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Caneca de Letras

22.09.19

 

O 60 Minutos é um dos programas de televisão que mais gosto, aliás é mesmo uma das minhas maiores referências, programa que me habituei a assistir desde tenra idade, lá pelos tempos da minha adolescência.

No meio das incontáveis reportagens emitidas, muitas foram os Jornalistas que me marcaram, que me alargaram os horizontes, desnudaram ignorantes preconceitos ou esventraram equívocos entrelaçados ao desconhecimento.

Fecho os olhos e volto aos tempos do 11 de Setembro, ao conflito Israel-Palestiniano, ao Hezbollah, à Primavera Árabe, ao Partido Baas e aos desmandos da família Hussein, à queda da URSS e aos loucos tempos de Ieltsin, a Mónica Lewinsky ou a tantos outros instantes onde me desencontrava, por entre, a encontrada razão de tamanhas interrogações...

Mike Wallace, Bob Simon, Ed Bradley, Morley Safer, Dan Rather ou Leslie Stahl fizeram parte do meu imaginário nessa adolescência carregada de curiosidade, numa busca por um saber que não estava escrito nos livros de História do colégio.

Momentos que me prendiam à velhinha televisão, boquiaberto pelas diferentes realidades, desconhecidas formas de vislumbrar o mundo e os seus distantes recantos.

Steve Kroft era um desses repórteres, geniais repórteres, que vezes sem conta cobriu o mundo e com o seu trabalho fez chegar, a tantos que como eu esperavam aqueles minutos, rostos e palavras interligados a perguntas intermináveis.

Abriram janelas para o mundo, dando essas respostas que de outra forma dificilmente se encontrariam.

Steve despediu-se do 60 Minutos, entrevistado por Leslie Stahl, numa emotiva passagem por anos e imagens intemporais.

Steve despede-se no auge da sua carreira, no limite superior de um estatuto raro, conseguido através de décadas de reportagens, voando pelos céus deste mundo em busca da história perfeita.

Foi Steve Kroft que esteve em Chernobyl após o desastre Nuclear que se abateu sobre aquela região Soviética, o mesmo Steve que acompanhou Obama nas suas campanhas Presidenciais desde o momento em que este era “quase” anónimo, até ao momento da sua esperada reeleição...

Foi ele que entrevistou o casal Clinton quando este se confrontou com o primeiro escândalo sexual de Bill, ainda este era Governador do Arkansas.

Fosse na Palestina com Arafat ou na Rússia com Vladimir Putin, nas ruas da Colômbia entre os cartéis de droga ou à porta do Congresso Americano desmascarando a corrupção que, tantas vezes, grassava por aquelas insondáveis paredes.

Steve Kroft andou por todo o lado, buscando simplesmente o que tantas vezes falta nos dias que correm...

Buscando o “Jornalismo”.

Nesta despedida, corajosa forma de partir, uma imagem me ficou na cabeça...

Aquando da sua entrevista a Bob Dole, candidato Republicano que combatia Bill Clinton, este ao falar de seu pai desabou, por entre, lágrimas num momento de fragilidade inesperadamente desarmante.

Steve Kroft optou por desligar as câmaras dando tempo a que Dole se recompusesse, sem alaridos ou purpurinas.

Nesta entrevista, Steve Kroft expressou o seu respeito por esse momento, justificando a sua atitude no facto de ele considerar que o Jornalismo não necessita de usar momentos de emoção gratuita.

” O Jornalismo não necessita de usar momentos de emoção gratuita.”

Apelidarei esta frase com as palavras:

Qualidade, respeito, dignidade.

Nesta explicação fica plasmada a diferença entre “Jornalismo” e “Jornaleiros”, entre os Grandes que ficam na História e aqueles que querendo a essa “grandeza” passarão amarrados aos momentos fugazes de uma passageira fama.

Da minha parte...

Obrigado Steve Kroft!

Até sempre...

 

 

Filipe Vaz Correia

 

 

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