhar

Esse encontro de antigamente.

 

Tantas vidas afinal, sempre nossas;

Noutras vidas que passaram, tão nossas,

Tantas e tantas, só nossas...

 

Um dia as encontraremos todas...

Todas as nossas vidas,

Numa só.

 

 

09.10.20

 

 

 

 

 

As minhas palavras foram, desde cedo, entrelaçadas aos grandes poetas, àqueles que puseram em palavras os sentidos maiores desses temores que nos perseguem...

A todos.

Desde pequeno que fui apresentado a este sentimento maior que nos estrangula e deixa sedentos, que nos abraça e liberta, nos ensina a viver e reviver pelos trilhos da dimensão Humana.

Nessa ânsia de caminhar, leia-se escrever, ler, fui tropeçando na boçalidade que amiúde saltava dos ignorantes com quem me fui cruzando mas também ressaltando daqueles que me deram a mão, me ensinaram a olhar e escutar, soletrando as suas ideias, sussurrando as questões que perturbavam os dogmas instalados...

Desses, os últimos, fui bebendo, retirando o melhor, em prosa, em verso, nas intermináveis poesias que simbolizavam os enigmas escondidos nas esquinas da alma.

Tenho medos e anseios, saudades imperfeitas em perfeitas e solitárias vontades...

Como admiro Pessoa, na sua pequenez agigantada, Cazuza, na sua irreverente vontade de viver que inevitavelmente o guiou até ao imberbe fim de seus dias, Drummond de Andrade, na gentil forma de ser intemporal, Vinicius, nesse copo de Whisky que ainda tilinta nos mais requintados bares de Copacabana, Camões, pelo singelo facto de ser na sua pena que se amarra cada parte dessa descoberta constante de um imenso Povo...

O nosso.

Na Carta a Dani, onde Cazuza escreve as primeiras palavras após ter assumido a sua doença, essa que naqueles dias certificava o fim mais cruel desde o tempo da lepra, se pode sentir a corajosa coragem, a repetição por vezes faz sentido, podendo encontrar o verdadeiro sentido de um poema...

Despido, real, mais além do que qualquer retrato.

Coragem, Humano, de uma dimensão escassa, singela...

Cazuza escreveu um dia:

"Que morrer não dói"

Mas dói a insensibilidade destes tempos desumanos, bem explicita na encíclica papal Fratelli Tutti, onde o Papa Francisco cita Vinicius de Moraes.

E se na divina palavra de um Papa cabe um trecho do "Samba da Benção"...

"A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro na vida"

Talvez seja a hora de em cada parte de nossas vidas conseguirmos olhar para o outro, para cada verso de nossos dias, com a fraterna expressão de um poeta.

Sem receio de amar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

28.08.20

 

Guardo-te nas minhas memórias onde sobrevive o teu cheiro, o teu olhar, a tua voz, tantos momentos que guardados em mim perpetuam cada parte de nós, intensamente nossos, perdidamente únicos.

Guardo em mim a saudade, ardente e insistente, guardo em mim o amor, intenso e imenso, guardo em mim o adeus, a cada instante, asfixiante.

Guardo tanto de ti, deste que te pertence, desse nós que só existe por tua decisão.

Sou gente porque o quiseste, sou alma porque o desejaste, sou eu...

Porque fui teu...

Sou teu.

As palavras que aprendi a tecer, foram-me dadas por ti, tecidas nesse amor soletrado em cada linha, em cada letra, de cada forma, em cada pozinho de perlimpimpim.

Não sei chorar sem esconder, respirar sem sofrer, esperar, esperar, esperar...

Esperar por esse tempo que não volta, esse ardor que ainda queima, esse desesperante adeus que persiste.

Deitada na cama de teu quarto, sem vida, recordo-me desse último olhar, meu sobre ti, num adeus que sabia seria o mais penoso em mim.

Nesse último instante, a sós, em nossa casa, tinha a certa certeza de que nada seria igual, nada o foi, de que jamais poderia sentir o mesmo bater do coração.

Meu amor...

Tenho saudades de não ter saudades, desse querer maior traduzido em teus olhos nesse navegar em minha direcção.

Nesse olhar descobri, sempre senti, o significado do incondicionalismo, num amar maior do que a vida...

Amo-te.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

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