Não tenho certezas em relação a esta guerra na Siria, não tenho lados, só me sobram dúvidas...
Bashar Al Assad, Daesh, Al Nusra, Al Qaeda e muitos mais.
Que lado será melhor para nós, Ocidentais?
E para aquelas pessoas, que todos os dias ali são obrigadas a conviver com aquele completo massacre sem fim?
No entanto, deparei-me com uma extraordinária reportagem da France 2 em colaboração com a Al jazeera sobre o cerco a Aleppo.
Sentado no meu sofá, com um copo de vinho tinto e a minha cigarrilha, deixei-me levar por aquele mundo, para aquela viagem que diante de mim se apresentava.
Durante largos minutos acompanhei a frente de batalha, do lado rebelde, cercado na antiga cidade de Aleppo, vivendo aquele dia a dia, aquela lenta e esmagadora sensação de um fim que se anuncia sem pudor.
Ali, conheci Mouataz, um menino, criança de treze anos, contando os seus relatos, as suas dores, as sua angústias e o medo acompanhando a coragem que por vezes insistia em fugir dos seus olhos, sempre que relatava as mortes dos seus primos, dos seus amigos...
Do receio por aqueles que embora vivos, poderiam tombar a qualquer momento.
Como pode uma criança, conviver com tamanha enormidade?
Os seus relatos sobre aqueles pedaços humanos, de amigos, espalhados naquelas praças que se habituara a brincar, naquele mesmo chão diante de sua casa.
Nos olhos de Mouataz, naquelas lágrimas que corriam pelo seu rosto, compreendi que ninguém irá conseguir vencer esta guerra, ninguém sairá vitorioso deste massacre que reduziu um País a cinzas.
Numa das últimas imagens desta reportagem, via o pequeno Mouataz partir numa carrinha Pick Up, para a sua primeira patrulha, a sua primeira viagem como soldado...
Tão pequeno, com aquela Kalashnikov quase do seu tamanho, mas crente que aquele era o seu lugar, legitimado pelo ódio que tomara conta do seu coração depois de anos de mortes, de dor.
Aleppo era uma próspera cidade Siria, com mais de dois milhões de habitantes, hoje restam duzentas mil pessoas...
Muitas foram mortas, muitas fugiram.
No fim desta reportagem, continuo sem saber que lado escolher...
Quem terá razão nesta batalha sangrenta, mas uma questão me assola a mente:
Onde estará aquele menino guerreiro?
Estará ainda vivo, o pequeno Mouataz?
Pego no meu copo de vinho, acendo um cigarro e mudo de canal...
Pego no meu computador e escrevo estas linhas, não por Mouataz, por mim, pois espero que partilhando este horror com o mundo, a minha consciência me permita, cobardemente esquecer, os olhos daquele menino...
As lágrimas do jovem Mouataz.
Filipe Vaz Correia