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Caneca de Letras

29.10.19

 

Há muito que cientistas concluíram que o Homem moderno havia nascido em África faltando, no entanto, aprofundar o local exacto para essa afirmação.

Pois bem, chegou esse tempo.

Então não é que se descobriu que o berço da Humanidade fica ali para os lados da Namíbia, quase a chegar ao Zimbabué, nas margens do Rio Zambeze.

As coisas que descobrem...

Um estudo publicado na revista científica Nature, afirma que conseguiram isolar o gene descodificador do berço da Humanidade, desnudando assim a razão para tamanhas “históricas”  desavenças.

Descobriram que somos todos “Família”.

Parece, segundo o mesmo estudo, que descobriram o gene fundador de todos nós, proveniente de marcadores genéticos maternos do tempo dos Homo Sapiens Sapiens, 200 mil anos, e que regista um antepassado comum a todos os Homens, de uma tribo denominada Khoisan.

Devido às alterações climáticas, já nesse tempo, tiveram que iniciar deslocações, actualmente denominado de refugiados, buscando novas terras e uma nova vida.

"E esta hein?" Citando o queridíssimo Fernando Pessa.

Somos todos primos?

Parece que sim...

Ora isto fará de si, meu caro leitor, primo ou prima do Cristiano Ronaldo, assim como, de Donald Trump ou do Pablo Escobar, da belíssima Sara Sampaio ou de José Sócrates...

Credo!

Bem...

Assim fica, também, provado que nem tudo é mau mas nada é exactamente perfeito.

Nunca uma conversa em família teve tanta propriedade como após esta esplendorosa descoberta...

Afinal todas as conversas são em família.

Um bem haja.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

15.11.17

 

Em África, os Deuses devem estar loucos...

Contrariando a lógica das coisas, de ditaduras, de ditadores reformados ou mesmo daqueles que estando no poder, já se ausentaram da sua própria personagem.

Nem queria acreditar, quando fui surpreendido com as noticias que chegavam de Harare, Zimbabué, de que Robert Mugabe, ou simplesmente o ditador Mugabe, estava detido em casa, acompanhado pela sua Mulher.

Noticias destas não são normais naquele Continente, principalmente em Regimes cristalizados, entrelaçados há muito, por entre manobras de poder e corruptos costumes...

Mugabe tem sido recordado após estas noticias pelos vários papeis que desempenhou, a sua luta pela Independência, o seus estudos na África do Sul, a sua proximidade em determinado momento do papel de Nelson Mandela, "Madiba" que nos perdoe, a sua intervenção no período pós-Independência e o consequente apaziguar de um País, juntando todos, num caminho que parecia de uma reconciliação...

Vários papeis, várias e diferentes memórias.

Recuso-me a participar nesses momentos de glória de um assassino, um perpetrador de genocídios, pois apesar de não negar esta sua participação Histórica, anteriormente descrita, a sua actuação e comando nos trágicos acontecimentos que levaram ao roubo e assassinato de várias famílias Zimbabweanas, Brancas, às mãos das suas milícias armadas, assim como a perseguição a todos os que a ele se opuseram, se sobrepõe a qualquer papel heróico, que possa ter tido.

Esse é o único legado de Mugabe que me interessa recordar, escrever:

O de um genocida.

Apesar de poucas informações circularem, sobre este alegado golpe, entretanto negado pelos militares, tenho de compreender as reservas daqueles que avançando com a deposição de um déspota, que há mais de 37 anos controla e governa o País, tentando certamente assim, repôr a ordem e a democracia, sem alarmismos e sem que a anarquia tome lugar nas ruas.

Um acto de coragem, que deverá ser analisado, para percebermos se realmente mudará ou não o destino daquele País.

No mesmo dia, noutro ponto de África anunciou-se a exoneração de Isabel dos Santos da Sonangol, que juntamente com um movimento de libertação de vários outros sectores do Estado, da omnipresente Família dos Santos e seus correligionários, dá a entender uma substancial alteração no "Modus Operandi", de um dos países mais ricos do mundo.

Será que João Lourenço conseguirá surpreender, todos aqueles que o julgavam uma marioneta?

Nos quais me incluo...

Rafael Marques, pessoa por quem tenho estima e admiração, pela denuncia e luta constantes contra o Regime opressor de Eduardo dos Santos, veio dizer que estamos perante o maior opositor de José Eduardo dos Santos e do seu temível Regime...

Será?

Será possível, que este homem tenha conseguido enganar todos os que dentro da cúpula do MPLA, acreditavam na continuidade?

Num dia, duas noticias que trazem esperança para um Continente há muito flagelado por ditaduras e déspotas, gente medíocre, capaz de sequestrar através de brutais meios de repressão, Povos que sendo na teoria livres, vivem em muitos casos, como escravos...

Escravos de uma Independência, que apenas chegou para os seus algozes, aqueles que os governam.

Assim, volto a escrever, descobriremos se em África, os Deuses estão mesmo loucos.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

25.02.17

 

 

Uma jangada molhada, cheirando o medo que se apoderou de todos nós, daqueles desventurados que impelidos por essa vontade maior, não deixaram de acreditar.

Os olhares baixos, cerrados, apenas ouvindo o bater daquela ondulação, dessas ondas de esperança que amiúde chegam, levando com elas esse futuro que anseio encontrar.

Ao meu lado uma jovem mulher, com um lenço à volta da cintura, onde adormece aquele menino, seguro, nos braços de sua mãe...

A noite se apodera do nosso destino, os sons que se calaram no meio de tantas bocas, ali fechadas, cumprindo as ordens, daqueles rudes mercenários, que nos guiam perante a incógnita escondida, desta lotaria a que chamamos de vida.

O barulho do motor é o único ruído permitido, naquela imensidão ruidosa, compassadamente reunida por entre o silêncio de tantos medos, que insistem em ficar...

Deixei tanto para trás...

Tanta miséria, tamanha fome, desespero e lágrimas mas também o amor por minha mãe, banhada na intranquila saudade, que já sentia antes mesmo de eu partir, a voz emocionada do irmão que ensinei a caminhar, os amigos que escolheram a certeza de ficar, no mesmo lugar, na mesma violenta obrigação de ceder à vontade, de algo melhor.

- Calados! Ouvia se a voz daquele homem com os olhos encovados e o rosto marcado pelas cicatrizes, de uma vida de contrabando...

Luzes apareciam ao longe, distantes e ao mesmo tempo, cada vez mais perto, mais presentes, no desespero que se instalava...

Por incrível que pareça, só ali no meio daquele mar, pela primeira vez se apoderou de mim, este pensamento de que era possível algo correr mal...

Algo impedir o mirífico momento em que pisasse terra firme, neste sonho por cumprir, chamado:

Europa!

Um tiro e depois outro...

Um grito e depois muitos outros...

Um terramoto naquela noite sombria, que irrompia sem cantar as doces fábulas da minha eterna esperança.

Abanava a barcaça...

Abanavam a barcaça, qual casca de noz engolida por aquelas ondas que aparentavam ser maiores do que o céu estrelado que por cima de nós, silencioso, observava.

Pés pisavam o meu rosto, sensação de um desgosto que ainda não chegara, mãos que insistiam em me prender os movimentos, sacudindo essa mistura de sentimentos, gritando em mim, vozes sem fim, nesse salto que nunca quis dar...

E no meio desse salto, amarrado àquela barcaça de esperança, entre vozes e mar, cai naquela água gelada, naquele negrume refletindo a noite, na calmaria que outrora ali estivera.

Vozes cada vez mais silenciosas, ruídos cada vez menores, engolidos na imensidão daquele mar.

Misturava me com aquela água, que me envolvia, circundava, seduzindo-me numa espécie de abraço que me esmagava o coração, acelerado, desnorteado, desiludido...

Adormeci, deixei-me levar, desaparecendo nas profundezas solitárias, gélidas e salgadas, deixando enfim, que o destino tomasse conta deste seu filho...

Até que uma mão me agarrou, resgatou, nessa distância que parecia minha, só minha...

Ao respirar novamente, o mundo chegou até mim, acordou-me, despertou novamente os meus sentidos, a minha eterna gratidão.

Mas ao olhar em meu redor, apercebi-me, que no meio de tantos gritos, de tantas vozes, de tantos olhares, de tantas vidas, de tamanha esperança...

Apenas eu, sobrevivi!

E agora, aquela barcaça de esperança, era apenas eu...

O legado de tantas almas, com os sonhos perdidos nesse mar.

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

 

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